EBD | Lição Jovem – Lição 2 – Como os Pentecostais Interpretam a Bíblia

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Introdução
I-Por que Ler e Interpretar a Bíblia Corretamente
II-Como o Pentecostal Lê a Bíblia
III-O Livro de Atos – Descritivo ou Prescritivo
Conclusão

Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Compreender a importância de ler e interpretar a Bíblia corretamente;
Mostrar a forma como o pentecostal lê a Bíblia;
Conscientizar de que o livro de Atos tem caráter descritivo e prescritivo.

Palavra-chave: Pentecostes.

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor Alexandre Coelho:

Introdução
Qualquer cristão que leve a sério a vida com Deus precisa dedicar-se à leitura da Bíblia. Além dessa leitura, é preciso haver também o desejo de conhecer com mais profundidade a mensagem da Palavra, e esse conhecimento passa pelo ato da interpretação das Escrituras. A leitura superficial do texto sacro, ou seja, a leitura feita apenas para passar o tempo, sem um comprometimento maior da busca de um aprofundamento com vista a aplicar o texto em sua vida, não é considerada um ato de interpretar o texto, pois este exercício exige uma série de procedimentos por parte do leitor.

A interpretação das Escrituras objetiva não apenas o entendimento correto do texto, mas também o ensino e a aplicação desse mesmo texto. Acreditamos que Deus revelou a si mesmo e à sua vontade com um propósito bem definido: para que andássemos com Ele e refletíssemos a sua glória neste mundo por meio da forma como vivemos, e a forma como vivemos passa pelo entendimento e interpretação da Palavra de Deus.

Nesse mesmo pensamento, é estranha a ideia de interpretar o texto sem que se tenha o objetivo de aplicá-lo no dia a dia. A leitura puramente acadêmica não é danosa, e muitos acadêmicos e conhecedores das línguas originais tem doado seu conhecimento com o objetivo de facilitar o entendimento do texto sagrado. O objetivo das Escrituras, contudo, é conduzir o homem no caminho que o aproxima de Deus.

Como a interpretação do texto sagrado vai além da leitura simples e descomprometida, é preciso que aquele que deseja alcançar um conhecimento mais amplo dessa mensagem dedique-se a observar princípios que aprofundam e contemplam a mensagem como um todo. E essa responsabilidade de ler e de interpretar o texto é de fundamental importância, pois a interpretação correta das Escrituras conduz o cristão à aplicação correta desse mesmo texto, ao passo que a interpretação incorreta do mesmo texto conduzirá o cristão a uma prática incorreta daquilo que Deus determinou.

Entre os pentecostais, há essa preocupação de fazer com que a leitura do texto seja relevante não apenas para o conhecimento, mas igualmente para a aplicação. A Bíblia, segundo entendemos, deve ser a regra de fé e prática do crente, e esse entendimento deve nortear o ensino e a pregação da Palavra.

De que forma, então, os pentecostais leem e interpretam a Bíblia? E mais especificamente ainda: como interpretam os textos relacionados à atuação do Espírito Santo no Corpo de Cristo? Há alguma garantia de que a interpretação dos pentecostais no tocante à contemporaneidade dos dons é correta? E, se for correta, de que forma os dons devem ser administrados no culto? A doutrina pentecostal deve ser ensinada e incentivada como fruto de um mandamento de Deus ou de uma interpretação questionável?

A Bíblia  para o pentecostal

Crentes pentecostais entendem que a Bíblia é a revelação de Deus ao homem. Ela não contém a Palavra de Deus; ela é a Palavra de Deus. Se dissermos que a Bíblia contém a Palavra de Deus, estaremos dizendo que ela contém mais do que aquilo que Deus revelou de si mesmo por meio dos escritores, ou seja, algo que não é a Palavra do próprio Deus. Esse pensamento, o de que a Bíblia contém a Palavra de Deus, tem sido corrente entre estudiosos  que acreditam que devem analisar o texto sagrado como se fosse uma literatura comum, livre da ótica da inspiração. A questão é que não se pode esquecer o que Deus fala sobre sua Palavra.

Por que ler e interpretar a Bíblia corretamente
Começando com a Hermenêutica

Quando se fala de leitura e interpretação da Bíblia, é interessante voltar ao passado e ter uma noção de como os antigos interpretavam os textos sagrados. As regras de interpretação, que foram desenvolvidas ao longo dos séculos, precisam ser relembradas para que entendamos que a leitura e a aplicação da Palavra de Deus não são um assunto recente.

A palavra hermenêutica é oriunda da língua grega. Hermes, um dos deuses do Olimpo, era responsável, como se entende, por comunicar aos homens as mensagens das divindades olimpianas. Para tal, era necessário conhecer não somente a língua dos deuses, mas também a língua dos homens, tornando a comunicação viável. Não adianta haver um emissor e não ter um receptor; é preciso também uma mensagem que possa ser codificada e entendida por signos que sejam compreendidos pelos destinatários.

Aqui, entraria o papel de Hermes. Sua função, além de ser patrono do sono, do comércio e dos ladrões, era também ser um comunicador que efetivamente pudesse fazer entendida a vontade dos deuses na língua dos humanos. O verbo hermeneuein pode ser entendido como interpretar ou traduzir.

Além dos antigos, os reformadores também deram sua contribuição para o desenvolvimento da interpretação das Escrituras.

Ler corretamente para Entender corretamente

Não pode ser novidade para cristãos pentecostais o fato de que a interpretação das Escrituras deve levar-nos à vida cristã sadia. Mais que um exercício meramente intelectual, a prática da hermenêutica precisa conduzir-nos à pratica de vida, a uma experiência diária com o Altíssimo. Ainda que o ambiente em que a Bíblia foi produzida originalmente seja distinto do nosso, a intenção do Eterno era que sua mensagem fosse entendida em todos os tempos e por todos os povos. O que foi escrito pode e deve ser entendido por qualquer pessoa, e este é um pressuposto da Reforma Protestante: o livre exame das Escrituras é para todos os cristãos.

O livre exame das Escrituras deve ser entendido sob o prisma de que a Palavra de Deus pode ser lida e entendida por qualquer pessoa, seja em sua língua materna ou em qualquer outro idioma. Diferentemente do que ensinava o Romanismo na época de Lutero, todo cristão deveria ter um exemplar das Escrituras em casa e lê-las continuamente. À época, não era comum que aqueles que professassem a fé cristã tivessem acesso a exemplares da Palavra de Deus, e, com a Reforma Protestante, buscou-se que cada cristão tivesse acesso às Escrituras.

Tal postura foi duramente condenada pelos romanistas, que não viram com bons olhos os cristãos comuns que liam por si mesmos a Bíblia e tentavam apropriar-se das verdades sagradas para aplicá-las em suas vidas. Contra o argumento do livre exame, vemos que:

Foi Lutero quem, revoltando-se contra o Papa, levantou o princípio do livre exame da Bíblia, afirmando que toda pessoa é livre de interpretar a Escritura como lhe parecer. Daí a multiplicação de seitas protestantes, cada uma dela arvorando-se como verdadeira igreja. O que leva qualquer pessoa, de qualquer lugar, a se arvorar como infalível intérprete da palavra de Deus? Tem pessoas que por exemplo, é batista, e diz acreditar na divindade de Cristo. Os Testemunhas de Jeová, baseados na mesma Escritura, fundados no mesmo princípio de livre interpretação da Bíblia, concluem que Cristo não é Deus. Quem estaria certo? Qual das mais de mil seitas – há quem diga que já são cinquenta mil – estaria com a verdadeira interpretação da Bíblia? O protestantismo é uma nova Torre de Babel, na qual cada um se proclama infalível. (Extraído de https://afeexplicada.wordpress.com/2012/11/11/o-livre-exame-das-escrituras/)

Distante da opinião acima, que alega ser a variedade de grupos cristãos uma consequência do livre exame das Escrituras, está claro de que à época em que a Reforma Protestante eclodiu, o catolicismo arvorava ser o detentor da correta interpretação da Bíblia. Com a Reforma, essa ideia mudou. Além disso, a correta interpretação das Escrituras não necessariamente cria centenas de grupos cristãos no mundo. Diversos grupos reúnem-se com base não apenas na interpretação das Escrituras, mas também numa série de afinidades que variam da etnia a práticas e costumes diferentes, de acordo com suas convicções.

Era necessário que esses cristãos da Reforma entendessem que ler a Bíblia exigia princípios de interpretação, não para impedir que a leitura atingisse seu ápice, mas, sim, para que se obtivesse com certeza o que o escritor original estava comunicando. A teologia elaborou princípios que, de forma acertada, direcionam o modo como um cristão deve ler a Bíblia. E por qual motivo isso foi feito? Para que, em sua leitura, todo cristão levasse em conta os princípios que lhe permitirão aplicar a leitura do texto às suas vidas. O desafio de ser um praticante da Palavra de Deus passa, portanto, pela interpretação correta.

Esses princípios não necessariamente nasceram na Reforma. Diversos deles já eram utilizados pelos pais da Igreja e outros grupos de expositores. Eles valem não apenas para a leitura, mas também para a aplicação do texto.

Introdutoriamente, ao falarmos de aplicação, não temos dúvida de que certos textos têm uma aplicabilidade imediata, no sentido de que não há necessidade de muitas explicações para que a mensagem seja imediatamente compreendida, pois o conteúdo trazido aponta elementos que são conhecidos de praticamente todas as pessoas, como, por exemplo, “Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.14-16). Outros textos, como, por exemplo, o que se refere a Melquisedeque em comparação ao Senhor Jesus, “rei de justiça e depois também rei de Salém, que é rei de paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida” (Hb 7.2,3), precisam de uma explicação, ou entenderemos que Melquisedeque surgiu do nada, que não teve pai ou mãe. Na verdade, a genealogia de Melquisedeque não é apresentada no texto sagrado, mas ele, assim como qualquer ser humano, tinha pai e mãe.

Como dissemos, o entendimento correto de um texto passa pela leitura correta do mesmo texto. Tais princípios não têm por objetivo cercear a leitura da Palavra de Deus, e sim fazer com que essa leitura enquadre-se dentro do objetivo que o escritor tinha quando foi inspirado a materializar a revelação de Deus de forma escrita.

Ler corretamente para Ensinar e Aplicar

Um dos propósitos da leitura correta das Escrituras é o seu ensino correto. Se a leitura e a interpretação do texto sacro forem dirigidas por premissas equivocadas, tais premissas acarretarão num ensino equivocado. Um ensino equivocado, por sua vez, traz práticas equivocadas e danosas para a Igreja de Cristo.

Ensinar é um ministério que exige dos mestres uma dedicação aos estudos. Em todas as faixas etárias e grupos étnicos e sociais, somos desafiados a ensinar as verdades de Deus de maneira que sejam extraídas da leitura e da interpretação correta da Bíblia.

Não é à toa que, ao longo do texto sagrado, Deus encarrega-se de usar seus servos para que estes exortem e ensinem o seu povo a praticar obras corretas e viver uma existência que efetivamente agrada a Ele. Cremos que, quando o Senhor inspirou os escritores a redigir o texto sagrado, Ele assim o fez para que a sua vontade fosse entendida e praticada.

O Senhor Deus deseja que sejamos praticantes de sua Palavra, mas, para que a pratiquemos de forma correta, precisamos interpretá-la corretamente. E a função do texto bíblico para nós, cristãos do século XXI, é comunicar uma ideia, um fato, uma verdade ou um mandamento da parte de Deus.

Hermenêutica e Aplicação

Descobrir o sentido do texto é um exercício que exige muito do intérprete. Há, porém, outro desafio tão importante quanto a descoberta do sentido do texto: a aplicação desse mesmo texto. Saber o significado de uma parte das Escrituras necessariamente implica buscar a aplicação dessa mesma parte a leitores e ouvintes. São duas partes do mesmo desafio, e uma tarefa complementa a outra.

Como leitores das Sagradas Escrituras, de que forma devemos ver a hermenêutica e suas regras? De forma bastante positiva. É preciso entender que os textos das Escrituras não surgiram do nada, sem um contexto, e nem os princípios da hermenêutica surgiram do nada. A mesma hermenêutica que proporciona os princípios de interpretação também nos ajuda a pensar na aplicação.

Se entendermos que tudo o que foi escrito assim o foi para que aprendamos e tenhamos esperança (Rm 15.4), podemos também crer que o propósito de Deus é que tenhamos o hábito de praticar o que Ele deu a cada um por meio da sua revelação escrita.

Como exemplo, no Antigo Testamento, a obediência à Lei de Deus traria prosperidade e saúde ao povo de Israel (Dt 30.11-20). A fé naquilo que Deus disse deveria ser o marco para crer no que Ele queria que o povo fizesse; todavia, com o passar do tempo, o povo de Deus esqueceu-se dessa orientação.

Por que motivo Israel deveria reler a Lei de Deus a mulheres, filhos e estrangeiros a cada sete anos? Para que eles aplicassem às suas vidas o que o Senhor havia decretado: “fazer todas as palavras desta lei”. A aplicação é, sim, de extrema importância.

Toda a Escritura é inspirada e necessária para as nossas vidas. Não há uma Escritura mais inspirada que outra. Esse pensamento pode parecer bastante radical, mas representa uma verdade: Não podemos tratar o texto bíblico da forma como queremos, nem mesmo sob uma tradição que careça de fundamentos bíblicos.

É evidente que há partes no texto sagrado que, talvez, não possuam uma aplicação imediata para o leitor moderno. Um exemplo disso é o das genealogias, que são importantes nos registros sagrados. Como cristãos ocidentais, tendemos a ver pouca aplicação às nossas vidas quando lemos um conjunto de nomes de pessoas desconhecidas, a não ser que façamos um estudo mais profundo dos nomes ali mencionados, de suas tribos, funções e de que forma possivelmente teriam se destacado nas Escrituras.

O Tempo e a Interpretação

Antes que pudéssemos crer em Deus hoje, Ele já se havia manifestado há séculos. O Senhor trabalhou antes de nós existirmos e usou milhões de servos seus antes mesmo que pudéssemos ser usados por Ele. O tempo pode até correr para nós, mas não para Deus. É nesse aspecto que precisamos entender que é necessário vencer a distância entre o tempo em que os textos das Escrituras foram escritos e o tempo em que vivemos.

Não nos parece que Moisés, homem de Deus, passou 40 anos escrevendo ininterruptamente o Pentateuco. Ele precisou guiar o povo pelo deserto, recebeu a Lei de Deus, fazia julgamentos e recebia as orientações divinas. Com todas essas atividades, não passou o tempo todo escrevendo. Os demais textos bíblicos não foram escritos todos os dias e na mesma época. Houve um hiato entre os escritores e entre seus textos. Daniel levou anos para escrever sua profecia, porque foi ao longo dos anos que Deus revelou ao profeta as coisas que haviam de ocorrer. Davi não produziu seus salmos numa mesma época.

Há também uma distância entre os escritos e os escritores do Antigo Testamento e os do Novo. Acredita-se que, entre o último profeta canônico do Antigo Testamento e o primeiro livro do Novo Testamento, há uma distância de 400 anos sem uma revelação escrita da parte de Deus.

*Adquira o livro. COELHO, Alexandre. O Vento Sopra Onde Quer: O Ensino Bíblico do Espírito Santo e sua Operação na Vida da Igreja. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

Que Deus o(a) abençoe.

Telma Bueno
Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens

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Lidiane Santos

Correspondente pela sede desde 2013. Formada em serviço social e especialista em gestão pública municipal. Professora da Escola Bíblica Dominical.