Fonte: Professor da EBD
TEXTO AUREO
“Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos.” (1 Co 1.23)
VERDADE PRATICA
O Cristo Crucificado, o centro da mensagem da cruz, é a encarnação da verdadeira sabedoria para a salvação.
LEITURA DIARIA
Segunda – 1 Co 1.18 A palavra da Cruz é o poder de Deus
Terça – 2 Co 11.3 A simplicidade da mensagem de Paulo
Quarta – 1 Ts 2.2,8,9; 2 Co 11.7 A pregação de Paulo é o Evangelho de Deus
Quinta – Rm 1.15-18 O Evangelho é a manifestação do poder de Deus
Sexta – 1 Co 1.20 Onde está a sabedoria do mundo?
Sábado – 1 Co 2.3,4 A mensagem da cruz revela quem nós somos
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
1 Coríntios 1.18-25; 2.1-5
1 Coríntios 1
18 – Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus.
19 – Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos inteligentes.
20 – Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?
21 – Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação.
22 – Porque os judeus pedem sinal, e os gregos buscam sabedoria;
23 – mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos.
24 – Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.
25 – Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
1 Coríntios 2
1 – E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.
2 – Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.
3 – E eu estive convosco em fraquezas, e em temor, e em grande tremor.
4 – A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de poder.
5 – para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
HINOS SUGERIDOS: 182, 291, 350 da Harpa Cristã
OBJETIVO GERAL
Ressaltar que Jesus Cristo, e este crucificado, é o centro da mensagem cristã.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Destacar a centralidade da pregação de Paulo;
Elencar as expressões-chave na doutrina de Paulo;
Pontuar os efeitos da mensagem da cruz.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
Nos dias de Paulo, nem todos acreditavam na possibilidade de que um homem crucificado seria o Filho de Deus. Para os judeus, isso era blasfêmia; para os gregos, loucura. Entretanto, o apóstolo Paulo não deixava de falar a respeito do Cristo Crucificado tanto para os judeus quanto para os gentios. Nele, está a verdadeira sabedoria de vida. Converse com seus alunos e mostre que a cruz de Cristo não pode ser ignorada em nossa mensagem. Essa é a razão de pregar as boas novas de salvação. Ore ao Senhor, pedindo que os alunos não tenham vergonha da cruz e, corajosamente, possam repetir as palavras do poeta: “Sim eu amo a mensagem da cruz té morrer eu a vou proclamar”.
PONTO CENTRAL: Jesus Cristo, o Crucificado, é o centro da mensagem cristã.
COMENTÁRIO INTRODUÇÃO
Paulo descobriu a verdade sobre o Cristo crucificado e ressurreto e, por isso, sua missão de vida foi pregar aos judeus e aos gentios. O Cristo Crucificado era o Salvador prometido nas profecias dos antigos profetas de Israel. Assim, o Crucificado foi sua mensagem central. Para ressaltar essa centralidade, devemos prestar atenção nas expressões que se destacam em suas cartas: “Evangelho de Cristo”, “Cristo Crucificado” e “Cristo Ressurreto”. Nesta lição, veremos o quanto a mensagem da cruz traz impacto à nossa vida espiritual e pessoal.
Comentário
A imagem do “Cristo crucificado” ou do “Cristo da cruz” confronta com o poder e a glória que os judeus buscavam nos discursos, e Paulo contrariava essa expectativa, e eles escandalizavam-se com a cruz porque lhes parecia fraqueza e derrota. Eles tropeçavam na fraqueza da cruz, porque lhes parecia loucura. Os gregos, em especial, enfatizavam a importância da sabedoria dos filósofos, mas eles não viam sabedoria na cruz. Naturalmente, a cruz revela um paradoxo entre “sabedoria e loucura”, e a pregação de Paulo era loucura para os gregos. Após a conversão de Paulo, ele descobre a verdade sobre o Cristo crucificado e ressurreto, e isso o motivou a anunciar que Jesus era, de fato, o Messias prometido e o Salvador de todos os homens. Ele começou a pregar com intensidade sobre o Cristo da cruz não apenas à sua gente, como também a todos os gentios. Quando iniciou sua peregrinação em querer pregar em todos os lugares, ele ainda não havia passado pela experiência da reclusão no deserto da Arábia, onde aprenderia, com a ajuda do Espírito Santo, tudo sobre o Cristo que ele tanto perseguiu anteriormente. Por quase três anos, Paulo teve o seu maior aprendizado no deserto da Arábia, porque o Espírito Santo abriu a sua mente, e o Senhor Jesus revelou-se a ele de modo especial. Ao voltar desse período de silêncio histórico, Paulo começou a pregar a tempo e fora de tempo que o Cristo crucificado era o Salvador prometido nas profecias dos antigos profetas de Israel. Na realidade, o deserto foi a escola superior de treinamento do homem que Deus escolheu ainda no ventre de sua mãe. Sua pregação inicial em Damasco surpreendeu muita gente, e tudo o que ele afirmava agora era que Jesus era o Filho de Deus (At 9.20,21). Gordon Fee declara na obra Jesus o Senhor segundo o Apóstolo Paulo: Paulo se refere a Cristo como o Filho dezes sete vezes, dezesseis das quais são diretamente qualificadas em relação a Deus (seja “de Deus”, “dele” ou “dele próprio”). Todas essas informações aparecem em nove das suas dez cartas às igrejas (Filemom é a única exceção). O único caso em que um qualificador não ocorre é na conclusão de um parágrafo no seu argumento com os coríntios a respeito da ressurreição dos mortos (1 Co 15.28). Nesse caso, entretanto, o intensivo “o próprio Filho” faz com que o leitor retorne a uma frase no meio do parágrafo em que Paulo afirma que o fim virá quando Cristo “entregará o reino a Deus, ao Pai” […]. Para sermos francos, essa última expressão acabou se tornando bastante ambígua para os leitores de épocas posteriores, acerca de Paulo ter tido a intenção de dizer “ao seu Deus e Pai” ou “a Deus, o próprio Pai”. Porém, seja qual for o caso, a linguagem de Paulo implica a filiação da parte do próprio Cristo. (FEE, 2019, p. 134) Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.
Na opinião de Paulo, a fé cristã girava em torno de dois centros — o Calvário e o Pentecoste — acontecimentos históricos bem documentados. No momento de sua conversão, raiou-lhe na alma o verdadeiro significado da Cruz, e imediatamente depois ele experimentou as bênçãos do Espírito Santo trazidas pelo Pentecoste. Daí para a frente ele expressou sua atitude de modo coerente: “Longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gálatas 6:14). O Calvário foi uma magnífica demonstração de amor sacrificial, mas sem a dinâmica liberada pelo Espírito Santo no Pentecoste, não teríamos vida espiritual. O Pentecoste foi o complemento necessário do Calvário. A descida do Espírito Santo tornou real na experiência dos crentes aquilo que o Calvário fizera possível. Sanders. J. Oswald. Paulo, O Líder Uma visão para a liderança cristã hodierna. Editora: Vida. pag. 54.
O CLÍMAX – O CRISTO CRUCIFICADO Por iniciar em Damasco, a cristologia de Paulo alcança um clímax. Não em termos de datas ou lugar, mas de intensidade. Vejamos Gálatas 2.20: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. Jesus Cristo tornou-se a paixão maior de Paulo: “Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte” (Fp 3.10). A ênfase no Cristo crucificado fazia acompanhar-se de igual ênfase no Cristo ressurreto. Ao comentar sobre os fundamentos da fé de Paulo, Metzger assim se expressou: Primeiro, e acima de tudo, Paulo tinha profunda convicção de que Jesus de Nazaré estava vivo. O Messias crucificado não permanecera morto, mas estava vivo e reinando como Senhor celestial. Neste momento, ao mesmo tempo que a tarefa me pareceu fácil, tornou-se mais assustadora. Seria simples cristologizar com base em documentos e opiniões de teólogos. Bastaria pesquisar e reunir as ideias, emitindo opiniões sobre elas, e rechear o trabalho de notas de rodapé. No entanto, não se faria jus à visão cristológica do apóstolo. Ninguém teve encontro tão radical com Cristo como o que Paulo experimentou. Esse encontro mudou sua vida, mudou a obscura seita e, como já dissemos, mudou o mundo. Esse encontro repercutiu na vida de milhões de pessoas ao longo da História e as mudou para sempre. E tal mudança possui como base o Cristo vivo. A descoberta veio no encontro de Damasco. Paulo teve outros encontros com o Salvador, os quais permitiram fundamentar ainda mais sua cristologia. Lemos em Gálatas 1.11,12: “Irmãos, quero que saibam que o evangelho por mim anunciado não é de origem humana. Não o recebi de pessoa alguma nem me foi ele ensinado; ao contrário, eu o recebi de Jesus Cristo por revelação”. Paulo recebera o evangelho do próprio Jesus. O primeiro encontro do apóstolo com Pedro só ocorreria três anos após sua conversão (v. G11.18). Apenas quatorze anos mais tarde, Paulo voltaria a encontrar outros apóstolos (v. G12.1), mas esse encontro nada lhe acrescentaria (v. G12.6), pois ele tivera uma revelação: Fui para lá por causa de uma revelação e expus diante deles o evangelho que prego entre os gentios, fazendo-o, porém, em particular aos que pareciam mais influentes, para não correr ou ter corrido inutilmente (G12.2). Isto é, o mistério que me foi dado a conhecer por revelação, como já lhes escrevi em poucas palavras” (Ef 3.3). O conhecimento de Paulo a respeito de Cristo veio do próprio Jesus. Sua cristologia foi, portanto, experiencial. Não se tratou de um exercício de reflexão teológica nem acadêmica, mas profundamente existencial. Foi radical: “nós, porém, pregamos a Cristo crucificado, o qual, de fato, é escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (IC o 1.23). A cristologia de Paulo se baseia fundamentalmente em Cristo crucificado. Este era o tema de sua pregação. Usando uma frase de Stott, Paulo era um homem “intoxicado de Cristo”. E do Cristo que morrera crucificado, fora sepultado e ressuscitara. Rega. Lourenço Stelio,. Paulo e sua Teologia.Editora Vida Nova. pag. 121-123.
I – A CENTRALIDADE DA PREGAÇÃO DE PAULO
1. O ministério de pregação e o Cristo Crucificado.
Sem menosprezar os demais escritores do Novo Testamento, indiscutivelmente, o apóstolo Paulo foi o maior teólogo cristão e doutrinador do Cristianismo. Suas cartas, baseadas na fidelidade aos ensinos de Cristo, lançaram os fundamentos das doutrinas cristãs. Embora Paulo não tenha convivido fisicamente com Jesus, ele recebeu toda a revelação do próprio Cristo (Gl 1.12) para pregar o Evangelho sem se opor aos ensinos dos outros apóstolos. Por intermédio desse ministério, judeus e gregos, orgulhosos de sua religiosidade e conhecimento, descobriram que a manifestação da sabedoria de Deus ao mundo é o “Cristo Crucificado”. Por isso, judeus e gentios são chamados por Deus para ver no “Crucificado” o único meio de salvação e de verdadeira sabedoria (1 Co 1.24).
Comentário
O quadro não era totalmente negro, entretanto. Havia tanto judeus como gentios que haviam aceito a Jesus Cristo. Esses eram os indivíduos iluminados, aqueles que haviam transcendido tanto as perversões do judaísmo, que recebera sinais do Senhor, mas não reconhecera a nenhum dos mesmos e ainda exigia mais e maiores sinais, como o embotamento filosófico dos gregos, a mera sabedoria humana. Naturalmente, essa iluminação e outorgada aos homens espiritualmente e não apenas sobre o intelecto. E se torna real quando da chamada ou eleição dos crentes, os quais, dessa maneira, se tornam capazes de receber os impulsos e as revelações divinas. (Ver as notas expositivas completas sobre a ≪eleição≫, em Efe. 1:4,5. Joao 15:16). Esse ≪chamamento≫ vem da parte de Deus, através do seu Santo Espirito. Não opera mediante a sabedoria humana, e, de fato, pode ser entravada por ela. Por isso mesmo, precisa transcender a sabedoria humana, atingindo aos homens no nível da alma, e não apenas nos níveis emocional ou intelectual. Não obstante, o impulso do Espirito Santo deve ser sempre correspondido por parte da vontade humana. Pois se o livre-arbítrio humano não pode obter a salvação por si mesmo, pode acolhe-la. Por outro lado, se a vontade humana perverter os impulsos do Espirito Santo, estes não produzirão o efeito desejado. Assim, pois, a salvação e dada ao pecador tanto através da agencia divina como através da agencia humana; e todos os homens são assim conduzidos aos pês de Cristo. A atitude acolhedora e criada na alma humana através da preparação do caráter. O certo e que a ≪fé≫ e a reação favorável da alma p ara com os impulsos do Espirito Santo, não sendo uma mera propriedade intelectual. (Quanto a esse tema, ver os trechos de Joao 3:15 e Heb. 11:1). A alma, por ser uma entidade espiritual, possui determinado caráter, bem como certa visão de Cristo e das realidades espirituais. Quando essa visão e clara, o homem mortal, em sua própria alma, acolhe a mensagem do evangelho. Mas, nos casos em que essa visão e obscura, ou completamente confusa, o homem mortal rejeita a Cristo. Muitas dessas pessoas nem ao menos compreendem que são seres essencialmente espirituais, e tolamente imaginam que o corpo material e a explanação de toda a sua existência (materialismo). Tais pessoas dificilmente se deixam atrair pela mensagem altamente espiritual de Cristo, não reagindo favoravelmente a ela. ≪…poder de Deus…≫ No caso daqueles que são chamados, que se achegam a Cristo, o evangelho e o poder de Deus, porquanto gira em torno de Cristo, que é o tema central do evangelho. Isso Paulo já havia salientado, no decimo oitavo versículo deste capitulo. O poder de Deus faz o que a sabedoria humana não e capaz de fazer: salva a alma e a eleva para Deus, que é o grande alvo e o propósito de toda a existência humana. Na cruz, Jesus Cristo se tornou tanto o ≪poder≫ como a ≪sabedoria≫ de Deus, conforme lemos nos versículos vigésimo primeiro e vigésimo terceiro deste capitulo. Os judeus desejavam ≪sinais prodigiosos≫, demonstração de poder espiritual. Os gregos desejavam elevadas manifestações de ≪sabedoria≫. Ora, Cristo e ambas as coisas. Cristo, crucificado, e a solução que Deus apresentou tanto para os judeus —que buscavam poder— como para os gregos, que buscavam sabedoria. Isso porque os elevadíssimos propósitos de Deus se cumprem na cruz de Cristo, a maneira de Deus, e não conforme pensavam os gregos ou os judeus. ≪Aqui ‘nos termos <poder> e <sabedoria> de Deus* encontramos a antítese do ‘escândalo’ e da ‘loucura’. Enquanto os judeus indagavam como e que uma pessoa crucificada e maldita poderia ser o Salvador de Israel, como alguém tão destituído de forca poderá ser capaz de derrubar todos os poderes hostis, e enquanto os gregos julgavam absurdo a salvação da parte de alguém que tivera um fim tão miserável, por outro lado, os escolhidos de Deus, experimentam e confessam que e do Redentor crucificado que se origina o poder divino, o poder da vida e da paz celestiais, bem como um poder renovador, santificador, beatifico, como não poderia ser encontrado em coisa alguma pertencente a criatura. Esses escolhidos reconhecem que em Cristo e que existe a sabedoria divina, capaz de solucionar os problemas mais difíceis, os problemas de iluminar as trevas que impediam os homens de perceberem os caminhos de Deus, de cumprir os mais nobres propósitos de Deus, trazendo de volta para as veredas da vida aqueles que se tinham desviado, conduzindo-os, afinal, para seu destino final≫. (Kling, in loc.). ≪ Porque dessa maneira foi satisfeita a justiça, naquela natureza que pecara e que Satanás desgraçara, naquela natureza que fora a sua própria ruina; dessa maneira o pecado foi condenado, ao mesmo tempo que o pecador foi salvo. O perdão e a justificação nos são oferecidos pelo caminho da graça, apesar de tudo ser efetuado com justiça estrita. As perfeições divinas são assim harmonizadas e glorificadas, e dessa maneira Deus executou seus sábios desígnios e seus conselhos eternos. Sim, até mesmo a sabedoria de Deus e vista na morte de Cristo sobre a cruz, na qual ele foi encravado a fim de tornar-se maldição por nós, a fim de que nos pudesse redimir da maldição imposta pela lei, para que a benção de Abraão pudesse ser derramada sobre nos≫. (John Gill, in loc.). CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 21-22.
Tanto gregos como judeus. Paulo mostra, através desta antítese, quão pessimamente é Cristo recebido, e que isso não era devido a alguma falha dele, nem pela nalural inclinação do gênero humano, mas que sua causa consiste na depravação daqueles que não foram iluminados por Deus. Pois nenhuma pedra de tropeço impede os eleitos de Deus de irem a Cristo com o fim de encontrarem nele a certeza da salvação. Paulo contrasta poder com pedra de tropeço que advém da humildade de Cristo, e confronta sabedoria com loucura. A essência disso, pois, é a seguinte: “Eu sei que nenhuma coisa, a não ser sinais, pode exercer algum efeito na obstinação dos judeus, e que na realidade só um fútil gênero de sabedoria pode aplacar o desdenhoso menosprezo dos gregos. Não devemos, contudo, dar demasiada importância a este fato, visto que não importa o quanto nosso Cristo ofende os judeus com a humildade de sua cruz e é tratado com o máximo desprezo pelos gregos; não obstante, ele é para todos os eleitos, de todas as nações, o poder de Deus para a salvação, para remover essas pedras de tropeço, e a sabedoria de Deus para afastar toda e qualquer dissimulação [lar- mm] no campo da sabedoria.” Calvino. João,. Série de Comentários Bíblicos João Calvino Vol. 10. 1 Coríntios. Editora Edições Parakletos. pag. 66-67. Mas essa não é a história toda. Se o homem natural, seja ele judeu ou grego, instintivamente rejeita a mensagem da cruz, o homem que é chamado por Deus, judeu ou grego, a acolhe. Há ênfase na ideia de chamamento, e nós poderíamos traduzir, ‘‘õs chamados, eles próprios” (como na VRmg). O fato relevante é que eles foram chamados por Deus. Tudo mais é sem importância. Aqui, como é costume nos escritos de Paulo, chamados contém a idéia de chamamento eficaz. Está implícito que o chamamento foi ouvido e obedecido. Os homens chamados desta forma sabem que o Cristo crucificado significa poder. Antes de serem chamados, não podiam dominar o poder do pecado. Agora podem. Cristo é o poder de Deus. Ele é também a sabedoria de Deus. Esta passagem toda está interessada na sabedoria. Evidentemente os coríntios a tinham salientado. Os gregos habitualmente a buscavam. A cruz parece nada mais que uma consumada loucura. Contudo, a cruz em que o filho de Deus foi pendurado pelos homens provou que é o poder de Deus. Nela o pecado foi derrotado. Também provou que é a sabedoria de Deus. A sabedoria do mundo não podia encontrar Deus, nem tinha poder sobre o mal. A cruz revelou Deus e deu aos homens o poder de que necessitavam. Ao nível da busca de sabedoria, aquela “ loucura” de Deus provou que é a verdadeira sabedoria. Leon Monis. I Corintos Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 37.
2. A palavra da Cruz é a loucura da pregação.
Em uma das cartas de Paulo, lemos: “Porque a palavra da cruz é loucura” (1 Co 1.18). Havia uma mentalidade na época paulina em que “a palavra da cruz” era uma afronta aos religiosos e filósofos. Por exemplo, acreditar que uma execução romana podia ser um instrumento pelo qual a salvação de pecadores fosse consumada, era tolice para eles. Nesse sentido, a cruz de Cristo não produziu atração, mas rejeição, pois era um instrumento de suplício e morte.
Comentário
Facilmente notamos, nas epistolas de Paulo, quanto a importância da cruz de Cristo era enfatizada por ele. (Ver II Cor. 13:4; Gal. 3:1; 5:11; 6:12,14; Fil. 2:8; 3:18; Col. 1:20 e 2:14). Naturalmente que o apostolo dos gentios não estava pensando na cruz de madeira em que Jesus fora crucificado, e nem a mensagem da cruz, para ele, consistia dos detalhes cruentos dos sofrimentos de Cristo, encravado na cruz. Antes, ao falar assim, ele pensava sobre as boas novas que anunciam que, em Cristo, Deus estava reconciliando o mundo consigo mesmo. (Ver II Cor. 5:19). Na cruz e que se concretizou a reconciliação. Cristo fez por nós aquilo que não podemos fazer por nós mesmos. Na hora crucial da agonia, Deus Pai, aparentemente, abandonou seu Filho. Mas isso, na realidade, era impossível. E assim, em Cristo, Deus aceita o mundo inteiro, sob a condição única de arrependimento e fé. Cristo foi aquele que levou sobre si os nossos pecados, encravando-os na sua cruz, tendo sido esse o ato culminante de sua missão terrena. Quando falamos em ≪cruz≫, portanto, pensamos na expiação realizada pelo sangue de Cristo. (Ver Rom. 3:35 e as notas expositivas ali existentes quanto a isso, onde a palavra ≪propiciação≫ e igualmente comentada). Assim também, quando falamos em ≪cruz≫, pensamos em ≪redenção≫ (comentado em Rom. 3:24); pensamos em ≪expiação pelo sangue≫ (comentado em Rom. 3:25 e 5:11); e pensamos em ≪justificação≫, porque Cristo foi entregue pelas nossas ofensas e ressuscitou visando nossa justificação (comentado em Rom. 3:24,28 e 4:25). No entanto, o fato de que todas essas doutrinas verdadeiras estão centralizadas em torno de um Salvador moribundo constitui uma ≪…loucura…≫para os incrédulos, sobretudo para os ≪eruditos≫, aqueles que possuem treinamento filosófico e uma sabedoria humana geral. Ora, conforme lemos no vigésimo segundo vs. deste capitulo, os gregos buscavam ≪sabedoria≫. E essa ≪sabedoria≫ tinha o efeito de afasta-los para longe de uma elevada mensagem espiritual, porquanto, para eles, está parece revestir-se de elementos de insensatez. ≪…loucura…≫ No original grego, a palavra usada neste ponto não e tão violenta. Antes, o termo grego tem o sentido de ≪tolice≫, ≪insensatez≫, sem dar qualquer ideia de desarranjo mental ou insanidade, conforme a tradução ≪loucura≫ nos dá a entender. Nossa palavra ≪moroso≫ se deriva dela. Para os detratores do cristianismo, portanto, a mensagem da cruz parecia ≪morosa≫, no sentido de faltar-lhe a percepção pronta da verdade, o que caracteriza as superstições e as ideias ultrapassadas, derivadas de conceitos religiosos tolos, mas agora totalmente inaceitáveis para a mente ≪moderna≫. O sentido básico dessa palavra, no original grego, e algo ≪embotado≫, ≪tolo≫, ≪pesado≫, ≪insipido≫. Da maneira como Paulo a emprega aqui, dá a entender ≪embotamento mental≫. A sabedoria humana, portanto, sente-se superior a essas antigas superstições, a essas crenças ≪primitivas≫. Porém, o que parece ser embotamento mental, por parte dos crentes, na realidade e apenas um discernimento suficiente que lhe permite descobrir a ≪sabedoria≫ de Deus, em meio as trevas da sabedoria humana, as quais, na realidade, são aquilo que oculta a verdade, longe de revela-la. Ora, tudo isso nos faz lembrar da famosa declaração de Tertuliano: Creio porque é absurdo. Isso significa que aquilo que parece absurdo para os homens, pode ter tal aparência porque a mente deles está tão entenebrecida que não pode apreender a verdade de Deus. Soren Kierkegaard e lembrado devido a sua atualmente famosa declaração: ≪Deus e o mais ridículo de todos os seres≫. Com isso ele queria dizer que não precisamos de provas racionais ou empíricas acerca da existência de Deus e acerca de sua verdade, porquanto todas elas parecerão ridículas para os homens, de qualquer modo, ainda que tais provas pudessem ser apresentadas. O fato e que Deus simplesmente não precisa amoldar-se a sabedoria humana, nem precisa ser atingido por ela, descrito por ela, para que seja real. A verdade final, por conseguinte, nós e outorgada por meio da revelação divina; e essa revelação pode ser aprendida intuitivamente, e é intuitivamente que podemos concordar com ela; tudo, porem, será sempre e essencialmente, um ≪dom de Deus≫, dado aos homens do alto, proveniente de uma fonte externa a eles. Não depende, em qualquer grau, da aceitação por parte do conhecimento ou da erudição dos homens. CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 17-18. Porque a palavra da Cruz. Nesta primeira sentença, ele faz uma concessão. Porque, visto ser fácil objetar que o evangelho comumente é considerado com desdém, se ele vem a ser conhecido numa forma despida e insignificante, Paulo espontaneamente o admite. Mas quando ele acrescenta que esse é o ponto de vista daqueles que estão a perecer, significa que pouquíssimo valor se deve pôr em sua opinião. Pois quem iria querer condenar o evangelho às custas de sua perdição? Portanto, esta expressão deve ser entendida nestes termos: “A pregação da cruz é considerada loucura por aqueles que estão a perecer, justamente porque ela não possui qualquer atavio de sabedoria humana que o recomende. Seja como for, em nossa opinião, não obstante, a sabedoria de Deus está vividamente irradiando-se dela.” Paulo, contudo, indiretamente está censurando o juízo pervertido dos coríntios, os quais se deixavam facilmente fascinar-se por palavras sedutoras de mestres megalomaníacos, e ainda olhavam com desdém para o apóstolo que era dotado com o poder de Deus para a salvação deles, e procediam assim simplesmente porque ele se devotava à proclamação de Cristo. Em meu comentário aos Romanos [1.16] expliquei de que maneira a proclamação da cruz é o poder de Deus para a salvação. Calvino. João,. Série de Comentários Bíblicos João Calvino Vol. 10. 1 Coríntios. Editora Edições Parakletos. pag. 56-57. “ A pregação” (AV) é literalmente a palavra (como na ARA). Há um contraste com a sabedoria de palavra do versículo anterior. O termo é tal que é um pouco incomum numa passagem como esta. Ele dirige a atenção tanto para o modo como para a matéria da pregação apostólica. A mensagem não agrada os que “ perecem” (AV), mais que a absoluta simplicidade com que ela era apresentada. Em sua sabedoria mundana, eles não veem nada nela, senão loucura (“ absurdo” , como Phillips o traduz). Os que se perdem e os que somos salvos representam um par de particípios presentes. O presente dá ideia de um processo que está em andamento. Poderíamos traduzir: “ os que se estão perdendo” e “ nós” , que estamos sendo salvos” . Há um agudo contraste. Em última instância, todos teremos que cair, ou na classe dos salvos, ou na dos perdidos. Não há outra. Os que estão sendo salvos não têm ainda toda a sabedoria do céu, mas foram introduzidos numa novidade de vida que os habilita a avaliar as coisas espirituais. Como resultado, penetram a verdadeira grandeza do Evangelho, ao passo que os que perecem são cegos para tudo, menos para o superficial. “ Sabedoria” é o oposto de “ loucura” , e, consequentemente, esperaríamos que Paulo falasse do Evangelho como “ a sabedoria de Deus” . Em vez disso, como em Rm 1:16, ele o caracteriza como poder. Não é simplesmente um bom conselho aos homens, dizendo-lhes o que devem fazer. Tampouco é uma mensagem acerca do poder de Deus. O Evangelho é o poder de Deus. Leon Monis. I Corintos Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 34-35.
3. Para os judeus e gregos.
A cruz era considerada loucura porque chocava a sabedoria humana. Enquanto os judeus queriam sinais físicos, milagres visíveis, os gregos desejavam argumentos filosóficos que mostrassem a lógica da mensagem. Assim, o conteúdo da mensagem de Paulo gerava escândalo para os judeus, pois a cruz não era um espetáculo suntuoso; e, ao mesmo tempo, contrariava a retórica erudita dos filósofos gregos por causa de sua simplicidade (2 Co 11.3). Entretanto, embora simples, a mensagem de Paulo era poderosa em Deus (1.18). A palavra da cruz preenche as necessidades da alma humana, enquanto a sabedoria humana não o faz. O Evangelho é poderoso para salvar o homem que crê. Logo, para os que perecem, a palavra da cruz é loucura; mas para nós, os cristãos, é o poder de Deus para salvar o ser humano.
Comentário
Os crentes coríntios na o possuíam o dom do discernimento em alto grau de desenvolvimento. Os ministros de Satanás (que e o grande sedutor, ver os versículos decimo terceiro a decimo quinto deste capitulo, bem como o trecho de II Cor. 2:11) estavam seduzindo facilmente a eles. Paulo dá a entender aqui que a sedução efetuada pelos falsos apóstolos estava se mostrando tão eficaz por ser inspirada por Satanás. E isso importa em uma gravíssima acusação, ainda que, na realidade, seja idêntica a que aparece no decimo quinto versículo do capitulo que ora comentamos. ≪…receio… ≫ Essa palavra expressa que Paulo nem confiava e nem desconfiava totalmente do que dizia. ≪…a serpente enganou a Eva…≫ (Quanto a narrativa dessa primeira sedução diabólica, ver Gen. 3:1 e ss.). A palavra ≪…enganou…≫, no original grego, e ≪eksapatao≫, uma forma intensiva, o que quer dizer, por conseguinte, ≪enganar totalmente≫, ≪desviar totalmente≫. Na passagem de I Tim. 2:14 essa palavra assinala certa diferença entre Adão e Eva, quanto a esse particular. Eva sofreu o ataque iludidor da serpente, ao passo que aquilo que Adão fez visou agradar a si mesmo e a sua esposa. Alguns interpretes, observando a declaração enfática que aqui aparece, acreditam que o presente texto e reflexo de uma história lamentável, que figura no livro apócrifo de Apocalipse de Moises, em que Satanás e pintado como alguém que seduziu a Eva e gerou dela um\filho, chamado Caim. Na antiga literatura rabínica havia narrativas dessa natureza; mas não há motivo algum para pensarmos que o apostolo dos gentios levava a sério tais lendas, ou que tenha feito alusão a história do Apocalipse de Moises, a que nos reportamos. ≪…com a sua astucia…≫ No grego temos a palavra ≪panourgia≫, que significa muitas formas de obras sutis, astutas. Ha aqui uma referencia ao trecho de Gen. 3:1, bem como ao pensamento que a serpente era a mais astuta de todas as alimárias do campo. Ha nessa palavra a ideia de uma sabedoria negativa e destrutiva, diabolicamente empregada. Satanás sempre foi o grande mestre dessa forma contraria de sabedoria, e Paulo reputava os falsos apóstolos como excelentes aprendizes dos caminhos tortuosos de Satanás. Naturalmente, no livro de Genesis, não é feita declaramente a identificação da serpente com Satanás; mas os interpretes supõem que assim seja o caso, como também Paulo evidentemente faz aqui. Essa corrupção o apostolo Paulo imaginava estar ocorrendo na mente dos crentes coríntios. Isso e onde a corrupção e a ruina sempre tem início, não demorando até que tal praga se espalha as ações, sendo envolvidas a fé e a moralidade geral do indivíduo. O vocábulo grego aqui traduzido por ≪…mentes…≫ também significa ≪pensamentos≫. Pois a mente e a sede originariam dos pensamentos; e, assim sendo, o significado e o mesmo, porquanto a ≪mente≫ jamais sai de foco. “…se apartem da simplicidade… de Cristo…≫ No grego, ≪…simplicidade… ≫ e ≪aplotes≫, que significa ≪singeleza≫, ≪sinceridade≫, ≪retidão≫, estando em mira uma ≪sincera devoção≫ a Cristo. Ver os trechos de II Cor. 8:2 e 9:11, onde esse mesmo termo e melhor traduzido por ≪generosidade≫,’ embora tal sentido esteja fora do contexto, neste ponto. Os crentes coríntios pendiam por prestar lealdade a outro, desviando-se assim de sua ≪singeleza de propósitos≫. E por se mostrarem divididos em sua devoção, estavam prestes a cometer a formicação espiritual. CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 397.
Em segundo lugar, seu temor (11.3). “Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo” (11.3). Os falsos apóstolos estavam pregando em Corinto uma nova versão do evangelho. Eles eram servos de Satanás, e não de Deus. Estavam a serviço da mentira, e não da verdade. O propósito deles era enganar, e não edificar. A bandeira deles era desviar os crentes da simplicidade e pureza devidas a Cristo. O termo traduzido por “simplicidade” significa “sinceridade, devoção única”. Um coração dividido conduz a uma vida corrompida e a um relacionamento destruído. A arma desses falsos apóstolos era a mesma da serpente, a astúcia. No jardim do Eden a serpente enganou Eva questionando a Palavra de Deus, negando a Palavra de Deus e, por fim, substituindo-a pela própria mentira. De igual forma, os falsos apóstolos torciam a Palavra de Deus com o propósito de enganar. Suas setas eram dirigidas à mente. Enganam-se aqueles que pensam que o sexo era o fruto proibido, que os nossos primeiros pais comeram. A sedução da serpente atingiu a mente de Eva. O primeiro ataque de Satanás não é moral, mas teológico. Primeiro, as pessoas se desviam da verdade, depois, elas corrompem-se, moralmente. Primeiro, a mente corrompe-se, depois, o coração endurece. Primeiro, vem a impiedade, depois, a corrupção (Rm 1.18). Bruce Barton lança luz sobre o assunto quando escreve, O foco aqui é a mente dos coríntios. O pecado começa com os pensamentos. A serpente, primeiro tentou convencer Eva que a Palavra de Deus não era o melhor para ela, que havia mais vantagens em desobedecer a Deus do que obedecê-lo. Satanás sabia que se a mente fosse convencida, as ações seguiriam imediatamente. Eva foi persuadida pela mentira de Satanás, e, em seguida, comeu do fruto proibido. Da mesma forma, os falsos mestres eram servos de Satanás, enganando os coríntios para abandonarem sua devoção a Cristo. Paulo sabia que a mente é o principal campo de batalha na guerra espiritual (10.5). Por essa razão, tratou com os falsos mestres de forma tão incisiva. LOPES, Hernandes Dias. II Coríntios O triunfo de um homem de Deus diante das dificuldade. Editora Hagnos. pag. 242-243.
Paulo revela a profunda preocupação que o leva a cair na insensatez da autoglorificação: Zelo por vós com zelo de Deus (tradução literal). Ao ver o que está acontecendo em Corinto, Paulo emociona-se, porque compartilha o zelo de Deus pelo seu povo. Temos aqui uma metáfora do casamento, o que se confirma pelas palavras seguintes: Visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo. O casamento entre os judeus do tempo de Paulo compunha-se de duas cerimônias separadas, o noivado e a cerimônia nupcial, que consumava o casamento. Em geral, entre uma e outra cerimônia decorria um ano, mas durante esse período a noiva era considerada legalmente a esposa do noivo, embora permanecesse virgem. O contrato de noivado tinha valor legal, e só podia ser rompido pela morte ou por uma carta formal de divórcio. A infidelidade ou a violação de uma noiva assim desposada era considerada adultério, e como tal recebia punição legal.1 Esse costume matrimonial dá-nos o contexto cultural da afirmação de Paulo aqui. Paulo vê a si mesmo como agente de Deus, mediante quem seus convertidos estão “ligados” a Cristo, de quem são a “noiva”, como virgem pura. Ele se sente sob a obrigação de assegurar que a noiva seja apresentada a Cristo, o esposo, na cerimônia nupcial, quando o casamento será consumado (i.e., na parousia de Cristo). À vista dos recentes acontecimentos em Corinto, Paulo é obrigado a declarar: Mas receio que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam corrompidas as vossas mentes, e se apartem da simplicidade e pureza devidas a Cristo. A fim de dramatizar o perigo que vê, Paulo compara-o ao engano sofrido por Eva no jardim do Éden (“A serpente me enganou, e eu comi”, Gn 3:13). É significativo que a “ sedução” de Eva não teve caráter sexual, como alguns textos rabínicos sugerem, mas, antes, um engano que lhe penetrou a mente, pela negação da verdade da palavra de Deus (Gn 3:1-7). Assim é que a história de Eva retrata o tipo de perigo enfrentado pelos coríntios, i.e., suas mentes foram desviadas. A palavra traduzida por mentes (nôêmata) encontra-se apenas seis vezes no Novo Testamento, todas nos escritos de Paulo, e dessas seis, cinco em 2 Coríntios. Além do presente contexto, Paulo a utiliza para descrever os “ desígnios” de Satanás (2:11), o endurecimento ou a cegueira “mental” (3:14; 4:4), o levar em cativeiro todo “pensamento” à obediência de Cristo (10:5), e a “mente” que é guardada na paz de Deus, que excede todo entendimento (Fp 4:7). Na passagem em tela, Paulo está preocupado com o engano das mentes (não o comprometimento da moral) de seus leitores. O que ele quer dizer com estas palavras será revelado no versículo 4, mas antes de partirmos para lá é importante enfatizar que as mentes dos crentes são o alvo principal dos assaltos da serpente (que Paulo iguala a Satanás no v. 14), e tais ataques visam desviá-los de sua devoção a Cristo. Colin Kruse. II Corintos Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 195-196.
SÍNTESE DO TÓPICO I
Jesus Cristo, o Crucificado, é o centro da mensagem de Paulo.
SUBSÍDIO PEDAGÓGICO
Escreva na lousa a seguinte indagação: Por que a mensagem da Cruz é considerada loucura da pregação? Dê um tempo para que os alunos elaborem uma reposta. Após passar o tempo determinado, permita que cada aluno exponha a sua própria resposta. Aqui, não é importante saber se as repostas estão corretas. A ideia é introduzir a aula a partir do conhecimento prévio dos alunos. Depois das respostas deles, faça a exposição deste primeiro tópico e, ao final, peça aos alunos que respondam à pergunta novamente, comparando com as respostas anteriores. A Escola Dominical é uma oportunidade de conhecer a cultura bíblica de modo proativo.
II – EXPRESSÕES-CHAVE NA DOUTRINA DE PAULO
Há algumas expressões de grande importância no ministério de pregação do apóstolo Paulo: “Evangelho de Cristo”, “Cristo crucificado” e “Cristo ressurreto”. Vejamos:
1. “Evangelho de Cristo”.
Além de aparecer nos quatro Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João), a palavra “evangelho” também aparece nas cartas de Paulo: “evangelho de Cristo” (Rm 1.16). Das 76 ocorrências dessa palavra no NT, 54 vezes a encontramos nas cartas paulinas. Por isso, podemos dizer que ela é central para a doutrina ensinada pelo apóstolo. No Novo Testamento, a palavra grega para “evangelho” é evangelion. O prefixo eu é uma forma neutra da palavra que significa “bom, bem feito”. Assim, a palavra “evangelho” significa “boa-nova; boa notícia que se leva às pessoas”. Nosso Senhor ordenou que fosse levada a boa-nova da sua doutrina a toda criatura (Mc 16.15). Paulo fez assim e, não por acaso, identificava sua pregação como “o evangelho de Deus” (1 Ts 2.2,8,9; 2 Co11.7; Rm 1.1,15,16). O seu Evangelho era a manifestação do poder de Deus (Rm 1.16,17). É um poder divino e dinâmico que atua de maneira imediata na vida do pecador.
Comentário
A primeira expressão-chave da teologia de Paulo é: “Evangelho de Cristo” (Rm 1.16). A palavra “evangelho” aparece não só nos quatro evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, como também nos escritos de Paulo. O evangelho era o termo central da teologia de Paulo. Das muitas vezes em que essa palavra foi citada no Novo Testamento, 54 vezes a encontramos nas cartas de Paulo. O significado original da palavra evangelho no grego do Novo Testamento é euangelion. O prefixo eu é uma forma neutra desse termo, que significa “bom, bem-feito”. Por isso, a palavra evangelho tem o significado de “boa nova; boa notícia que se leva às pessoas”. Jesus ordenou que se levasse as Boas Novas da sua doutrina a toda criatura (Mc 16.15). Paulo sempre identificava sua pregação como “o evangelho de Deus” (1 Ts 2.2,8,9; 2 Co 11.7; Rm 1.1,15,16). No texto de Romanos 1.16,17, Paulo apresentou o evangelho como a manifestação do poder de Deus. No grego bíblico, “poder” é dunamis, para realçar o fato de que o evangelho é dinâmico, não apenas atraente como se fosse uma ideia ou filosofia. A palavra poder, em relação ao evangelho, significa mais que a capacidade de dar uma boa notícia. Poder, no contexto da evangelização, significa o poder interventor, imediato e instantâneo de Deus na vida do pecador. Paulo fala que, pela pregação desse evangelho, se descobre a justiça de Deus, como está escrito: “Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé” (Rm 1.17). Que justiça é essa? É a justiça outorgada, concedida, produzida e imputada por Deus ao pecador arrependido. Essa justiça revela-se de fé em fé e significa que é alcançada pela fé nos méritos de Jesus. Na cruz do calvário, Jesus recebeu toda a justiça de Deus em favor do pecador. Por isso, a mensagem do apóstolo Paulo era o “evangelho” da paz e da justificação perante Deus, o Pai. Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.
Paulo conclui sua extensa abertura da carta, na qual ele se esmerou em se apresentar a si mesmo e ao evangelho que ele prega, com uma declaração temática sobre a natureza do seu evangelho. Por causa da oposição que sua mensagem instigava, tanto dentro de círculos cristãos (cf. Rm 3.8) quanto fora, ele prefacia sua declaração com forte afirmação: “[Eu] não me envergonho do evangelho de Cristo”. Usando esta frase, Paulo identifica sua pregação com o mesmo evangelho do qual Jesus ordenou que seus seguidores não tivessem vergonha (Mc 8.38; Lc 9-26). Paulo não se envergonha do evangelho porque nada mais é que o veículo do “poder [dynamis] de Deus”, capacitando todos os que creem a serem salvos da ira, tanto agora (cf. v. 18) como no tempo do fim. O evangelho, a proclamação da obra de Deus em Cristo, efetua a salvação que descreve. Como afirma Wright: “O evangelho […] não é apenas sobre o poder de Deus que salva pessoas. É o poder de Deus em ação para salvar pessoas” (1997, p. 6l). Quando o evangelho é pregado, vicias são tocadas e transformadas pelo poder de Deus. A ordem de salvação dada ao término do versículo 16: “Primeiro do judeu e também do grego”, reflete a primazia dos judeus como povo escolhido de Deus. A ordem aparece neste contexto não tanto como uma declaração de prioridade, mas como uma proclamação da abrangência do evangelho. Dito de outra maneira, Paulo está dizendo que este é o meio exclusivo de salvação para judeus e gentios. O que ele quer dizer com isso ficará evidente na carta: A lei já não é um fator na equação da justiça. Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. pag. 819.
Que testemunho: “Sou devedor! Estou pronto! Não me envergonho!” Por que Paulo sequer teria sido tentado a envergonhar-se do evangelho ao planejar sua viagem para Roma? Em primeiro lugar, o evangelho era identificado com um carpinteiro judeu pobre que fora crucificado. Os romanos não cultivavam qualquer apreciação especial pelos judeus, e a crucificação era a forma de execução mais abjeta, reservada a criminosos. Por que deveriam crer num judeu que havia sido crucificado? Roma era uma cidade altiva, e o evangelho vinha de Jerusalém, a capital de uma das nações minúsculas que Roma havia conquistado. Os cristãos daquela época não faziam parte da elite da sociedade; eram pessoas comuns e, até mesmo, escravos. Roma teve muitos grandes filósofos e filosofias; por que dar atenção a uma fábula sobre um judeu que ressuscitou dentre os mortos? (1 Co 1:18-25). Os cristãos consideravam-se irmãos e irmãs, todos membros de um só corpo em Cristo, o que ia contra todo o orgulho e dignidade dos romanos. É quase cômico pensar que um judeu desconhecido, que vivia da confecção de tendas, planejasse ir a Roma pregar tal mensagem. Paulo não se envergonhava do evangelho. Ele confiava em sua mensagem e nos deu várias razões por que não se envergonhava. A origem do evangelho: é o evangelho de Cristo (v. 16a). Qualquer mensagem vinda de César chamava de imediato a atenção dos romanos. Mas a mensagem do evangelho vinha do Filho de Deus! Em sua frase de abertura, Paulo a chamou de “evangelho de Deus” (Rm 1:1). Como o apóstolo poderia envergonhar-se de tal mensagem, quando era vinda de Deus e tratava de seu Filho, Jesus Cristo? Quando eu cursava o ensino médio, fui escolhido para ser monitor da diretoria do colégio. Os outros monitores ficavam nos corredores da escola, mas eu tinha o privilégio de ficar à porta da diretoria. Fazia parte das minhas incumbências transmitir recados a professores e funcionários, e de vez em quando até a outras escolas. Era divertido entrar nas salas e interromper a aula! Nenhum professor me repreendia pela interrupção, pois todos sabiam que eu trazia recados do diretor. Não precisava ter medo nem vergonha, pois sabia de onde vinha a mensagem que eu transmitia. A operação do evangelho: é o poder de Deus (v. 16b). Por que se envergonhar do poder? Essa era a coisa da qual Roma mais se orgulhava. A Grécia tinha a filosofia, mas Roma tinha poder. O temor de Roma pairava sobre o império como uma nuvem. Afinai, não eram conquistadores? Não havia legiões romanas postadas ao longo de todo mundo conhecido? Mas, com todo seu poderio militar, Roma ainda era uma nação fraca. O filósofo Sêneca chamou a cidade de Roma de “fossa de iniquidade”, e o escritor Juvenal chamou-a de “esgoto imundo, inundado pelas escórias do império”. Não é de se admirar que Paulo não se envergonhasse: levaria à cidade corrompida de Roma a única mensagem com poder para transformar a vida dos seres humanos! O apóstolo vira o evangelho operando em cidades perversas como Corinto e Éfeso e estava convicto de que também agiria em Roma. O evangelho transformara a própria vida dele, e Paulo sabia que as boas novas eram capazes de transformar a vida de outros. Havia um terceiro motivo pelo qual Paulo não se envergonhava o efeito do evangelho: é o poder de Deus para a salvação (v. 16c). A palavra “salvação” era extremamente significativa no tempo de Paulo. Seu sentido principal era “livramento” e se aplicava ao livramento pessoal e nacional. O imperador era considerado um salvador, como também o era um médico que curava alguém de uma enfermidade. O evangelho livra os pecadores do castigo e do poder do pecado. A “salvação” é um dos temas centrais desta epístola e é a grande necessidade da raça humana (ver Rm 10: 1, 9, 10). A única maneira de homens e mulheres serem salvos é pela fé em Jesus Cristo, conforme é proclamado no evangelho. O alcance do evangelho: “todo aquele que crê” (vv. 16d, 17). Não se tratava de uma mensagem exclusiva apenas para judeus ou para gentios; era para todas as pessoas, pois todas as pessoas precisam ser salvas. “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” – essa foi a comissão dada por Cristo (Mc 16:15). A expressão “primeiro do judeu” não dá a entender que o judeu é melhor que o gentio, pois não há diferença alguma entre um e outro, nem na condenação e nem na salvação (Rm 2:6-11; 10:913). O evangelho foi transmitido “primeiro ao judeu” no ministério de Jesus Cristo (Mt 10:5-7) e dos apóstolos (At 3:26). Como é maravilhoso ter uma mensagem de poder, apropriada para ser levada a todas as pessoas! Deus não pede que as pessoas se comportem bem a fim de ser salvas, mas sim que creiam. É a fé em Cristo que salva o pecador. A vida eterna em Cristo é a única dádiva perfeita para todas as pessoas, quaisquer que sejam suas necessidades ou sua situação na vida. Romanos 1: 1 7 é o versículo-chave da epístola. Nele, Paulo anuncia o tema: “a justiça de Deus”. O termo “justiça” (e variações como justo, justificação e justificado) é usado mais de 60 vezes nesta carta. A justiça de Deus é revelada no evangelho, pois, pela morte de Cristo, Deus revelou sua justiça ao punir o pecado e, na ressurreição de Cristo, revelou sua justiça ao oferecer a salvação ao pecador que crer. O dilema: “como é possível um Deus santo perdoar pecadores e, ainda assim, permanecer santo?”, é solucionado no evangelho. Pela morte de Jesus Cristo, Deus pode ser “justo e o justificador” (Rm 3:26). O evangelho revela uma justificação pela fé. No Antigo Testamento, a justificação dava-se pelas obras, mas o pecador logo descobria que não era capaz de obedecer à Lei de Deus nem de preencher todos os requisitos justos. Aqui, Paulo faz referência a Habacuque 2 :4: “mas o justo viverá pela sua fé”. Esse versículo é citado três vezes no Novo Testamento: Romanos 1:17; Gálatas 3:11 e Hebreus 10:38: Romanos explica “o justo”; Gálatas explica “viverá” e Hebreus explica “pela fé”. Encontramos mais de 60 referências à fé ou à incredulidade em Romanos. Ao estudar Romanos, entramos em um tribunal. Primeiro, Paulo chama judeus e gentios a depor e os declara culpados diante de Deus. Em seguida, explica o plano maravilhoso de salvação que Deus oferece – a justificação pela fé. Nesse ponto, refuta seus acusadores e defende a salvação divina. “Esse plano de salvação será um incentivo para as pessoas pecarem!”, exclamam os acusadores. “É contrário a Lei de Deus!”. Mas Paulo contesta essas declarações e, ao fazê-lo, explica de que maneira o cristão pode ter vitória, liberdade e segurança. WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pag. 671-672.
2, “Cristo Crucificado”.
Em Gálatas 3.1, Paulo escreve: “[…] Não foi diante dos olhos de vocês que Jesus Cristo foi exposto como crucificado?” (NAA). A palavra da cruz, na lógica paulina, é o tema dominante na mensagem do Evangelho. Se o mundo julgava como loucura a mensagem do Messias Crucificado, o apóstolo afirmava que a mensagem era a mais sublime demonstração da sabedoria de Deus. Ora, a cruz traz uma ideia de fraqueza ou loucura a quem não crê, mas “poder” e “sabedoria” de Deus para os que creem no Senhor. Esse contraste entre “sabedoria” e “loucura” está presente na mensagem de Paulo (1 Co 2.6). Os homens não conseguem alcançar a sabedoria divina, pois estão escravos do pecado e, por isso, para eles essa sabedoria é loucura. Por isso que o Evangelho não foi anunciado por mera sabedoria humana, mas apresentado por meio de “Jesus Cristo, o Crucificado” (1 Co 2.2). Não podemos deixar de pregar o Cristo Crucificado. O tema da expiação dos pecados deve ser mais pregado e ensinado em nossas igrejas.
Comentário
A segunda expressão-chave da pregação de Paulo é “Cristo crucificado” de 1 Coríntios 1.23: “Mas nós pregamos a Cristo crucificado”. Sem dúvida, a centralidade da cruz na pregação e ensino de Paulo é o evangelho caracterizado em sua própria declaração: “Mas nós pregamos a Cristo Crucificado”. Martinho Lutero comparou a teologia da glória que alguns teólogos preferiam com uma “teologia da cruz”, uma vez que alguns teólogos relegavam a mensagem da cruz como algo vergonhoso. Ora, a teologia da cruz é aquela na qual que Deus revelou o “Cristo crucificado”. “Para Lutero, a cruz não era apenas a base da salvação humana, era a base da auto-revelação divina, na qual se encontrava a verdadeira teologia e o conhecimento de Deus”. Na verdade, o centro de gravidade da teologia de Paulo está na morte e ressurreição de Jesus. Esses dois elementos da obra salvadora de Deus exercem papel decisivo como solução para o perdão dos pecados. Paulo disse aos gálatas (3.1) que “Jesus Cristo foi exposto diante dos olhos de todos como crucificado” (NAA). O Cristo crucificado diante dos judeus foi inaceitável tanto quanto foi loucura para os gentios. A crucificação era para os judeus a mais degradante e vergonhosa das mortes que os romanos faziam. Por isso, um Cristo poderoso, Filho de Deus e o Messias Prometido não podia ser aquEle que foi crucificado pelos romanos. Mas Paulo entendeu pelo Espírito que o “Cristo Crucificado” era “poder de Deus e sabedoria de Deus” (1 Co 1.24). A palavra da cruz, na lógica de Paulo, era o tema dominante da mensagem do evangelho. O mundo julgava loucura a mensagem do Messias crucificado, mas Paulo afirmava que essa mensagem era a mais sublime demonstração da sabedoria de Deus. A ideia que a cruz oferece é de fraqueza e loucura, mas para os que creem em Cristo é “poder de Deus e sabedoria de Deus”. O contraste entre loucura e sabedoria é demonstrada por Paulo quando este declara que “a sabedoria deste mundo se reduz a nada” quando comparada e contrastada com a sabedoria de Deus (1 Co 2.6). A sabedoria de Deus, quando contrastada com a mensagem da cruz, torna-se impossível de ser reconhecida pelos ímpios. Por isso, o conteúdo de sua mensagem não era a linguagem atrativa de sabedoria humana, mas “Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2.2). Paulo insiste que sua mensagem era uma mensagem de sabedoria (1 Co 2.6). Esta é a mensagem que precisa ser resgatada no meio cristão: “O Cristo crucificado e ressuscitado”. Está faltando nos nossos púlpitos evangélicos mensagens que centralizem a morte de Jesus e sua ressurreição, não apenas em datas comemorativas, mas sempre. A doutrina da expiação precisa ser mais pregada e ensinada. Somos tentados a pregar temas modernos com linguagem rebuscada na sabedoria secular, mas o Espírito quer resgatar o conteúdo de nossa mensagem voltando às origens do evangelho que não se envergonha da cruz de Cristo. Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.
Paulo não procurava apresentar uma mensagem artística e impressionante aos ouvidos, para então, ao longo da mesma, deixar escapar algumas das reivindicações de Cristo. Pelo contrário, seguia diretamente para a apresentação da pessoa de Jesus Cristo e para o tema central de sua expiação na cruz do Calvário. (Comparar com I Cor. 1:23, acerca de idêntica declaração, onde esse conceito e comentado). Naturalmente, isso não quer dizer que Paulo pregasse exclusivamente sobre a crucificação de Jesus, sobre a expiação, sobre a reconciliação e sobre o perdão dos pecados, pois suas epistolas mostram-nos que ele pregava sobre uma gama extremamente variada de temas, ainda que fizesse tudo subordinar-se a Cristo. Assim sendo, ele não pretende oferecer-nos aqui uma lista exaustiva dos temas que expunha; antes, indicou aqui o centro (e não a circunferência) da sua mensagem. A cruz não pode ser separada da mensagem inteira da redenção por intermédio de Cristo, a qual também inclui a ressurreição e a glorificação finais, além de vários outros temas. Pois, se começarmos com Cristo, na cruz, terminaremos com Cristo, na gloria. Também entenderemos que o crente está identificado com ambos esses aspectos, com a morte de Cristo e com a sua vida ressurreta. Aquilo que causava ofensa para os judeus, levando-os a tropeçarem, e que parecia uma insensatez para os gregos, era exatamente o que Paulo frisava em sua mensagem. Podemos supor, com base na maneira enfática como Paulo declara essa questão, que alguns de seus detratores, fazendo-se imitadores de Apoio, em suas eruditas mensagens propositadamente excluíam qualquer menção a cruz, o que Paulo reputava como o epicentro mesmo da mensagem crista. Se essa suposição está com a razão, então podemos compreender por qual razão ele já havia salientado tão fortemente essa mensagem. Talvez a mensagem da cruz fosse ofensiva para alguns, ou mesmo uma pedra de tropeço para outros, na própria igreja crista de Corinto, e não somente para judeus e gregos incrédulos, estranhos aquela comunidade. Os oradores cristãos que tendiam para a ostentação, pois, procuravam reduzir ao mínimo o tema central que Paulo salientava ao máximo. ≪Ele ‘Paulo’ resolveu aferrar-se a esse método até mesmo depois de ter pregado em Atenas, onde fora praticamente expulso dentre seus ouvintes com gargalhadas. A cruz só aumentava ainda mais o ‘scandalon’ da encarnação; mas Paulo se mantinha fiel a vereda principal, tendo chegado a Corinto≫. (Robertson, in loc.). ≪O proposito de Paulo, ao assim dizer, era o de evitar as teorias de todas as modalidades, aderindo rigidamente ao cristianismo, em sua forma mais concreta, conforme se vê na pessoa e na obra de seu fundador≫. (Kling, in loc.). Por essas razoes, aqueles, em nossos tempos modernos, que pregam mais contra o modernismo e contra o comunismo do que anunciam a Cristo, como também aqueles cujas mensagens não se centralizam em Cristo, deveriam dar nova atenção aos métodos e a mensagem do apostolo dos gentios. A preocupação de Paulo, em manter-se dentro dos limites dessa forma de mensagem se derivava do fato que ele estava convencido de que somente através dessa mensagem os homens podem ser reconduzidos a Deus. A sabedoria humana de forma alguma pode concretizar isso. Para nós, a cruz tem sido como que glorificada, devido a muitos séculos de tradição eclesiástica. Até mesmo no mundo profano essa palavra tem adquirido certos sentidos simbólicos positivos, sendo empregada como símbolo de empreendimentos de valor, tendo sido incluída nos nomes de cidades e organizações diversas. Para os homens dos tempos apostólicos, entretanto, a palavra ≪cruz≫ dava a impressão de opróbrio e derrisão. Por conseguinte, fazer da cruz o centro da mensagem crista pareceria, para alguns, ser uma medida detrimente para o progresso do cristianismo. CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 28.
Porque determinei nada saber entre vós etc. Visto que o grego, Kpívav, às vezes significa, ou seja, selecionar algo como valioso, penso que ninguém em são juízo negará que minha tradução é mais plausível, visto ser consistente com a construção [do grego]. Todavia, se o traduzirmos “não estimei nenhum tipo de conhecimento” não haveria qualquer discordância nisso. Mas se o leitor completa algo que está faltando, a oração ficará plenamente bem, como esta: “Nada valorizei em mim mesmo como importante para eu conhecer, ou como base de conhecimento.” Ao mesmo tempo, de forma alguma rejeito uma interpretação diversa, ou, seja, considerando Paulo como que afirmando que nada estimou como conhecimento, ou como merecedor de ser chamado conhecimento, a não ser exclusivamente Cristo. Se este é o caso, a preposição grega, am, teria de ser suprimida, como às vezes sucede. Mas, se a primeira interpretação não for reprovada, ou se a segunda for a mais satisfatória, equivale ao seguinte: “Quanto à ausência de ornamentos em minha linguagem, e também a ausência de mais elegância em meus discursos, a razão se deveu ao fato de não haver corrido após tais coisas; aliás, desdenhei delas, porquanto uma só coisa ocupava meu coração – que eu pudesse proclamar Cristo com simplicidade.” Ao adicionar o termo, crucificado, Paulo não pretendia dizer que ele nada proclamava com respeito a Cristo senão a cruz, mas que todo o vilipêndio da cruz não o impedia de proclamar a Cristo. É como se quisesse dizer: “A ignomínia da cruz não me impedirá de contemplar Aquele*’1′ de quem provém a salvação, ou me leve a envergonhar-me de ter toda minha sabedoria compreendida nele – Aquele a quem os soberbos tratam com desdém e rejeitam em razão da ignomínia de cruz.” Portanto, o que ele diz deve ser explicado da seguinte maneira: “Nenhum tipo de conhecimento, a meu ver, foi tão importante para mim que me fizesse desejar algo mais além de Cristo, ainda que continuasse crucificado.” Esta pequena frase é adicionada à gusa de adição, com o fim de causar ainda mais irritação àqueles mestres arrogantes, para quem Cristo era alvo de desprezo, pois seu maior desejo era ser aplaudidos pela reputação de possuírem alguma sorte de sabedoria superior. Este é um versículo muitíssimo belo, e dele podemos aprender o que um ministro fiel deve ensinar, e o que devemos cultivar ao longo de toda nossa vida; e comparado a isso tudo o mais deve ser considerado a esterco [Fp 3.8]. Calvino. João,. Série de Comentários Bíblicos João Calvino Vol. 10. 1 Coríntios. Editora Edições Parakletos. pag. 75-76.
3. “Cristo Ressurreto”.
Não há importância na morte de Cristo se Deus não o tivesse ressuscitado. Sem a ressurreição, a cruz não teria sentido. Em vão seria a nossa pregação sobre a morte de Jesus Cristo (1 Co 15.14). Por isso, o apóstolo descreve de maneira sublime: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Co 15.3,4). A ressurreição de Cristo é reafirmada pelo apóstolo; ela completou a obra de salvação, consumando a nossa libertação do domínio do pecado e a nossa justificação diante do Senhor. Logo, a relação entre a cruz e o túmulo vazio de Jesus expressa o real significado da cruz. Ora, a crucificação e a ressurreição formam uma unidade. Portanto, nosso Senhor é proclamado como o Crucificado e, ao mesmo tempo, o Ressurreto.
Comentário
A terceira expressão-chave da teologia de Paulo era a proclamação de que “Cristo ressuscitou” (1 Co 6.14; 15.20). Como a cruz e a ressurreição de Cristo se relacionam? Esses dois assuntos são tratados na teologia cristã como fatos sequentes, pois não haveria ressurreição sem morte. Não haveria importância da morte de Cristo se Deus não o tivesse ressuscitado. Sem a ressurreição, a cruz não teria razão de ser. Em vão seria a nossa pregação sobre a morte de Cristo se Deus não o tivesse ressuscitado (1 Co 15.14). Aos gálatas, Paulo simplesmente apresentou o retrato aberto de Jesus Cristo como crucificado (Gl 3.1), mas aos coríntios, ele declarou que “[…] Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras […]” (1 Co 15.3,4). Se Cristo tivesse apenas morrido e não tivesse ressuscitado, o evangelho seria nulo, mas foi a sua ressurreição que anulou por completo o domínio do pecado e propiciou a nossa justificação perante o Senhor. A cruz de Cristo não é de somenos importância na doutrina da expiação, porque é a ressurreição de Cristo que dá sentido à cruz, sendo está o verdadeiro centro de gravidade da obra soteriológica de Deus. Paulo, ao defender a doutrina da ressurreição dos mortos em Cristo, escreveu aos coríntios: “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (1 Co 15.12-14). A fé que pregamos baseiase no fato da ressurreição de Cristo. Sem ela, a fé seria vã, e a nossa pregação perderia força. Portanto, a ressurreição de Jesus de entre os mortos faz parte do conteúdo central da teologia de Paulo, que dá ênfase doutrinária sobre a ressurreição de Jesus como elemento-chave para a pregação do evangelho. A relação entre a cruz e o túmulo vazio de Jesus nada mais é que “a expressão a significância da cruz”. Ora, cruz e ressurreição formam uma unidade; por isso, Cristo é proclamado como o crucificado e, ao mesmo tempo, o ressuscitado. Cabral. Elienai,. O Apostolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do Apostolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.
A pregação e a fé são encaradas como ≪vãs≫, palavra essa que, neste contexto, significa vazias, no sentido de vazias de qualquer sentido e esperança, no que concerne a vida eterna. Ora, a vida eterna e o alvo para o qual aponta a missão inteira de Cristo, mas tudo isso ficaria sem efeito se Cristo não ressuscitou. Paulo não aborda aqui a possibilidade da ≪sobrevivência≫ da alma de Cristo, e nem a possibilidade da promessa da ≪sobrevivência da alma≫ de todos os homens. Para os oponentes de Paulo, entretanto, isso já seria uma tão grande esperança como uma ressurreição ≪corporal≫ poderia sê-lo; porque Deus e Espirito, e existem outros seres espirituais de elevada estatura e magnificência. Assim sendo, se Jesus Cristo, em espirito, retornou a Deus Pai, na qualidade de ≪logos≫ eterno (o qual certamente não tinha ≪carne≫ originalmente, isto e, não tinha corpo físico), tendo sobrevivido a morte física, que consistiu apenas do deixar de lado o seu veículo físico de que ele necessitava para manifestar-se neste plano terreno, então todos os homens deverão assim sobreviver. De fato, esse e o ensino do N.T., bem como do próprio Paulo, em outros trechos bíblicos. Imortalidade, e de origem paulina, a saber, o trecho do quinto capitulo da segunda epistola aos Coríntios. Poder-se-ia argumentar, por conseguinte, a base até mesmo de outras passagens paulinas, que a gloria pode ser obtida e será obtida inteiramente a parte da ressurreição do corpo, como no caso dos espíritos desencorporados, que já atingiram a gloria de determinado nível. Portanto, não se segue logicamente daí que a ausência da ressurreição implica em ausência de esperança, e nem que a pregação e a fé sejam vãs. Mas daí se segue que os níveis superiores da ≪imortalidade crista≫ seriam postos em dúvida, porquanto a plena restauração da personalidade humana depende da ressurreição, segundo este capitulo claramente o demonstra, conforme diz também a doutrina crista comum. Contudo, em nenhum sentido absoluto se pode pensar que a pregação e a fé se tornam necessariamente vãs sem a ressurreição. O pensamento da realização final, na imortalidade, poderia ser rotulado de ≪vão≫ sem a ressurreição. Porém, em seu entusiasmo, Paulo tende a exagerar o seu caso, conforme foi comentado nas notas de introdução ao decimo segundo versículo deste capitulo. Se alguém sentisse, conforme os antigos hebreus pensavam, que a alma não sobrevive a morte física, e que ≪toda a imortalidade≫ depende da ressurreição do corpo, então aquilo que Paulo diz neste versículo seria verdade sem quaisquer restrições. Mas é indubitavelmente verdadeiro, em qualquer caso, que os opositores de Paulo, que tinham firme esperança na imortalidade da alma, não veriam qualquer razão em intitular de ≪va≫ a esperança em Cristo, mesmo que ele não tivesse saído do sepulcro dotado de uma forma física, e certamente mesmo que os homens venham a perder seus veículos físicos, porque tal perda, para eles, haveria de parecer uma vantagem, e não um detrimento. Ha um bom argumento de Paulo, nesta passagem, no sentido que a ressurreição de Cristo não deve ser considerada como um fato isolado, como uma peculiaridade, mas antes, essa ressurreição esta vitalmente vinculada ao destino de todos os homens. Isso torna necessária a aceitação tanto da própria ressurreição como das suas implicações, no tocante a ressurreição em sentido geral. ≪Visto que nossa pregação não e vá, e que a vossa fé não e vá, então Cristo foi ressuscitado≫. (Origenes, in loc.). A despeito das dificuldades que há nesta passagem (observadas nas notas introdutórias ao decimo segundo versículo), a verdade que ela destaca, e essencial. A vida eterna se encontra no Salvador ressurreto, e devido ao fato que ele ressuscitou. O destino espiritual dos homens está envolvido nesse fato. Existe um estado intermediário e imaterial em que a alma e elevada a um nível muitíssimo mais elevado que o nível dos seres humanos mortais (embora esse aspecto Paulo aparentemente tenha ignorado neste ponto). Entretanto, existe aquela maior e mais elevada imortalidade, através do poder da ressurreição, em qualquer forma que essa ressurreição assuma, porquanto há uma restauração da personalidade humana inteira, uma forma de glorificação (porquanto isso fara parte da glorificação), que elevara os homens que tem confiado em Cristo a uma posição superior àquela obtida quando da mera sobrevivência da alma. E nesse ponto que a ≪ressurreição≫ se torna importante; pois, através dela, são atingidos os níveis superiores da imortalidade. Esse e o ensino extraordinariamente importante deste texto. E por isso também que os versículos dezessete e dezoito deste capitulo mostram-nos que a totalidade da vida, incluindo o estado intermediário imaterial, com toda a sua gloria, depende da ressurreição. Isso porque a vida ressurreta e a substancia mesma dessa vida, como também e a garantia de uma gloria futura maior. ≪A filosofia do relativismo e do pragmatismo moral, a despeito dos rabiscos de valor que possa possuir, deveria expurgar-se da arrogância que quer por de lado praticamente dois mil anos de história e experiência cristas. O evangelho, autenticado pela ressurreição, que tem suportado tal texto e é a única esperança da humanidade, no sentido de contrabalançar o espirito secularista dos séculos, o evangelho que tem conseguido e obtém o amor e a lealdade de tão grande multidão de homens, entre os quais tantos são pensadores, está perfeitamente confirmado, não podendo ser posto de lado. Por semelhante modo, isso não poderia ser alicerçado sobre uma mentira, sobre uma ilusão. As mentiras tem pernas curtas; podem obter resultados somente a curto termo. As ilusões não demoram a ser despedaçadas pela forca atômica da verdade e da realidade. Dois mil anos e um longo tempo. O testemunho de milhões de testemunhas, até os nossos dias, serve de uma evidencia deveras impressionante. Como alguma mente moderna, alerta e sensível para tal evidencia e experiência, poderia ao menos abrigar o pensamento que Cristo não ressuscitou dentre os mortos?≫ (John Short, in loc.). CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 244-245.
Então é vã nossa pregação, não simplesmente porque ela inclua um certo elemento de falsidade, mas porque é indigna e um completo logro. Pois o que fica se Cristo foi devorado pela morte: se foi aniquilado; se sucumbiu-se sob a maldição do pecado; se, finalmente, ficou cativo de Satanás? Numa palavra, uma vez que o princípio fundamental foi removido, tudo o que resta será de nenhum valor. Pela mesma razão ele adiciona que a fé deles seria inútil; pois que solidez de fé pode haver, quando nenhuma esperança de vida vigora? Mas que na morte de Cristo, considerada em si mesma,84“ nada descobrimos senão motivo para desespero; pois aquele que foi completamente vencido pela morte não pode efetuar a salvação de outros. Lembremo-nos. pois, que o principal fundamento de todo o evangelho é a morte e ressurreição de Cristo; de sorte que devemos dedicar especial atenção a ambas, caso queiramos fazer bom e normal progresso no evangelho, ou antes, se não quisermos permanecer estéreis e infrutíferos [2Pe 1.8]. Calvino. João,. Série de Comentários Bíblicos João Calvino Vol. 10. 1 Coríntios. Editora Edições Parakletos. pag. 465. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação. “ Então” (AV) é ara, uma partícula inferencial. Implica em que o que se segue é a consequência lógica do anterior. Vã (kenon) vem primeiro, com ênfase. A palavra significa “ vazio” . Se não há ressurreição por trás da pregação, esta, que se demonstrou que não é peculiar a Paulo, mas comum a todos os apóstolos (v.11), não tem conteúdo, não tem substância. É a ressurreição que mostra que Deus está na pregação, e, se não houve ressurreição, então a coisa toda é um embuste. Pregação é kêrugma (ver a nota sobre 1:21). Denota, não o ato de pregar, mas o conteúdo da pregação, a coisa pregada, a mensagem. A ordem das palavras na última parte do versículo é, “ vã também a vossa fé” (cf. a ARA; na AV, “ e a vossa fé também é vã” ), o que coloca outra vez a ênfase sobre vã. A fé dos coríntios dependia do Evangelho que a tinha feito surgir. Se esse Evangelho era uma impostura, então o era também a fé produzida por ele. Leon Monis. I Corintos Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 168-169.
SÍNTESE DO TÓPICO II
“Evangelho de Cristo”, “Cristo crucificado” e “Cristo ressurreto” são expressões-chave na doutrina de Paulo
CONHEÇA MAIS
*A Cruz de Cristo
“A cruz de Cristo está cheia do poder de Deus, porque foi o meio pelo qual Jesus realizou nossa salvação quando derramou o seu sangue e morreu por nós. Tentar explicar a cruz ou deduzir sua importância em termos de sabedoria e filosofia humanas implicaria furtá-la do seu poder, ou seja, da sua capacidade de transformar os pecadores em santos. É exatamente isto que os teólogos liberais estão fazendo hoje”. Para ler mais, consulte o “I e II Coríntios: Os Problemas da Igreja e Suas Soluções”, editado pela CPAD, p.28.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Paulo não se envergonhava porque pregava sobre as Boas Novas a respeito de Cristo, uma mensagem de salvação que tem o poder de transformar vidas e é destinada a todos, sem exceção. Quando você sentir-se constrangido, lembre-se do significado das Boas Novas. Se fixar sua atenção somente em Deus e naquilo que Ele está fazendo, não em sua inaptidão, você não sentirá vergonha de anunciar o evangelho. […] As Boas Novas revelam como Deus foi justo em seu plano para nos salvar e como podemos estar prontos e adequados para a vida eterna. Ao confiar em Cristo, nosso relacionamento com Deus tornar-se perfeito” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.1552).
III – OS EFEITOS DA MENSAGEM DA CRUZ
1. Uma vida no poder de Deus.
A mensagem da cruz é uma mensagem de poder (1 Co 1.18). Por isso, devemos esperar a manifestação do poder ativo de Deus em nossa vida. O Senhor Jesus pode nos usar como instrumentos para salvar o pecador, curar enfermos e libertar as almas dos demônios (Mc 16.15-18). Os milagres da salvação, cura e libertação devem acompanhar a nossa vida no serviço do Reino de Deus. A mensagem que pregamos não é filosofia humana, mas o poder divino para a transformação da vida de quem crê no Evangelho (Rm 10.17).
Comentário
Paul Beasley-Murray comentando esse passo bíblico faz algumas considerações oportunas que vamos considerar. Em primeiro lugar, a boa nova é o próprio Jesus (16.15). As boas-novas (euangelion) é uma das palavras favoritas de Marcos. Ele a usa sete vezes (1.1,14,15; 8.35; 10.29; 13.10; 14.9). Para Marcos, a história de Jesus é a boa nova a ser proclamada. O evangelho é a mensagem de que Deus está agindo por meio de Jesus, seu Filho, trazendo libertação ao cativo, quebrando o poder do diabo, do pecado e da morte. Pelo evangelho proclamamos que em Jesus o curso da História tem sido mudado. Jesus pela sua morte e ressurreição estabeleceu o seu Reino. Isso é a grande boa nova do evangelho, diz Paul Beasley-Murray. Em segundo lugar, a boa nova de Jesus precisa ser pregada (16.15). O verbo pregar é outra palavra favorita de Marcos. Ela é encontrada quatorze vezes nesse evangelho, enquanto só aparece nove vezes em Mateus e Lucas. Marcos enfatiza que Cristo veio pregando (1.14). Marcos sabe que Jesus é mais do que um pregador, por isso, relata vários dos seus milagres, porém destaca a primazia do ministério de pregação de Jesus (1.38). Embora Jesus tenha se ocupado em atender as necessidades físicas das pessoas, Ele focou primordialmente as necessidades espirituais. Jesus chamou seus discípulos para pregar (3.14) e os enviou a pregar (6.12). Agora, Jesus ordena seus discípulos a pregar em todo o mundo. Dewey Mulholland diz que estar calado é um perigo maior que perseguição e morte. O evangelho só é boas-novas se for compartilhado. O propósito de Deus é o evangelho todo, por toda a igreja, em todo o mundo, a todas as criaturas. O evangelho deve ser pregado a todas as nações (13.10), em todo o mundo, a toda criatura (16.15). A Igreja precisa ser uma agência missionária. Ela precisa ser luz para as nações. Uma igreja que não evangeliza precisa ser evangelizada. A igreja é um corpo missionário ou um campo missionário. A evangelização é uma tarefa imperativa, intransferível e impostergável. O mundo precisa do evangelho e a salvação do evangelho precisa ser oferecida livremente a toda a humanidade, diz John Charles Ryle. Em terceiro lugar, a boa nova de Jesus precisa ser recebida (16.16). O evangelho somente é experimentado como boas-novas quando é recebido e crido. A Palavra de Deus é como espada de dois gumes, ao mesmo tempo em que traz vida, também sentencia com a morte. A Igreja é perfume de vida e também de morte, pois ninguém pode ficar neutro diante da mensagem do evangelho que ela proclama. Aos que recebem a mensagem, a Igreja é cheiro de vida para a vida, porém, àqueles que rejeitam as boas-novas, ela é cheiro de morte para a morte. Aquele que crê deve ser batizado e introduzido na comunhão da igreja. A fé, porém, precede ao batismo. O batismo não faz o cristão, mas demonstra-o. Uma pessoa pode ser salva sem o batismo, como o foi o ladrão que se arrependeu na cruz, mas jamais alguém pode ser salvo sem crer em Jesus. É a descrença e não a ausência do batismo a razão da condenação (16.16). John Charles Ryle corretamente afirma que milhares de pessoas são lavadas em águas sacramentais, mas jamais foram lavadas no sangue de Cristo. Isso, contudo, não significa que o batismo deve ser desprezado ou negligenciado. Certamente, Jesus não está dizendo que o batismo é necessário para a salvação, mas a pessoa que é salva deve ser batizada. É a rejeição de Cristo que traz a condenação eterna. Jesus foi claro, quando disse: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo 3.36). Adolf Pohl diz que o vínculo direto entre os termos não é “batismo e salvação”, mas “fé e salvação”, ou “incredulidade e condenação”. Em quarto lugar, a boa nova de Jesus precisa ser confirmada (16.17,18). Adolf Pohl corretamente afirma que os sinais não estão vinculados a cargos, mas em primeiro lugar à fé que deixa Deus ser Deus (5.36; 9.23; 11.22). Em segundo lugar, eles fazem parte do contexto missionário, pois o fato de eles “acompanharem” pressupõe que os discípulos estão a caminho para difundir o evangelho. Paul Beasley-Murray diz que o que temos aqui é descritivo e não prescritivo. O que temos aqui é um sumário da vida da Igreja primitiva. Os cristãos primitivos expulsaram demônios em nome de Jesus (3.15; 6.7,13; At 8.7,16,18; 19.12). Eles falaram em línguas (At 2.4; 10.46; 19.6; 1Co 12.10,28; 14.2-40). Paulo foi picado por uma víbora sem sofrer o dano de seu veneno letal (At 28.3-6). Eles impuseram as mãos sobre os enfermos para curá-los (At 28.8). Não há, porém, nenhuma alusão no Novo Testamento sobre a ingestão de veneno. O único registro que temos na história é de Eusébio, historiador da Igreja, que fala sobre Justus Barsabas, um cristão que, forçado a beber veneno, pela graça de Deus não morreu. Warren Wiersbe diz que alguns sinais descritos em Marcos 16.17,18 ocorreram durante o período apostólico descrito no livro de Atos. Eles foram as credenciais dos apóstolos (Hb 2.1-4; Rm 15.19; 2Co 12.12), mas não devemos presumir que eles pertencem a todos os crentes hoje. É insensatez tentar a Deus bebendo veneno, mas não é tolice confiar em Deus quando a obediência à sua vontade nos levar a situações perigosas. A presunção nos mata, mas a fé nos liberta.
B. Warfield, em conexão com esses dons especiais diz: “Esses dons eram parte das credenciais dos apóstolos, como os agentes autoritativos de Deus, na fundação da Igreja… tais dons necessariamente desapareceram, com os apóstolos”. Crisóstomo e Agostinho também eram da opinião que esses dons, com a morte dos apóstolos, cessaram de existir. Essa também era a opinião de Jonathan Edwards: “Esses dons extras foram dados para a fundação e estabelecimento da Igreja no mundo. Contudo, desde que o cânon das Escrituras se completou e a Igreja foi plenamente fundada e estabelecida, esses dons extraordinários cessaram de existir. Entre outros que expressaram um entendimento semelhante, estão Matthew Henry, George Whitefield, Charles H. Spurgeon, Robert L. Dabney, Abraham Kuiper, e G. T. Shedd.
Não é esse, porém, o nosso entendimento. Cremos que Deus pode e tem dado seus dons de sinais onde e quando quer, a quem quer, livre e soberanamente, segundo o seu beneplácito, para o louvor da sua própria glória, para a salvação dos eleitos e a edificação dos santos. A grande ênfase de Marcos é que quando a Igreja proclama a mensagem de Deus, o próprio Deus confirma essa mensagem com a manifestação do seu poder (1Co 2.4; 1Ts 1.5), transformando vidas, atraindo as pessoas irresistivelmente pelo seu poder sobrenatural. A Igreja é chamada para ser um sinal do Cristo vivo e ressurreto no mundo. William Barclay conclui o seu comentário de Marcos afirmando que a vida cristã é a vida vivida na presença e no poder daquele que foi crucificado e ressuscitou. O evangelista Marcos fecha as cortinas do seu livro, enfatizando duas gloriosas verdades: Em primeiro lugar, Cristo é coroado à destra de Deus Pai (16.19). Sua obra foi consumada. Seu sacrifício foi aceito. Ele que se humilhou foi exaltado sobremaneira (Fp 2.8-11). Agora, Ele está entronizado à destra do Pai, de onde intercede pela Igreja, de onde governa o universo e de onde vai voltar para buscar a sua noiva. Em segundo lugar, a Igreja em parceria com o Senhor realiza sua obra (16.20). Os discípulos partiram e pregaram por toda parte. O Senhor cooperou com eles confirmando a palavra por meio de sinais. A pregação do evangelho foi realizada com palavra e poder. A mensagem foi pregada aos ouvidos e também aos olhos. Esses cristãos, revestidos com o poder do Espírito Santo, mesmo perseguidos, empobrecidos e despojados de poder militar e influência política, empunharam a bandeira do evangelho, proclamaram com desassombro a mensagem da ressurreição e conquistaram o mundo com o poder do evangelho. LOPES. Hernandes Dias. Marcos O Evangelho dos milagres. Editora Hagnos. 1ª edição outubro de 2006 16.15.
Pregai o evangelho a toda criatura. Esta comissão em Marcos é provavelmente outra versão da Carta Magna missionária de Mateus 28.16-20, a qual foi dita no monte na Galileia. Jesus já dera uma comissão (Jo 20.21-23). A terceira comissão aparece em Lucas 24.44-49, que é igual a Atos 1.3-8. 16.16. E for batizado. A omissão de batizado com não-crer mostra que Jesus não torna o batismo essencial para a salvação. A condenação apoia-se na não-crença e não na falta de batismo. Portanto, a salvação apoia-se na crença. O batismo é meramente a figura da nova vida, e não o meio de obtê-la. Mesmo que o texto ligue o batismo com a salvação, a sua canonicidade questionável não pode exceder em valor outros textos indisputáveis que claramente ensinam que só a fé (não a obra do batismo) é necessária para a salvação. 16.17. Falarão novas línguas. Vimos a expulsão de demônios no ministério de Jesus. Porém, falar línguas entra na era apostólica (At 2.3,4; 10.46; 19.6; 1 Co 12.28; 14.1-40). 16.18. Pegarão nas serpentes. Jesus dissera algo semelhante em Lucas 10.19, e Paulo passou incólume pela serpente em Malta (At 28.3-6). E, se beberem alguma coisa mortífera. Este é o único exemplo no Novo Testamento da antiga palavra grega (“mortífera”, “fatal”). Tiago 3.8 tem (“mortal”). A. B. Bruce considera esses versículos em Marcos “um grande lapso do alto nível da versão de Mateus das palavras de despedida de Jesus” e defende que “pegar em serpentes venenosas e beber venenos mortais parecem nos apresentar ao crepúsculo da história apócrifa”. A grande dúvida relativa à autenticidade desses versículos (em minha opinião, são provas bastante conclusivas contra eles) toma ininteligente aceitá-los como fundamento de doutrina ou prática, a menos que sejam apoiados por outras porções genuínas do Novo Testamento. T. ROBERTSON. Comentário Mateus & Marcos. À Luz do Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag. 544-545.
A incumbência que o Senhor Jesus lhes deu de estabelecerem o seu reino entre os homens, por meio da pregação do seu Evangelho, as boas-novas da reconciliação com Deus, por meio de um Mediador. Agora observe:
A quem eles deveriam pregar o Evangelho. Até aqui, eles tinham sido enviados somente as ovelhas perdidas da casa de Israel, e estavam proibidos de ir pelo caminho das gentes (gentios), ou de entrar em qualquer cidade dos samaritanos (Mt 10.5). Mas agora, a comissão deles e ampliada, e eles tem autorização para ir a todo o mundo, a todas as partes do mundo, do mundo habitável, e pregar o Evangelho de Jesus Cristo a toda criatura, tanto aos gentios como aos judeus; a toda criatura humana que seja capaz de recebe-lo. “Informem-lhes a respeito de Jesus Cristo, da história da sua vida, morte e ressurreição; instruam-nos sobre o significado e o objetivo dessas coisas, e sobre os benefícios que os filhos dos homens tem, ou podem ter, através delas.
E convidem-nos, sem exceção, a vir e compartilhar esses benefícios. Isto e o Evangelho. Que ele seja pregado em todos os lugares, a todas as pessoas”. Esses onze homens não podiam p regar pessoalmente o Evangelho a todo o mundo, e muito menos a toda criatura que houvesse nele; mas eles, e os outros discípulos, que eram setenta, com aqueles que posteriormente se juntariam a eles, deveriam se dispersar em diversas direções, e, para onde quer que fossem, deveriam levar consigo o Evangelho. Eles deveriam enviar outros aqueles lugares aos quais não pudessem ir pessoalmente, e, em resumo, dedicar as suas vidas a enviar essas boas-novas para todas as partes do mundo, com a maior fidelidade e o maior cuidado possíveis, não como uma diversão, mas como uma mensagem solene de Deus aos homens, e como um meio de fazer os homens felizes. “Contem a tantos quantos puderem, e digam que contem a outros; e uma mensagem de interesse universal, e, por isso, deve ter uma acolhida universal, porque ela oferece uma acolhida universal”.
Qual é o resumo do Evangelho que eles devem pregar (v. 16): “Apresentem ao mundo a vida e a morte, o bem e o mal. Digam aos filhos dos homens que todos eles estão em uma condição de infelicidade e perigo, condenados pelo seu príncipe, e derrotados e escravizados pelos seus inimigos”. Isto está implícito no fato de serem salvos, coisa de que não precisariam se não estivessem perdidos. “Vão, e digam a eles”: (1) “Que, se eles crerem no Evangelho, e se entregarem para ser discípulos de Jesus Cristo; se eles renunciarem ao demônio, ao mundo e a carne, e forem devotados a Jesus Cristo como seu profeta, sacerdote, e rei, e a Deus, em Cristo, como seu Deus em concerto, evidenciando, pela sua constante adesão a este concerto, a sua sinceridade, eles serão salvos da culpa e do poder do pecado. O pecado não os governara mais; ele não os destruirá.
Aquele que for um verdadeiro cristão será salvo, através de Cristo”. O batismo era designado como o rito inaugural, pelo qual aqueles que aceitavam a Cristo passavam a pertencer a Ele; mas aqui o objetivo está mais direcionado ao significado do que ao sinal, pois Simão, o Magico, creu e foi batizado, mas não foi salvo (At 8.13). Crer no Senhor Jesus com/i coração, e confessa-lo com a boca (Rm 10.9), parece ser a mesma coisa que está indicada aqui. Isto também significa que nós devemos estar em conformidade com as verdades do Evangelho, e com os termos do Evangelho. (2) “Se eles não crerem, se não receberem a informação que Deus dá a respeito do seu Filho, não poderão esperar nenhum outro caminho de salvação, mas inevitavelmente perecerão; eles serão condenados pela sentença de um Evangelho desprezado, somado a de uma lei infringida”. E é isto que o Evangelho e, e boas novas, o fato de que nada além da incredulidade poderá destruir o homem. A falta de fe e um pecado contra a cura. O Dr. Whitby observa aqui que aqueles que “deduzirem que a semente recém-nascida dos crentes não tem a possibilidade do batismo, porque não pode crer, devem também deduzir que não poderão ser salvos; pois, para a salvação, a fé e mais expressamente exigida do que o batismo. E que na última frase o batismo esta omitido, porque não e simplesmente a falta do batismo, mas a negligencia desdenhosa dele, que torna os homens culpados de condenação; de outra forma, as crianças seriam condenadas pelos erros ou profanações de seus pais”.
O poder de que eles deveriam estar revestidos, para a confirmação da doutrina que deveriam pregar (v. 17): “E estes sinais seguirão aos que crerem”. Isto não significa que todos os que crerem serão capazes de produzir esses sinais, mas aqueles que estiverem empenhados na propagação da fé, e na atração de outros a ela; pois os sinais se destinam aqueles que não creem (veja 1 Co 14.22). Aumenta muito a gloria e a evidencia o fato de que os pregadores não somente realizavam milagres pessoalmente, mas concediam a outros um poder de realizar milagres, poder este que seguia alguns dos que criam, aonde quer que eles fossem pregar. Eles realizavam milagres em nome de Cristo, o mesmo Nome no qual foram batizados, em virtude do poder obtido dele, e alcançado através da oração. Alguns sinais em especial são mencionados. (1) Eles expulsarão demônios; este poder era mais comum entre os cristãos do que entre outras pessoas, e durava mais tempo, como podemos deduzir pelos testemunhos de Justino Mártir, Orígenes, Irineu, Tertuliano, Minucio Felix, e outros, citados por Grotius a respeito dessa passagem. (2) Eles “falarão novas línguas”, que nunca tinham aprendido, ou conhecido; e isto era tanto um milagre (um milagre sobre a mente), para a confirmação da verdade do Evangelho, como um meio de transmitir o Evangelho entre todas aquelas nações que não o tinham ouvido. Alguns entendem que isso evitou que os pregadores fizessem um grande esforço para aprender as línguas; e, sem dúvida, aqueles que, por milagre, receberam o domínio das línguas, receberam o domínio completo delas e de toda a sua elegância nativa, que era adequada tanto para ensinar quanto para influenciar, o que muito lhes recomendava, bem como a sua pregação. (3) Eles “pegarão nas serpentes”. Esta promessa se cumpriu na vida de Paulo, que não foi ferido pela víbora que lhe acometeu a maio, o que foi reconhecido pelos bárbaros como um grande milagre (At 28.5,6).
Os cristãos não serão feridos por aquela geração de víboras entre as quais vivem, nem pela malicia da velha serpente. (4) “Se beberem alguma coisa mortífera” – por imposição dos seus perseguidores – “não lhes fara dano algum”: muitos exemplos deste milagre são encontrados na história da igreja crista. (5) Eles não serão somente protegidos contra ferimentos, mas também serão capacitados a fazer o bem aos outros; “imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão”, como tinha acontecido com as multidões pelo toque curativo do seu Mestre. Muitos dos presbíteros da igreja tinham esse poder, como se pode ver em Tiago 5.14, onde, como um sinal instituído dessa cura milagrosa, eles recebem a instrução de ungir os enfermos com azeite em nome do Senhor Jesus. Com que certeza de sucesso eles podiam viajar, realizando a obra que lhes fora confiada, tendo credenciais como essas para apresentar! HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 504-505.
2. Uma vida de humildade.
Quem é sábio em Deus contrasta a sabedoria da cruz com a deste mundo (1 Co 1.20). Esta exclui a Deus, enaltece o narcisismo humano e recusa reconhecer Jesus Cristo como o Filho de Deus; enquanto aquela nos faz prostrar diante de Deus (Mt 2.11), reconhecer a nossa miséria (Is 6.5) e descobrir quem verdadeiramente é Jesus, manso e humilde de coração (Mt 11.29). A mensagem da cruz nos constrange a viver a humildade. Comentário ≪…tornou Deus louca a sabedoria do mundo…≫ Deus tornou morosa esta chamada era da sabedoria humana, ou seja, ≪embotada≫, ≪estupida≫, ≪insensata≫, desde que permitiu que brilhasse a luz de Cristo. (Com essa declaração paulina confrontar os trechos de Rom. 1:22,23; Isa. 19:11 e 44:25,33). A passagem citada da epistola aos Romanos e o melhor comentário acerca desse pensamento, e as notas expositivas a respeito são amplas. Deus provou, portanto, que a chamada sabedoria dos homens e uma insensatez. Demonstrou sua fraqueza e sua irrelevância para com o verdadeiro destino dos homens, para com a elevada chamada de Deus, em Cristo Jesus, porquanto e em Cristo que existimos, nos movemos e temos o nosso ser. A sabedoria humana tem errado porque se tem esquecido da fonte originaria de toda a sabedoria, que é Deus, e esta manifestada na pessoa do Senhor Jesus Cristo, (Ver o trigésimo versículo deste mesmo capitulo). E, dessa maneira, Deus demonstrou que a suposta sabedoria humana não passa de pura ignorância, estando destituída de qualquer valor espiritual, não tendo podido aproximar em coisa alguma as almas de Deus, o qual é o verdadeiro alvo de toda a existência humana. (Ver I Cor. 8:6). A palavra ≪…mundo…≫, neste caso, não é a mesma palavra traduzida neste versículo como ≪século≫, embora seja sinônimo virtual da mesma; pois a alusão, neste caso, e a comunidade dos homens, que populam esta terra física, e não ao globo terrestre propriamente dito. Os homens e quem fazem a sabedoria deste mundo tornar-se o que ela e. O mundo, lugar da matéria crassa e grosseira, sob hipótese alguma poderia produzir a sabedoria celestial, não podendo nem mesmo compreende-la, sem o auxílio da iluminação divina. (Quanto aos diversos significados do vocábulo grego ≪kosmos≫, ≪mundo≫, ver as notas expositivas sobre Joao 1:10. Essa nota também dá a lista das várias palavras gregas que são traduzidas por ≪mundo≫, nas páginas do N.T.). CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 19.
Onde está o sábio? Onde está o escriba? Esta nota de sarcasmo é adicionada com o propósito de ilustrar o testemunho do profeta. Paulo por certo não tomou esta expressão de Isaías, como comumente se imagina, mas é uma expressão de seu próprio pensamento. Pois a passagem de Isaías [33.18], a que as pessoas se referem, não tem absolutamente nenhuma similitude ou relação com a presente abordagem. Porque, visto que Isaías está ali prometendo aos judeus o livramento do juízo de Senaqueribe a fim de mostrar-lhes muito mais claramente quão grande é essa bênção divina, ele então prossegue lembrando-lhes a condição ignóbil daqueles que são oprimidos pela tirania de estrangeiros. Diz que eles viviam num constante estado de agitada incerteza, quando pensam em si mesmos como sendo ameaçados por escribas e tesoureiros, pelos que pesavam os tributo e por contadores de torres. Mais que isso, ele diz que os judeus tinham vivido em situações tão críticas, que eram movidos à gratidão pela simples lembrança delas. Portanto, é um equívoco imaginar que esta expressão foi tomada do profeta. O termo mundo não deve ser tomado em conexão meramente com o último termo, mas também com os outros dois. Ora, pela expressão, sábios deste mundo, ele quer dizer os que não derivam sua sabedoria da iluminação do Espírito por meio da Palavra de Deus, mas, revestida com mera e profana sagacidade, repousa na segurança que ela propicia. Geralmente se concorda que o termo escribas significa mestres. Porque, visto que “IDO, saphar, entre os hebreus, significa narrar ou contar, e o substantivo derivado dela, “IÇD, sepher, significa livro ou volume, empregam o termo D^DIO, sopherim, para denotar os homens eruditos e os que são amigos dos livros. Por essa razão também sopher regis às vezes é usado para denotar um chanceler ou secretário. Então os gregos, seguindo a etimologia da palavra hebraica, traduziam para escribas. Paulo, apropriadamente, chama investigadores52 aos que revelam perspicácia em lidar com problemas difíceis e questões intrincadas. Portanto, falando em termos gerais, ele destroça todas as habilidades naturais dos homens, ao ponto de não valerem nada no reino de Deus. E não é sem boas razões que ele fala tão veementemente contra a sabedoria humana. Pois nenhuma palavra pode descrever quão difícil é eliminar das mentes humanas sua mal direcionada confiança na carne, para que não arroguem para si mais do que lhes é devido. Entretanto, seria ir além dos limites se, confiando, mesmo em mínimo grau, em sua própria sabedoria, se aventurarem a formar opiniões a seu próprio respeito. Não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Por sabedoria, Paulo quer dizer, aqui, tudo quanto o homem pode compreender, não só por sua própria habilidade mental e natural, mas também pelo auxílio da experiência, escolaridade e conhecimento das artes. Porquanto, ele contrasta a sabedoria do mundo com a sabedoria do Espírito. Segue-se que qualquer conhecimento que uma pessoa venha a possuir, sem a iluminação do Espírito Santo, está incluído na sabedoria deste mundo. Ele afirma que Deus tomou ridículo tudo isso, ou condenou como loucura. Deve-se entender de duas maneiras como isso é feito. Pois qualquer conhecimento e entendimento que uma pessoa porventura possua não tem o menor valor se não repousar na verdadeira sabedoria; e não é de mais valor para apreender o ensino do que os olhos de um cego para distinguir as cores. Deve-se prestar cuidadosa atenção a ambas as questões, ou, seja: Primeiramente, que o conhecimento de todas as ciências não passa de fumaça à parte da ciência celestial de Cristo; e, segundo, que o homem com toda sua astúcia é demais estúpido para entender, por si só, os mistérios de Deus. Precisamente como um asno é incapaz de entender a harmonia musical. Paulo mostra a disposição para o orgulho devorador existente naqueles que se vangloriam na sabedoria deste mundo, ao ponto de desprezarem a Cristo e a toda a doutrina da salvação, imaginando que serão felizes meramente por aderirem às coisas deste mundo. Também golpeia a arrogância daqueles que, confiando em sua própria capacidade, tentam escalar o próprio céu. Há também uma solução fornecida, ao mesmo tempo, para a pergunta: Como é possível que Paulo lance por terra, desta forma, todo gênero de conhecimento que existe fora de Cristo, e calcar aos pés, por assim dizer, o que bem se sabe ser o principal dom de Deus neste mundo? Pois o que há de mais nobre do que a razão humana, por meio da qual excelemos aos demais animais? Quão sumamente merecedoras de honra são as ciências liberais, as quais refinam o homem de tal forma que o fazem verdadeiramente humano! Além disso, que extraordinários e seletos frutos eles produzem! Quem não atribuiria o mais sublime louvor a fim de exaltar a prudência” estadista (sem falar em outras coisas), por meio da qual estados, impérios e reinos são mantidos? Creio que uma solução para esta pergunta é a seguinte: é evidente que Paulo não condena peremptoriamente, seja o discernimento dos homens, seja a sabedoria granjeada pela prática e a experiência, seja o aprimoramento da mente através da cultura; mas o que ele diz é que todas essas coisas são inúteis para a obtenção da sabedoria espiritual. E certamente é loucura para todos quantos presumem que podem escalar o céu, confiando em sua própria perspicácia ou com o auxílio da cultura; em outros termos, é loucura pretender investigar os mistérios secretos do reino de Deus54 [Êx 19.21], ou forçar caminho para o conhecimento deles, pois eles se acham ocultos à percepção humana. Portanto, tomemos nota do fato de que devemos limitar-nos às circunstâncias do presente caso, ou, seja, que Paulo aqui ensina acerca da futilidade da sabedoria deste mundo, a saber: que ela permanece no nível deste mundo, e que de forma alguma alcança o céu. É também verdade, em outro sentido, que fora de Cristo cada ramo do conhecimento humano é fútil, e o homem que se acha bem estabelecido em cada aspecto da cultura, mas que prossegue igualmente ignorante de Deus, não possui nada. Além do mais, deve-se também dizer, com todas as letras, que estes excelentes dons divinos – perspicácia mental, agudeza da razão, ciências liberais, conhecimento idiomático – tudo isso, de uma forma ou de outra, se corrompe, sempre que cai nas mãos dos ímpios. Calvino. João,. Série de Comentários Bíblicos João Calvino Vol. 10. 1 Coríntios. Editora Edições Parakletos. pag. 59-62.
À maneira de Is 33:18, uma série de questões retóricas malha adequadamente o ponto. Alguns acham que o sábio indica-nos o sofista grego, e o escriba, o intérprete judeu da lei, com o inquiridor deste século, uma expressão geral para incluir ambos. Outros invertem a significação do primeiro e do último. Mas é improvável que Paulo tivesse tais distinções em mente. Sua preocupação é demonstrar que nenhuma sabedoria humana serve diante de Deus. Sábio, escriba e inquiridor deste século são três expressões típicas para descrever os que são cultos e perspicazes, como o mundo considera a sabedoria. Há um vislumbre da natureza transitória da sabedoria humana no emprego de aiõn para “ mundo” (AY; século, ARA), em vez de kosmos (que ocorre na parte final do versículo). Este mundo é um espetáculo passageiro, e a sua sabedoria passa com ele. Deus não somente desconsiderou esta sabedoria. Ele a tornou louca, Paulo não quer que haja a mais ligeira dúvida quanto à rejeição divina.de tudo quanto repouse numa base de sabedoria meramente humana. Leon Monis. I Corintos Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 35.
3. Uma vida na dependência do Espírito.
Nada melhor do que a mensagem da cruz para revelar quem nós somos (2 Co 2.3). Como o apóstolo Paulo (v.3), devemos ter a plena consciência das nossas fraquezas humanas, limitações pessoais, medos interiores. Por isso, as Escrituras nos estimulam a jamais depender ou confiar em nós mesmos, mas exclusivamente do Espírito Santo (1 Co 2.4). O Espírito nos faz agir, ter criatividade e fazer as coisas de modo que glorifiquem a Deus. A mensagem da cruz nos ensina a depender exclusivamente do Espírito. Comentário Alguns pregadores não passam de atores de palco, que erraram de profissão. Paulo procurava evitar esses espetáculos teatrais na igreja. Por outro lado, homens ignorantes, com seus discursos e pregações de baixo nível, não podem melhorar essas condições, pois os tais nem possuem eloquência e nem o poder de Deus; e as igrejas que caem sob a liderança de tais homens tem reuniões maçantes, ao passo que os sofistas pelo menos dirigem reuniões interessantes e divertidas. Paulo, entretanto, não aprovava nem um e nem outro desses dois extremos, como também não aprovava qualquer tendência para o espetáculo. No entanto, como esses defeitos se tornaram comuns hoje em dia! ≪...minha palavra…≫ Mui provavelmente temos aqui uma menção de sua ≪doutrina≫, o tema de suas pregações; e a sua forma de apresentação ele indica pelas palavras ≪…minha pregação…≫ Nem seus temas e nem seu modo de apresentação seguiam o modelo dos sofistas e retóricos. Alguns estudiosos pensam que-≪palavra≫ significa aqui ≪discursos privados≫, e que ≪pregação≫ significa ≪discursos em público≫, mas essa explicação não é satisfatória. Ainda outros eruditos opinam que ≪palavra≫ e equivalente ao que se lê em I Cor. 1:18, ≪o evangelho≫, ao passo que ≪pregação≫ seria a proclamação real desse evangelho. Uma distinção parecida com isso deve ter sido utilizada por Paulo. ≪…persuasiva…≫, isto e, ≪convincente≫. Deriva-se de um vocábulo grego escrito de forma estranha, ≪pithos≫, sem dúvida uma variação de ≪peithos≫, que era uma palavra rara, e que em todo o N.T. e encontrada exclusivamente aqui. Nos manuscritos, pois, essa palavra tem sido sujeita a diversas modificações. Sem importar qual a forma original em que foi gravada, mui provavelmente se deriva de ≪peithos≫, que significa ≪convencer≫, ≪persuadir≫, ≪conquistar para os pontos de vista de≫. Paulo não declara que não tentava convencer ou persuadir aos homens, e, sim, que não procurava usar de métodos dúbios para isso, como também não lançava mão de uma linguagem floreada e lisonjeadora, para conquistar os homens com esses golpes baixos. Não tinha mesmo necessidade de apelar para tais métodos, porquanto o Espirito de Deus estava sobre ele, operando por seu intermédio; e o Espirito Santo e o melhor agente persuasor dos homens, utilizando-se tanto de prodígios como de palavras. ≪…demonstração…≫ Literalmente traduzida, a palavra grega por detrás desse termo daria ≪exibição≫. Os argumentos de Paulo não eram meramente ≪plausíveis≫, mas também eram exibições reais, em sua vida, em suas palavras, e no poder e sabedoria do Espirito Santo. E essa demonstração era feita pelo Espirito, era ≪…do Espirito…≫, isto e, provinha do Espirito Santo. A fé não repousa sobre argumentos persuasivos, e, sim, sobre a obra de Deus nos corações dos homens. E o Espirito que torna possível a fé. Conforme veremos em I Cor. 12:9, a fé mesma e um dom do Espirito≫. (C.T. Craig, in loc.). A palavra grega aqui traduzida por ≪demonstração≫, pode significar tanto uma ≪exibição≫ como também uma ≪prova inequívoca≫. E bem provável que Paulo a tenha empregado com este último sentido, embora ele não estivesse falando sobre alguma prova empírica ou cientifica. As provas por ele expostas eram espirituais, místicas, e só podiam ser aceitas e reconhecidas intuitivamente. A mera sabedoria humana pode ofuscar e entreter, mas a sabedoria divina convence a alma; e isso e o que importa, afinal de contas. -…do Espirito…≫, e não ≪do espirito (humano)≫, conforme essa expressão grega poderia ser gramaticalmente traduzida. O Espirito de Deus e que e o grande agente divino da sabedoria e do poder de Deus na vida dos homens, o transformador dos remidos segundo a imagem de Cristo, o agente santificador. E, nesta passagem, ele aparece como confirmador da pregação que tem por centro a pessoa de Jesus Cristo. ≪...de poder…≫ Temos aqui novamente o confronto entre o poder de Deus e poder do homem, conforme já viramos em I Cor. 1:18,24,25. O poder de Deus se acha personificado em Cristo, conforme mostram esses citados versículos; e opera por meio do evangelho, o que inclui a ≪palavra da cruz≫ (ver I Cor. 1:23,24). (E com isso se pode comparar os trechos de I Tes. 1:5 e 2:13). O evangelho surgiu no mundo não apenas na forma de palavras, mas também revestido do poder do Espirito Santo. Mui provavelmente Paulo quer dar a entender aqui, embora não o diga diretamente, que esse poder inclui as provas, sinais e prodígios operados por intermédio dele. Ora, se um ministro do evangelho dispõe dessas provas, da demonstração do Espirito e de poder, jamais precisara das habilidades retoricas para confirmar a validade de sua mensagem. Sem essas qualidades, porém, todas as qualidades retoricas de nada aproveitarão, nem ao pregador e nem aos seus ouvintes. ≪…dos homens…≫ são palavras ligadas com o termo ≪sabedoria≫, de conformidade com algumas traduções, as quais acompanham os mss Aleph (3), ACLP e as versões cópticas. Mas os mss P(46), Aleph(l), BD e muitas outras autoridades, omitem essas palavras. Trata-se de uma glosa escriba, procurando identificar o tipo de sabedoria a que Paulo fazia menção aqui, procurando fazer harmonia com os trechos d e i Cor. 1:19,21 e 2:5. CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 29.
E minha pregação não consistiu de palavras persuasivas. Ao dizer “de palavras persuasivas de sabedoria humana”, sua referência é à oratória seleta que se empenha e lança mão de artifícios, sem se preocupar com a verdade; e ao mesmo tempo ele aponta também para a aparência de refinamento, o que fascina as mentes dos homens. Ele está certo ao atribuir a persuasão à sabedoria humana. Porque, por sua própria majestade, a Palavra do Senhor nos concita, de forma mui veemente, a prestarmos-lhe obediência. Em contrapartida, a sabedoria humana tem seu encanto com que se insinua73 e se apresenta em seus ornamentos pomposos, por assim dizer, por meio dos quais atrai para si as mentes de seus ouvintes. Contra isso Paulo estabelece a “demonstração do Espírito e de poder”, o que a maioria dos intérpretes limita aos milagres. Quanto a mim, o entendo num sentido mais amplo, ou, seja, como sendo a mão de Deus estendendo-se para agir poderosamente e de todas as maneiras através dos apóstolos. Tudo indica que Paulo pôs “Espírito e poder” à guisa de hipálage, equivalente a poder espiritual’, ou, seguramente, a fim de realçar, por meio de sinais e efeitos, como a presença do Espírito era evidente em seu ministério. É seu o uso apropriado do termo (demonstração). Pois nosso embotamento, quando olhamos mais de perto as obras de Deus, é tal que, ao fazer uso de instrumentos inferiores, seu poder se oculta como se fosse por meio de muitos véus [Is 52.10], de tal maneira que seu poder já não nos é claramente perceptível. Calvino. João,. Série de Comentários Bíblicos João Calvino Vol. 10. 1 Coríntios. Editora Edições Parakletos. pag. 78-79.
Não é fácil ver a diferença entre a minha palavra e a minha pregação. Palavra é tradução literal (AV, “ alocução” ). Vemo-la empregada em 1:18 (AV, “ pregação” ; ARA, “ palavra” ), para incluir tanto o modo como o conteúdo da pregação. A palavra traduzida por pregação é a que indica a mensagem proclamada, em 1:21. Provavelmente Paulo não está diferenciando entre as duas com exatidão. Emprega ambos os termos para salientar tanto a mensagem que pregava como o modo pelo qual a pregava. Persuasiva traduz uma palavra muito rara (na verdade, só encontrada aqui). Assim Paulo evita francamente os métodos da sabedoria humana. Depois afirma positivamente que a sua pregação fora uma clara demonstração do poder do Espírito. A palavra traduzida por demonstração, apodeixis, significa a prova mais rigorosa. Algumas provas não indicam mais do que, a conclusão é deduzida das premissas. Mas com apodeixis “ sabe-se que as premissas são verdadeiras, e, portanto, a conclusão não é apenas lógica, mas certamente verdadeira” (Robertson e Plummer). A pretensão de Paulo é que os seus próprios defeitos tinham significado a mais convincente demonstração do poder do Espírito. É possível haver argumentos logicamente irrefutáveis, mas totalmente incapazes de convencer. A pregação de Paulo levara convicção graças ao poder do Espírito. Leon Monis. I Corintos Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 41-42.
SÍNTESE DO TÓPICO III
Os efeitos da mensagem da cruz se revelam por meio de uma vida no poder de Deus, de humildade e dependência do Espírito Santo.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“[…] A cruz de Cristo está cheia do poder de Deus, porque foi o meio pelo qual Jesus realizou nossa salvação quando derramou o seu sangue e morreu por nós. Tentar explicar a cruz ou deduzir sua importância em termos de sabedoria e filosofia humanas implicaria furtá-la do seu poder, ou seja, da sua capacidade de transformar os pecadores em santos. É exatamente isto que os teólogos liberais estão fazendo hoje. Mas Paulo proclamou seu poder para salvar, libertar do pecado e de Satanás, curar, restabelecer a comunhão com Deus – e o mesmo devemos fazer. O Espírito Santo tornará reais a cruz e o seu poder para os corações famintos (cf. Rm 1.16). […] Deus sabe que a sabedoria humana não pode conhecê-lo. Em sua sabedoria, agradou-lhe usar a pregação do que o mundo chamou de tolice a fim de salvar os que creem. A pregação da cruz, junto com a declaração de que o Jesus crucificado e ressuscitado é o Senhor e Salvador […]” (HORTON, Stanley. I & II Coríntios: Os Problemas da Igreja e suas Soluções. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.29).
CONCLUSÃO
A mensagem da Igreja é a cruz de Cristo. Essa cruz dá conta do Cristo Crucificado e do Ressurreto. Essa mensagem traz escândalo ao mundo, mas poder para nós. Ela salva, cura e liberta o pecador; ao mesmo tempo que nos revela uma vida de poder de Deus, humildade e dependência do Espírito. A mensagem gloriosa da cruz transforma o homem inteiro.