RIO| DA CRACOLÂNDIA PARA O CORAL DA CRISTOLÂNDIA
Cerca de 200 ex-viciados formam o conjunto comandado pelo maestro Roberto Minczuk
Dependente de LSD e de todo tipo de psicotrópico desde jovem, Ailton da Silva Ferreira, de 52 anos, que já tinha chegado ao crack, considera-se recuperado há dois anos. Francis Almeida, de 36, que foi da maconha à cracolândia em uma década, também conta uma história de final feliz. Hideraldo Pussick Laval, de 34, entrou no vício há três anos, recém-chegado de Guiné-Bissau, e se diz “limpo” há 1 ano e 8 meses.
Os três fazem parte do Coral da Cristolândia, conjunto formado por 200 ex-viciados recolhidos na cracolândia, centro de São Paulo. Sob a batuta do maestro Roberto Minczuk, regente titular da Orquestra Sinfônica Brasileira, eles apresentam amanhã o Coral das Luzes na Praça Princesa Isabel, também no centro.
O programa de recuperação de viciados é uma iniciativa da Primeira Igreja Batista de São Paulo, cujo templo fica na própria praça, a menos de 500 metros da cracolândia. Livres das drogas, Ferreira e seus companheiros se dizem agora “viciados em Jesus”. Eles enchem os pulmões para cantar em altos brados versos como “Senhor, eu sou livre para te adorar”.
Muito agradecido à Igreja, que tem 3 milhões de cristãos no Brasil, Laval diz que, em seu tempo de cracolândia, a Prefeitura não fazia “nada de representativo para recuperar os viciados”. “Passavam expulsando a gente.”
O maestro Minczuk, que é evangélico, acredita que sua participação no concerto “é pequena, em comparação com o resgate de vidas que os voluntários vêm realizando”. “Sou paulistano, moro na Praça Roosevelt, no centro da cidade, e estou muito próximo da realidade dura dos viciados em crack.”
‘Radicais’. Soraya Machado, de 46 anos, coordenadora do projeto, explica que trabalha com um grupo de 14 “radicais”, como são chamados os jovens voluntários de todo o País que vão à cracolândia tentar recuperar viciados. “Primeiro, nós os atraímos para um café da manhã. O alimento é uma ferramenta importante”, diz ela, que estima em 300 o número de ex-viciados que hoje são fiéis da Igreja, 80% deles homens.
Entre o café, a recuperação em clínicas parceiras e reabilitação social dos ex-viciados, o pastor Paulo Eduardo Vieira, de 48 anos, presidente da Igreja, diz que já foi gasto R$ 1 milhão. Não há colaboração de órgãos públicos. “São só donativos de fiéis”, conta.
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