EBD | Classe Jovem :: Lição 5 – A Cura do Paralítico de Betesda

3º Trimestre de 2018

 

Introdução

I – Um Local de Sofrimento

II – A Cura do Paralítico

III – A Controvérsia por Causa do Sábado

Conclusão

 

Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:

Descrever o local onde ficava o Tanque de Betesda;

Narrar como se deu o milagre da cura do paralítico;

Examinar a questão do sábado para os judeus.

 

Palavras-chave: Milagre.

 

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor César Moisés Carvalho:

 

Apesar de os próximos cinco milagres do Quarto Evangelho não serem mencionados como “sinais”, não há dúvida de que eles são assim contados por João, pois, ao final da primeira conclusão do seu texto, o apóstolo do amor enumera-os dessa forma (Jo 20.30,31). Como não poderia deixar de ser, como parte constituinte do Evangelho, os sinais realizados por Jesus evidenciavam cada vez mais que o Senhor era mais do que um profeta; daí o porquê de suas ações e seus discursos ter a radicalidade transformacional que apenas Deus poderia ostentar (Jo 5.16-47; 6.22-71). Além do aspecto já ressaltado no capítulo anterior acerca da movimentação ministerial de Jesus que parte da Galileia, seguindo o território judeu, passando pelos samaritanos e chegando ao oficial do rei ― possivelmente pagão ―, há igualmente um movimento de substituição das instituições e práticas do judaísmo. Tal propósito fica claro desde a realização do primeiro sinal quando as talhas reservadas à purificação dos judeus acabam sendo utilizadas para a transformação da água em vinho e a purificação do Templo, bem como a desconstrução da ideia de que o ser judeu basta para entrar no Reino de Deus ou que exista um local sagrado de adoração (Jo 2―3). O sinal, objeto de comentário do presente capítulo (Jo 5.1-15), inscreve-se neste propósito marcando o início do conflito público do Senhor com os judeus, pois Ele não apenas cura um homem, mas igualmente o torna livre das amarras religiosas que o aprisionava. Não obstante, tais questões que dão o tom da análise do terceiro sinal elencado por João, assim como já foi mencionado no capítulo anterior, existem igualmente neste texto algumas dificuldades bíblicas que desafiam qualquer simplificação generalista que possa ser feita.

 

Uma vez mais, o Quarto Evangelho mostra Jesus retornando a Jerusalém em um momento oportuno, pois havia uma “festa” (Jo 5.1). Mesmo que seja um costume de João especificar “os dias santos do judaísmo”, tendo sempre o objetivo de mostrar aos judeus que não são tais dias o mais importante, a festa não está especificada nesta ocasião. A menção pode, talvez, querer ressaltar a preferência do Senhor por outro local, visando demonstrar que Ele não se dirige ao ambiente da festa, possivelmente religiosa e, portanto, no Templo, mas procura um lugar frequentadíssimo por pessoas enfermas (v. 3). Se diante de um único doente qualquer um fica constrangido por nada poder fazer, como reagir onde se encontra uma “grande multidão de enfermos”? O local, especificado por João como sendo onde havia um tanque chamado Betesda, ficava em Jerusalém, próximo à “Porta das Ovelhas” e nele há cinco “alpendres” ou pavilhões (v. 2). Benny Aker descreve o tanque de Betesda dizendo que ele localizava-se próximo da “esquina nordeste do templo, onde as ovelhas eram trazidas para sacrifício (‘a Porta das Ovelhas’)” e que tal “tanque (hoje escavado) era cercado por colunas nos quatro lados, com uma partição no meio ― portanto, eram cinco colunatas cobertas”1.  A fim de explicar a enorme quantidade de pessoas que se reuniam ali, o mesmo autor esclarece que a “adição mais recente (vv. 3b,4) tenta explicar a narrativa simples: Um anjo desce para agitar as águas, e o primeiro a entrar nelas é curado”2.  Por sua vez, Bruno Maggioni diz que a “descrição dos enfermos e da água milagrosa nos remete à devoção popular dirigida aos deuses salvadores, muito difundida no paganismo”, isto é, locais “desse tipo abundavam no mundo antigo, em qualquer lugar”3.  É por isso que, presumivelmente, “traços dessa devoção tenham penetrado no judaísmo daquele tempo, sendo de alguma maneira tolerados”, ou seja, a “piscina probática era provavelmente um desses santuários”. Justamente se opondo a “tal devoção popular, Jo proclama que Jesus é o verdadeiro salvador, aquele que cura de verdade”, pois a “salvação se encontra só nele”4.  Joachim Jeremias, por sua vez, oferecendo um retrato da situação social de Jerusalém, informa que tal “piscina foi lugar sempre freqüentado para pedir graças e curas (provam-no suficientemente os objetos doados, encontrados durante escavações; mesmo após 70 era tida como curativa)” e acrescenta que “os enfermos tinham, pois, [aí] inúmeras ocasiões para mendigar”5.

 

Após a descrição do local, o apóstolo do amor destaca que “estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo” (v. 5). A tradução desse texto por Juan Barreto e Juan Mateos ― “Havia um homem ali que estava há trinta e oito anos com sua enfermidade”6  ― sugere, pela “expressão ‘em sua enfermidade’ (em vez de simplesmente ‘enfermo’) […] que ele é, de alguma maneira, responsável por ela”7.  A despeito disso, Jesus dirigi-se ao enfermo, pois sabia que o homem “estava neste estado havia muito tempo” (v. 6). Tal informação explica o porquê de o Senhor ter “escolhido”, dentre a multidão, aquele homem específico. Falando do local em apreço, bem como se deu a abordagem de Jesus em relação a este homem, o já citado Joachim Jeremias diz que é possível “considerar como mendigos, os enfermos, os cegos, os coxos e paralíticos presentes à piscina de Bezata (Jo 5,2-3)”; e ele acrescenta que, “segundo relato análogo em At 3,2-8 (cf. Jo 9,1-7), é fácil supor que a troca de palavras entre Jesus e o enfermo (Jo 5,6), deu-se quando esse último lhe pediu esmola”8.  O fato é que, independentemente de como aconteceu o encontro, Jesus dirigiu-se àquele local definido com o propósito de ajudar, pois não se tratava de um lugar agradável, mas de dor, tristeza, angústia e, como bem observa Jeremias, de mendicância. O que alguém, cujo perfil não era o mesmo das pessoas que frequentavam o lugar, teria para fazer ali? Tal disposição evidencia o ministério do Senhor Jesus Cristo e o quanto Ele é sensível às necessidades humanas. O estudioso não pode esquecer que João registra que havia uma festa, e com tal “especificação”, diz Alberto Maggi, “de que a festa é ‘dos judeus’, o evangelista pretende sublinhar que é festa unicamente para os chefes, e não para o povo”9.  Seria por isso que Jesus não fora à festa? Uma vez que toda “festividade religiosa é ocasião de conflito entre Jesus e as autoridades religiosas (Jo 2,13-20), e emerge a incompatibilidade entre o Filho de Deus, que age animado pelo amor do Pai, e os chefes que governam mediante a imposição da lei de Moisés”10, será que dessa vez aconteceria de maneira diferente? A atitude do Mestre, de pronto, contrasta-se com a dos chefes religiosos de Israel que, diz Maggi, “festejam as glórias do passado e ignoram os dramas do presente”11.  Para o mesmo autor, tal insensibilidade com a dor das pessoas dá-se pelo fato de que as autoridades religiosas são, de certa forma, causadoras de tal dor, ou seja, a “casta sacerdotal está interessada apenas no respeito por sua doutrina, que impõe como única e imutável expressão da vontade divina, e sobre a qual se fundamentam seu magistério e seu poder”12.

 

Na verdade, diz José Antonio Pagola, Jesus não se preocupava “apenas com o mal físico dos enfermos, mas também com sua situação de impotência e humilhação por causa da enfermidade”13.  Justamente por isso, “os enfermos encontram nele algo que os médicos não asseguravam com seus remédios: uma relação nova com Deus que os ajuda a viver com outra dignidade e confiança diante dele”14.  Considerando que, como foi dito por Aker, a saúde no primeiro século dizia respeito à situação holística do ser humano — ou seja, ela era considerada não apenas do ponto de vista físico, mas igualmente em sua dimensão espiritual —, a atuação do Mestre era sem precedentes, pois restaurava o enfermo de maneira integral. Aliado a esse conhecimento, o estudioso não pode perder de vista a questão importante que já foi frisada em capítulos anteriores, que é o fato de que, para Jesus, “as curas não são feitos isolados, mas fazem parte de sua proclamação do reino de Deus”, ou seja, trata-se de “sua maneira de anunciar a todos esta grande notícia: Deus está chegando, e os mais desgraçados já podem experimentar seu amor compassivo”, e, completa Pagola, as “curas surpreendentes são sinal humilde, mas real, de um mundo novo: o mundo que Deus quer para todos”15.  Assim, quando o Senhor ordena que o homem se levante, tome sua cama e ande (v. 8), trata-se de uma palavra que cura completamente. Não se trata, como o próprio termo “são” analisado anteriormente demonstra, apenas do restabelecimento da saúde física, mas diz respeito igualmente à restituição da autoestima do enfermo. Coisa que, considerando o caso daquele homem que se encontrava naquela situação há trinta e oito anos, faz toda a diferença. Há mais a observar ainda. Alberto Maggi faz a pergunta que revela que ainda há mais a explorar: “Por qual razão esse homem, que há trinta e oito anos estava constrangido naquele leito, agora deve recolher, em vez de desembaraçar-se dele para sempre, como exigiria a lógica?”16.  Na opinião do mesmo autor, tal ordem só pode ser entendida à luz da observação joanina presente na parte b do versículo nove — “Logo, aquele homem ficou são, e tomou a sua cama, e partiu. E aquele dia era sábado” —, ou seja, “Jesus condicionou o caminhar ao tomar o leito porque ‘aquele dia era um sábado’ e era proibido carregar qualquer peso (‘Se tendes consideração para com a vossa vida, guardai-vos de transportar qualquer peso em dia de sábado’, Jr 17,21)”17.  O referido autor defende que, para as “autoridades religiosas, a observância do sábado era uma forma de controlar o povo e a prova de sua submissão”18.  Uma vez que tal mandamento era considerado o “mais importante, cuja observância garantia a obediência de todos os mandamentos, a transgressão do descanso do sábado significava a violação de toda a Lei”, justamente por isso “previa-se a pena de morte (Êx 31,14-15)”. Mas o que acontece ao homem que “transgride” tal mandamento? “Um raio o reduz a cinzas?”, pergunta Maggi, e ele mesmo responde: “Não, ao invés de uma maldição, da transgressão da Lei vem para ele uma benção: o homem ‘se tornou são e, tendo tomado o seu leito, caminhava’ (Jo 5,9)”.

 

Apesar de as autoridades religiosas ficarem exasperadas pelo fato de o homem estar carregando o seu leito — “É sábado, não te é lícito levar a cama” (v. 10b) —, Klaus Berger defende que as “curas realizadas no sábado, proporcionalmente numerosas se comparadas com outros relatos de cura, pressupõem uma concepção particular do sábado”19.  É possível assegurar “que o sábado era um dia apropriado à realização de milagres, uma vez que as pessoas costumavam reunir-se neste dia”; por isso mesmo, “Jesus e também os apóstolos podiam mostrar que sua doutrina não consistia apenas de palavras, mas também de atos cheios de poder”. Portanto, para Berger, há “uma ligação entre o sábado e as curas”20.  Tal ligação “tem sua razão de ser no fato de que também no Antigo Testamento se considera o sábado como o dia da libertação”, pois, por ocasião dele, “as escravas e os escravos de Israel devem ter liberdade, pois Israel foi libertado do Egito, e a cada ano sabático os escravos devem ser soltos”21.  Numa palavra, aquele que “liberta as pessoas no sábado realiza um objetivo extremamente original deste dia: proclamar a libertação às pessoas em nome de Deus”22.  Assim, a conclusão de Berger é que, “ao libertar no sábado, Jesus não liberta do mandamento do sábado, e sim do jugo das doenças e do sofrimento”23.  Mesmo porque, como todos os demais preceitos da Lei, o do sábado tinha um objetivo definido (Êx 20.8-11). O quarto mandamento do Decálogo visava preservar a saúde e a integridade da pessoa, coibindo a exploração e o abuso da força de trabalho tanto por parte do próprio indivíduo quanto por parte do patrão. Aliado a isso, Deus também consagrou esse dia como um período especial de adoração a Ele. Tomando o exemplo do próprio Criador que realizou a obra da criação em seis dias e, no sétimo, “descansou” (Gn 2.2,3), o mandamento da guarda do sábado tinha o claro propósito de preservar a liberdade intrínseca do ser humano. A prova de que o sábado não era um “dia” específico e sim um princípio pode ser visto em textos como os de Levítico, por exemplo, quando Deus orientou aos israelitas que semeassem e colhessem durante seis anos, mas, no sétimo, a terra obrigatoriamente deveria ter um “sábado de descanso” (25.2-5). Portanto, ao repreender o agora ex-paralítico, os judeus “não estão interessados no bem do homem”, observa corretamente Maggi, pois a eles não “importa se é enfermo ou se está são: importa somente o respeito pela Lei, sobre a qual se fundamentam o seu regime”24.  Entenda-se, porém, que não se trata de respeito pela Lei, mas de um determinado uso de tal preceito da “Lei que, usada, controlada, manipulada pela hierarquia, não tolera o mínimo sinal de liberdade por parte do homem, que não é o dono das suas ações, mas deve sempre ater-se àquilo que lhe é ordenado”. A diferença de perspectiva e, consequentemente, dos resultados entre Jesus e os burocratas da religião é nítida, pois, enquanto a “acolhida da palavra de Jesus torna o indivíduo capaz de caminhar com as próprias pernas”, diz Maggi, a “obediência às autoridades mantém o homem na enfermidade”25.

 

*Adquira o livro do trimestre de autoria de CARVALHO, César Moisés. Milagres de Jesus: A Fé Realizando o Impossível. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

 

Que Deus o(a) abençoe.

 

Telma Bueno

Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens