Em Junqueiro, material para Ensino Médio define gênero como “construção social”. Há reflexões a fazer…
Trarei aqui neste espaço uma reflexão sobre um livro da disciplina de Sociologia que vem sendo utilizado na cidade de Junqueiro, no interior do Estado. Antes de ir ao mérito, chamo a atenção para uma coisa: é importante frisar que a escola é um ambiente que deve fomentar o respeito e o amor ao ser humano sempre, pelo simples fato dele ser humano, independente de etnia, credo religioso, questão sexual, dentre outros fatores que expõe as diferença entre pessoas pelo simples fato de que não somos iguais, somos diferentes. Cada um é cada um, com suas experiências e circunstâncias.
Sendo assim, a “divisão” – ou segregação – de indivíduos por etnia, credo, concepção filosófica da vida ou questão sexual é algo abominável. Cabe a escola ajudar a combater esta discriminação em qualquer sentido. Isto é óbvio. Mas, uma coisa é fomentar – dentro de uma ambiente que deve ter como prioridade a promoção do saber e do conhecimento – o respeito às diferenças e que estas não são determinantes de caráter. Outra é esconder – por meio deste discurso – um ataque frontal a valores morais ou religiosos que fazem parte da tradição de um povo, das famílias (que é quem de fato educa neste sentido) para usar da temática de gênero para a construção de uma visão ideológica.
Quando se fala de “ideologia de gênero” – portanto – usa da má-fé quem faz questão de confundir os discursos e dizer que quem “discorda” é preconceituoso. Abordar a ideologia de gênero é se posicionar diante do conceito de afirma que “gênero é uma construção social”, como se meninos e meninas nascessem “neutros” e assumissem uma identidade sexual conforme as experiências em sociedade. E mais! Com base nisto, há livros por aí que ainda colocam que a “heteronormatividade” por si só é um berço de preconceito. Há ainda uma autora – Judith Bluter em seu livro Problemas de Gênero – que apresenta o incesto como sendo um “tabu” que favorece ao preconceito contra a homossexualidade. Ou seja: se você é um heterossexual e – por valores morais, crenças religiosas (ou os dois juntos) – enxerga o incesto como algo errado você é preconceituoso! Já pensou?
Eu não sou obrigado a concordar com isto. Digo abertamente que não concordo. Acho apenas lamentável que muitos xinguem antes de ouvir e não saibam debater o assunto civilizadamente.
É por estas e outras que debater as concepções que estão associadas à temática ideologia de gênero é sim direito de pais, mães e alunos. É por estas e outras que debater tal assunto nada tem a ver com preconceito. Preconceito tem quem segrega ou quem acha que por conta da mera orientação sexual uma pessoa pode ser considerada mais privilegiada ou menos privilegiada que a outra. Contra isto, aí sim nós devemos lutar, pois é preciso respeitar todos os seres humanos – repito! – pelo que eles são: humanos. É o que venho falando aqui todas as vezes que abordo o assunto.
Dito isto, fica claro que mais prioritário é debatermos a qualidade de ensino dentro das escolas. Buscarmos ter – com mais eficiência – o ensino de português, matemática, história, filosofia e demais disciplinas. Buscarmos ter noções de cidadania, direitos, deveres dentro de uma sociedade. Buscarmos ter uma Educação de qualidade que seja pautada por desenvolver um ser humano livre respeitando justamente a liberdade individual e – consequentemente – as diferenças. No mais, as questões de valores morais pertencem às famílias.
Portanto, o que trago aqui são trechos – de um livro do Ensino Médio – em que este conceito de que “gênero” é apresentado como uma “construção social”. Tal é apresentado aos alunos sem que sequer a família tenha participado de qualquer debate. Ou pior: tendo, em alguns casos, pais e mães cobrado a retirada deste tipo de conteúdo de dentro dos planos de educação. Tanto é assim que ele foi retirado no Plano Nacional de Educação, mas o Ministério da Educação ignorou isto e chancelou para o Ensino Médio um livro que traz o conteúdo.
Repito: retirar o conteúdo do livro não significa isentar a escola de discutir – dentro da faixa etária indicada – questões relativas à sexualidade humana. De forma alguma. Significa restringir a escola a discuti-la sem ideologização, promovendo sim o combate ao preconceito, a fornecer informações objetivas e científicas, ao invés de discursos que se sustentam apenas na cabeça de ideólogos – sem ciência alguma por base – e que esconde uma agenda de militância. Diria o mesmo se fosse o caso da imposição de alguma concepção religiosa, filosófica ou partidária. A escola não pode promover militância de qualquer espécie.
Vamos ao caso do livro que vem sendo utilizado em Junqueiro. Trata-se do capítulo de número 14 com o título “Gênero e Sexualidade”. Na página de número 336 – na Unidade 6 da obra – é possível encontrar os autores afirmando que “ao final deste capítulo, o estudante deve ser capaz de: compreender como a definição cultural e histórica de gênero e orientação sexual é construída socialmente; reconhecer as variações de gênero e de sexualidade em diferentes culturas e momentos históricos; identificar o caráter de gênero entre as desigualdades sociais existentes no mundo; relacionar a experiência subjetiva de identidade de gênero às lutas políticas a favor da diversidade e contra o preconceito e a discriminação”.
Vejam bem. Logo de cara, o aluno deve compreender que gênero é construção social. Ou seja: conceber o contrário já fará dele alguém que está errado em sala de aula? Além disto: a ligação entre a identidade de gênero e as lutas políticas significa dizer que quem não adere a esta ligação – feita de forma direta no livro – já é por si só um preconceituoso? Entendem que uma coisa é combater o preconceito e outra é criar tais concepções que estão muito mais associadas a determinadas lutas políticas sem que sequer o aluno tenha o direito de questionar o mérito de tal luta. Ora, contra o preconceito, todo cidadão deve ser! Se um dia alguém for discriminado ou alvo de violência por conta de sua etnia, credo, concepção filosófica ou orientação sexual eu serei o primeiro a defendê-lo.
Outra indagação que faço: se eu conceber que “gênero e orientação sexual são construídos socialmente” então estarei errado em afirmar que ninguém nasce homossexual ou heterossexual? Que ele se torna? Isto por si só afronta aos homossexuais que não entendem desta forma. São muitos os depoimentos neste sentido, inclusive quando se posicionaram – justamente por conta disto – contra os conceitos de “reorientação sexual” por aí existentes. E sinceramente, estes homossexuais merecem o respeito por isto, por entenderem a natureza de sua condição sexual. Por entenderem que não houve uma construção social, que assim eles o são. E isto nada interfere em seus valores assumidos. Pois defendem a própria liberdade individual de se posicionarem e agirem como bem entenderem dentro do direito de serem livres; e sem ofender a liberdade do outro.
O livro usado em Junqueiro prossegue e parte para o conceito de “luta de classes” ao colocar que diante da “desigualdades de condições entre homens, mulheres e transgêneros” é preciso se fazer justiça social “em um Brasil no qual persiste a cultura machista”. Há machismo no Brasil? Claro! Como há casos de racismo e preconceito contra homossexuais. Não podemos aceitar casos assim. Devem ser denunciados. Mas daí a afirmar que o país é machista em essência é um pouco demais. A presidente é uma mulher, caso não saibam. Ainda há desigualdade a serem corrigidas? Há! Mas cada vez mais temos mulheres ocupando espaços de destaque por mérito. Por mostrarem suas competências. Mulheres que dão lição de vida seja na literatura, na política, na música, nas artes de uma forma geral, enfim…
Obviamente, o machismo deve ser combatido, como a violência e a discriminação com quem quer que seja. Mas a utilização de determinados chavões para simplesmente promover luta ideológica também.
Outro trecho que chama a atenção na obra usada no Ensino Médio: “em uma sociedade, quanto mais restritos são os estereótipos de gênero, menor é a tolerância à diversidade e mais duras são as punições àqueles que não se encaixam no quadro das relações previstas pelo grupo”. Vamos lá, então devemos ter uma elasticidade em relação ao comportamento sexual até que ponto? O livro não diz. Diz apenas que “A determinação anatômica do sexo não define necessariamente um gênero”.
Há ainda ataques às concepções religiosas. “a religião justifica, assim, a função subordinada da mulher, reduzida a papéis sociais domésticos vinculados a sua capacidade reprodutiva natural”.
Bem, eu sou cristão. Minha esposa também. Temos uma filha. Minha esposa – graças a Deus – não é subordinada a mim. Ela é um ser livre e que não está reduzida a “papéis sociais domésticos vinculados a sua capacidade reprodutiva natural”. Longe disto, é uma mulher que conquistou seu espaço por mérito e se tornou uma profissional renomada no Estado de Alagoas. Juntos buscamos dar a melhor educação possível a nossa filha ensinando-a a respeitar a todos os seres humanos por – repito mais uma vez! – serem humanos.
Assim como a minha família, milhares e milhares de famílias cristãs possuem o mesmo formato. Repito: claro que há machismos por aí afora, mas não é a regra! Constrói-se um “espantalho” que alvo de um ataque frontal às concepções divergentes para depois sechegar à seguinte conclusão: “o desenvolvimento das ciências sociais contribuiu para estabelecer outro discurso sobre a diferença sexual e de gênero e os papéis sociais vinculados a ela, sem buscar justificativas na vontade divina ou na natureza biológica”.
Uau! As ciências sociais surgiram para nos salvar do inferno das religiões. Que democrático não? E o pior, sequer temos o direito de escolher se seremos salvos ou não. Temos que aceitar como conteúdo escolar entregue aos nossos filhos. Simples assim. Como cristão eu não posso me opor? Claro que eu posso! E digo mais: fazer isto não é ter preconceito contra ninguém, como querem fazer crer os “iluminados”. Fazer isto é querer ter os meus valores respeitados e não atacados dentro da escola com um espantalho.
Quero que a escola combata o preconceito. Quero que a escola promova o saber e a noção de que somos todos seres humanos iguais e merecem o mesmo respeito, a igualdade de oportunidades e o reconhecimento de seus méritos. Mas quero lutar por uma escola que respeito à concepção de valores que divergem destas postas pelos “iluminados” das “ciências sociais” que vão nos “salvar” das religiões.
Por fim, o livro ainda faz a velha falácia dos “números de homicídios”. Ora, vejam só este texto:
Escolha a “categoria/gênero/ etnia/ classe social” que quiser e complete: o Brasil tem o maior número de _______________ assassinados por ano.
Provavelmente será uma verdade. É que temos aproximadamente 60 mil homicídios por ano. Logo, esqueça a categoria/classe social/gênero/etnia/ e pense em completar a lacuna por seres humanos. Temos que lutar por um país onde não tenhamos altas taxas de homicídio e – consequentemente – lutar para que ninguém seja assassinado por conta da cor da pele, do comportamento sexual, do sexo biológico, e por aí vai…
Em resumo: mulher nenhuma pode ser vítima de discriminação, assim como pessoa alguma. Mas isto – na obra entregue aos alunos – é apenas o verniz em meio a uma série de conceitos que merecem, podem e devem ser discutidos. Afinal, é dever dos pais e mães analisarem cuidadosamente os livros didáticos de seus filhos, se posicionarem e questionarem sobre eles.
Afinal, quando o livro analisa o número de mulheres mortas ele mostra que entre 2000/2010 foram 43 mil. Um número assustador. Eu me revolto com ele. Mas veja bem, nos últimos anos estamos tendo uma média de 50 a 60 mil homicídios. Então, no Brasil muita gente – independente de qualquer coisa – tem perdido a vida. São números de guerras em tempo de paz que precisamos resolver urgentemente. Segregar não vai ajudar, com certeza.
Em Junqueiro, conversei com duas famílias. Ambas fizeram estes questionamentos. Uma mãe ressaltou: “eu tenho uma família religiosa, como pode a escola dizer que pelo fato de termos uma religião estamos promovendo uma visão de preconceito. Eu apenas não aceito que o gênero seja uma construção social. Isto não é ter nada contra ninguém. Cada um faz o que quer da vida. Respeito todas as formas de pensar e agir. É o próprio Cristo que ensina, amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”.
Uma aula diz que não aceitou determinados conceitos em sala de aula. “Por sorte, o nosso professor tem mostrado os dois lados. Foi assim em uma redação que fizemos que abordava esta questão de gênero”.
Vejam bem, estou aqui colocando reflexões que estão direcionadas ao Ensino Médio. Onde, teoricamente, os alunos já possuem uma maior maturidade para abordar o assunto. Agora, repito aquela questão que fiz aqui anteriormente quando falei sobre ideologia de gênero, que é o que consta no Plano Municipal de Educação de Maceió.
Lá está escrito assim: “Ofertar e incentivar na formação continuada, os temas transversais de forma interdisciplinar, dos/as profissionais da educação que atuam na alfabetização das crianças, com foco na diversidade sexual e de gênero, educação ambiental, educação em saúde, educação especial, diversidade etnicorracial e direito das crianças e dos adolescentes, à luz dos direitos humanos”. Está na página 105.
Pergunto: alfabetizar crianças com foco na “diversidade sexual e de gênero”. Como se dará isto? Os pais precisam saber, pois alfabetização é a tenra infância. Até aqui não recebi resposta.
Gostaria ainda de destacar um dos trechos do livro de Judith Bluter, que é citada no livro Sociologia em Movimento. Olha o que esta pensadora diz:
“Consequentemente, o tabu do incesto não só proíbe a união sexual entre membros da mesma linhagem de parentesco, mas envolve igualmente um tabu contra a homossexualidade”. Ou seja: é só um tabu. Se eu o tenho, estou fadado a ser um preconceituoso. Está na página 131 de sua obra Problemas de Gênero.
É por estas e outras que o assunto merece discussão e nada tem a ver com preconceito. Há homossexuais admiráveis ao longo da história e em nosso tempo. Assim como há heterossexuais deploráveis que merecem nosso desprezo. Mas admiração e o desprezo não se dão por esta questão. Mas sim pelos valores que eles defendem enquanto seres humanos.
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