EBD | Classe Jovem – Lição 5 – A Contemporaneidade dos Dons Espirituais
Fonte: Portal da Escola Dominical
Introdução
I-A Atualidade dos Dons Espirituais
II-Os dos Espirituais em Corinto
III-Cessacionismo e Continuísmo
Conclusão
Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Refletir a respeito da utilidade dos dons espirituais;
Explicar os dons espirituais a partir de 1 Coríntios;
Discutir o cessacionismo e o continuísmo.
Palavra-chave: Pentecostes.
Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor Alexandre Coelho:
Introdução
No último século, a história cristã registrou em diversas igrejas a ocorrência de manifestações espirituais semelhantes às relatadas por Lucas e pelo apóstolo Paulo em Atos e em 1 Coríntios 12 respectivamente. Muitos cristãos foram usados por dotações do Espírito Santo, os dons espirituais, e milhares de igrejas experimentaram um mover de Deus sem precedentes. Seriam essas manifestações espirituais realmente vindas de Deus? E, se sim, com qual propósito? Seriam para os nossos dias, ou estariam elas restritas aos tempos bíblicos e, portanto, inoperantes ou inexistentes para nós hoje? Estudaremos agora sobre a contemporaneidade dos dons do Espírito Santo, uma das marcas mais importantes do pentecostalismo.
I – A UTILIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS
O Contexto dos Dons em 1 Coríntios
Em que pese o fato de Lucas registrar, por inspiração do Espírito Santo, o falar em línguas, as profecias, as revelações, a operação de milagres e as curas em Atos, é na primeira carta de Paulo aos Coríntios que se menciona um conjunto de dotações do Espírito de Deus (os dons espirituais) a pessoas da igreja local. O registro dos dons espirituais é um dos diversos assuntos da carta e mostra-nos que, após o Pentecostes, o Espírito Santo não apenas continuou a batizar pessoas, como também deu à Igreja dons, presentes e manifestações do Espírito em pessoas da congregação. Paulo escreve esses assuntos para que eles saibam como lidar com essas manifestações tanto na igreja quanto fora dela, deixando claro que não quer que os coríntios sejam ignorantes e desconheçam a existência, bem como a forma correta de esses dons serem tratados (1 Co 12.1)
A Edificação da Igreja por Meio dos Dons
Paulo deixa claro que “a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil” (1 Co 12.7). Tem-se em mente que os dons espirituais trazem edificação à Igreja. Não raro, críticos da doutrina pentecostal alegam que a igreja mais pentecostal do Novo Testamento era também a mais bagunçada e confusa, como se os dons espirituais fossem os responsáveis pelos problemas daquela igreja. Se analisarmos o contexto da primeira carta de Paulo aos Coríntios, veremos que o apóstolo tratou do comportamento daqueles cristãos antes mesmo de tratar dos dons espirituais. Havia entre eles, por exemplo, divisões entre grupos de obreiros, pessoas abastadas desprezando as mais simples, um homem tendo relações sexuais com a mulher do próprio pai e crentes processando judicialmente outros crentes. A primeira carta de Paulo aos Coríntios é um retrato de uma igreja que estava começando e que precisava de educação e disciplina no processo de crescimento. Dentro desse mesmo contexto, no entanto, Paulo não diz que os problemas naquela igreja eram atribuídos aos dons espirituais.
Aos divisionistas da igreja, que se baseavam em líderes, Paulo deixa claro que os líderes escolhidos por eles eram homens que foram usados por Deus e que Ele é quem dava o crescimento à sua obra. Aos prósperos arrogantes que comiam a Ceia antes da hora, Paulo diz que eles estavam envergonhando a mesa do Senhor. Ao incestuoso, Paulo ordena a exclusão (1 Co 5.13), e aos crentes que processavam uns aos outros, ele pergunta se não havia na igreja quem julgasse entre seus irmãos (1 Co 6.5). E sobre os dons espirituais? “Não […] sejais ignorantes” (1 Co 12.1), “[…] não proibais falar línguas” (1 Co 14.39), “[…] procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar” (1 Co 14.1). Essa é a Palavra do Senhor.
Se crermos que os dons espirituais eram os responsáveis pela desordem daquela igreja, devemos atribuir esse problema a Deus também, pois foi Ele quem deu os dons. Entretanto, como já vimos, não é esse o caso, pois tudo o que Senhor faz é perfeito.
Os Dons Espirituais Glorificam a Deus
Como os dons espirituais são dados pelo próprio Espírito Santo, que “opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer” (1 Co 12.11), é certo entender que essas instrumentalidades glorificam a Deus quando usadas de forma correta. Pessoas curadas são geralmente tomadas de um profundo senso de gratidão e glorificam a Deus. Quando uma profecia genuína é trazida à congregação, o Senhor é glorificado.
Quando uma pessoa é usada pelo Espírito na palavra de conhecimento ou na palavra de sabedoria, Ele é exaltado. Quando há uma manifestação na igreja e ela é questionada, o dom de discernimento de espíritos glorifica a Deus. De acordo com Paulo, o próprio ato de orar em línguas é uma forma de orar bem. Os dons existem, portanto, para que a Igreja glorifique a Deus.
Cabe aqui uma observação. Como os dons espirituais glorificam a Deus e edificam a Igreja, Satanás faz o possível para que essas dotações sejam imitadas, e muitos crentes, de forma inadvertida, decidem descrer dos dons espirituais por causa das falsificações de Satanás. Como crentes, devemos usar de sabedoria e não deixar de fora da vida na igreja os verdadeiros dons, pois estes não podem ser penalizados pelos simulacros do Inimigo. Só porque Satanás pode imitar algumas manifestações, vamos penalizar as manifestações verdadeiras do Espírito? Realmente, não é razoável agir com esse entendimento. As imitações malignas não podem fazer com que descreiamos do verdadeiro poder de Deus manifesto pelos dons espirituais.
II – OS DONS ESPIRITUAIS EM 1 CORÍNTIOS
Conforme sua utilização, os dons espirituais são classificados, para fins didáticos, em três grupos.
Dons de Elocução
Os chamados dons de elocução, assim descritos, são manifestos pela fala, a saber, a profecia, a variedade de línguas e a interpretação das línguas. A profecia é uma mensagem dada diretamente por Deus, trazida pela vontade do Espírito Santo e transmitida de forma consciente e, como se depreende, é emitida na própria língua da pessoa que está falando. A variedade de línguas e a interpretação delas são dons que andam juntos, tendo em vista que essas línguas, pelo contexto apresentado por Paulo, não são as mesmas que a pessoa fala para edificar a si mesma. Conforme as palavras de Paulo, as línguas têm o peso de uma profecia quando interpretadas, pois edificam a igreja, e não apenas a pessoa que está falando.
Dons de Sabedoria
Os dons de sabedoria, a saber, a palavra do conhecimento, a palavra da sabedoria ou o discernimento de espíritos, são capacitações que Deus dá a pessoas para que, por um conhecimento puramente divino, venham a tomar decisões, saibam de coisas que somente o Senhor poderia mostrar, ou saibam se uma atividade ou manifestação está sendo produzida realmente por Deus ou se é um simulacro de Satanás.
Dons de Poder
A fé, a operação de maravilhas e os dons de curar (no plural, como descrito na Bíblia) são os dons que se manifestam de forma sobrenatural em prol dos servos de Deus, trazendo a cura divina, a ocorrência de um milagre ou mesmo uma confiança fora do comum sobre algo que o Senhor há de fazer.
Ressaltamos que, pelo fato de todas essas manifestações serem de origem divina, não se pode dizer que os servos ou servas de Deus usados nesses dons são pessoas superiores a outras que não são usadas por essas mesmas dotações. Esses dons são concedidos pelo Espírito, não por questão de mérito ou santidade pessoal, mas, sim, pela vontade de Deus (1 Co 14). Além disso, nem todos possuem os mesmos dons; nem todos que falam em línguas interpretam línguas; e nem todos que têm a palavra de conhecimento são profetas.
III – CESSACIONISMO E CONTINUÍSMO
O que é o cessacionismo
Cessacionismo é, em poucas palavras, a teoria que acredita que os dons espirituais, como relatados no Novo Testamento, só foram correntes até certa época da História da Igreja. Essa época em que os dons teriam cessado situa-se, para alguns, no momento da morte do último apóstolo, João, no fim do 1º século. Outros colocam o quarto século de nossa era como a data do fim da validade dos dons espirituais. Essa teoria é predominantemente divulgada por cristãos que aderem à denominada linha “reformada” de interpretação da Bíblia. Entre as alegações para o cessacionismo, está a convicção de que milagres e sinais foram usados por Deus para reiterar a mensagem do evangelho, e, uma vez que o cânon sagrado foi completado, os dons não teriam mais razão para existir. Se o cânon já foi completado, não há mais espaço para novas revelações na igreja. É dito ainda que todos os cristãos possuem o dom do Espírito e que a história mostra que os dons cessaram. O cessacionismo ainda ensina que Deus limitou a si mesmo em épocas específicas da Bíblia para a prática de milagres.
O que é o continuísmo
Continuísmo é a corrente teológica adotada por pentecostais, que creem que os dons espirituais, como mencionados por Paulo em 1 Coríntios, são correntes em nossos dias. Pentecostais não consideram uma palavra profética trazida por meio do dom de profecia uma palavra equivalente a uma nova revelação escriturística, pois sabem que qualquer manifestação espiritual precisa ser avaliada à luz da Palavra de Deus. Reconhecemos o ministério pastoral, o dos presbíteros e o dos diáconos, mas entendemos que o Senhor continua a edificar a Igreja por meio dos dons espirituais. Todos os que nasceram de novo foram selados por Deus; esse selo, porém, não é o batismo no Espírito Santo, pois este se trata de um revestimento de poder para testemunhar de Jesus. No tocante à ausência de registros históricos de manifestação de dons, entendemos que é necessário ter um respaldo muito sólido para tal opinião, sendo necessário uma pesquisa que cubra os 2 mil anos de História do Cristianismo para depois se chegar a essa conclusão. Na verdade, a própria história registra muitos casos de curas, milagres e manifestações sobrenaturais de Deus antes de o movimento pentecostal ser organizado.
O que a Bíblia diz
Para que possamos finalizar este assunto, devemos recorrer à Bíblia, autoridade máxima aceita por todo crente comprometido com a verdade. Enquanto vários pensadores cristãos que são avessos à contemporaneidade dos dons ensinam que estes deixaram de existir quando o último apóstolo morreu, a própria Bíblia jamais disse que os dons tinham uma “data de validade”, ou seja, que deixariam de existir a partir de uma determinada data.
Teólogos que criticam o continuísmo valem-se da ideia de que alguns dos pais da Igreja não viam, em seus dias, as manifestações espirituais conforme relatadas no Novo Testamento; por isso, esses pais da Igreja entenderam que os dons cessaram por não serem mais necessários para os seus dias. O fato de os chamados pais da Igreja não mencionarem as manifestações dos dons ao longo da história não se comprova um argumento idôneo para questionar o continuísmo. Um estudo honesto e profundo na História da Igreja mostra que houve, sim, várias ocorrências de manifestações ao longo da história. Além disso, a ideia de que os dons cessaram porque não houve mais necessidade de que existissem não é um argumento bíblico, e sim uma opinião humana. Paulo alega que, “[…] havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá […]. Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado” (1 Co 13.8-10). Com base nesse texto, os defensores do cessacionismo argumentam que as línguas cessaram, mas não dizem que as profecias e a ciência também cessaram; ou seja, eles escolhem o que lhes é mais conveniente para desacreditar. Essa mesma teoria vai de encontro a si mesma, pois, se não podemos aceitar novas revelações (a não ser as já descritas nas Sagradas Escrituras), então a ideia de que os dons cessaram é uma nova revelação e, portanto, incabível e incompatível com as Escrituras.
O ensino de Paulo aos coríntios não proíbe a manifestação das línguas, mas orienta os coríntios sob a forma correta dessa manifestação.
Se percebermos o texto de Paulo, veremos que ele pede que os dons sejam manifestos com ordem no culto e sem atrapalhar a liturgia da congregação (1 Co 14.40). A utilização das línguas deve respeitar o santuário, como também a profecia. Na prática, o apóstolo corrige não os dons, mas sua utilização desestruturada no culto. E ele mesmo deixa claro: “Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar e não proibais falar línguas” (v. 39). Essa é a orientação de Deus para a Igreja em nossos dias. Podemos, sim, praticar os dons espirituais se os recebermos. Paulo não proibiu os dons espirituais, apenas ensinou à igreja a tratá-los de forma correta. E essa é a Palavra do Senhor, não sendo, portanto, passível de ser contradita.
CONCLUSÃO
Cremos que os dons espirituais são para os nossos dias, pois não há um verso sequer nas Sagradas Escrituras que tragam essa revelação revogando a edificação do corpo de Cristo por meio dessas manifestações espirituais. Paulo não disse em sua primeira carta aos Coríntios que a Igreja de hoje deve parar de trabalhar com os dons espirituais, e sim que ela não deixe de tê-los e que os utilizem corretamente. O mesmo Deus que operou orientando os coríntios é o mesmo que opera hoje e sempre e que reparte os dons a cada um conforme lhe aprouver.
*Adquira o livro. COELHO, Alexandre. O Vento Sopra Onde Quer: O Ensino Bíblico do Espírito Santo e sua Operação na Vida da Igreja. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
Que Deus o(a) abençoe.
Lidiane Santos
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