EBD | Classe Jovem – Lição 9 – O Milagre da Ressurreição de Lázaro

Fonte: Portal da Escola Dominical

Introdução
I – A Enfermidade para a Glória de Deus
II – A Ressurreição e a Vida
III – “Para que Creiam que Tu me Enviaste”
Conclusão

Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Debater acerca do fato de a enfermidade ser para a glória de Deus e do duplo significado da morte;
Explorar a profundidade e a riqueza do diálogo teológico de Jesus com Marta;
Refletir sobre a faceta sentimental de Jesus e também acerca da grandeza do milagre.

Palavras-chave: Milagre.

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor César Moisés Carvalho:

Em sua espiral do elenco dos sinais, João chega ao sétimo e último sinal (11.1-45). Apesar da grandiosidade do milagre, dizer que há uma gradação entre eles como se tivesse iniciado com um milagre mais “simples”, portanto, “fácil” e que agora chegou a algo mais “complexo” e, por isso, “impossível”, constitui um equívoco, pois todos os milagres eram, de um ponto de vista estritamente humano, impossíveis. Tal reconhecimento vem dos próprios principais dos sacerdotes e fariseus que, após formar um conselho, ou coalizão, concluíram que algo deveria ser feito para barrar o Senhor, pois reconheciam que Ele fazia “muitos sinais” (Jo 11.47). A consequência, na opinião deles, era que se Jesus continuasse em sua escalada de realização de prodígios, “todos” creriam no Senhor e os romanos viriam e tirariam o lugar e a nação das mãos deles, ou seja, os tornariam dispensáveis (11.48). Evidentemente que, conforme observa João, “ainda que tivesse feito tantos sinais diante deles, não criam nele” (12.37), e que muitos outros, “até muitos dos principais creram nele; mas não o confessavam por causa dos fariseus, para não serem expulsos da sinagoga” (12.42). Portanto, as opiniões sobre o Mestre se dividiam. O capítulo que antecede este último sinal e sucede a cura do cego (10.1-42), vai preparando o leitor para entender, definitivamente, que a classe religiosa que estava dominando em Israel, havia se corrompido de tal forma que a expulsão das pessoas que confessavam Jesus como Cristo, conforme se pode ver no caso do cego (9.20-23,34,35), era a “menor” das ameaças. Uma vez que a sinagoga era o local popular de leitura e meditação da Lei, para um judeu, ser privado de tal acesso era um castigo terrível e uma situação muito embaraçosa. Contudo, os líderes religiosos ― principais dos sacerdotes e fariseus (11.46-57) ― haviam perdido qualquer noção de escrúpulo para manterem-se no domínio das pessoas, pois o Quarto Evangelho informa que quando da visita de Jesus em Betânia, na casa da família de Lázaro, “muita gente dos judeus soube que ele estava ali; e foram, não só por causa de Jesus, mas também para ver a Lázaro, a quem ressuscitara dos mortos”, no entanto, pelo fato de Lázaro ter se transformado em um testemunho vivo, João diz que “os principais dos sacerdotes tomaram deliberação para matar também a Lázaro” (12.9,10).

Como todos os outros sinais, este também possui um sentido que, como já foi reiteradas vezes mencionado, vai além do milagre em si. Uma observação interessante é que, diferentemente dos outros eventos, neste, diz Maggioni, “não temos primeiro o fato e depois um discurso que o comenta, mas um contínuo alternar de gestos e palavras”1.  Tal é a percepção de Benny Aker que afirma desse episódio que “a distância entre o sinal e suas referências diminuem”2.  Dodd, da mesma forma, diz que certamente “devemos reconhecer nesta perícope uma variação especial com referência ao modelo joanino normal de sinal + discurso”, ou seja, neste “episódio a mistura de narração e diálogo é total”3.  Apesar dessa observação, a narrativa “ocupa um lugar central no evangelho”, ou seja, “é a dobradiça entre a primeira e segunda parte”, pois ao se estudar “este caráter central percebe-se seu significado global”, esclarece Maggioni, que é justamente “a prefiguração da ressurreição de Jesus”4.  Em termos diretos, a “história de Lázaro ocupa em João um lugar análogo ao que ocupa na tradição sinótica o relato da transfiguração”, pois para Maggioni, “antes de enfrentar a Paixão, Jesus oferece aos discípulos desnorteados uma antecipação da ressurreição, para lhes mostrar o significado profundo e inesperado da cruz, que não é caminho de morte, mas de vida; não derrota, mas vitória”5.  É necessário, porém, esclarecer um aspecto óbvio, mas importantíssimo dessa questão. Ao se falar dos relatos de “devolução” da vida na Bíblia, é preciso distinguir entre ressurreição e “revivificação”. Juan Antonio Aznárez Cobo esclarece que prefere usar esse termo ― revivificação ― “em vez do mais comum, ‘ressurreição’, porque está claro que não se fala aqui da ressurreição propriamente dita, e sim de uma simples volta a esta vida, uma espécie de ‘prorrogação’”6.  Isso, porque, como é do conhecimento geral, as pessoas que reviveram cuja Bíblia relata suas histórias ― o filho da viúva de Sarepta (1 Rs 17.17-24), o filho da sunamita (2 Rs 4.32-37), o homem que reviveu ao tocar os ossos de Eliseu (2 Rs 13.21), o filho da viúva de Naim (Lc 7.11-17), a filha de Jairo (Lc 8.41,42,49-55), Tabita (At 9.36-43), Êutico (At 20.7-12) e o próprio Lázaro ―   voltaram a morrer posteriormente.

O apóstolo do amor inicia a narrativa identificando as personagens envolvidas no episódio do sétimo sinal, bem como cientificando o leitor acerca do que se trata (vv.1-3). Uma curiosidade, é que no versículo dois se faz menção a um ato que acontecerá somente, literária e cronologicamente falando, no próximo capítulo (12.1-8). Do versículo quatro até o dezesseis salta aos olhos as incompreensões por parte do colégio apostólico. Elas, basicamente, são duas. Primeiro eles “não entendem por que o Cristo, o Filho de Deus, deve sofrer (v. 8)” e, em segundo lugar, “não entendem o mistério da doença de Lázaro e do comportamento de Jesus, ou seja, que a morte possa ser chamada de sono (v. 12)”, portanto, diz Maggioni, trata-se da “dupla incompreensão do fiel: se Cristo é o Filho de Deus, por que se põe a caminho da cruz? E se Deus ama o Filho, por que parece abandoná-lo?”7.  A próxima perícope (vv.17-27) antecipa e prepara o leitor que, com as mesmas dúvidas dos Doze, querem uma resposta para a “demora”, ou “atraso”, de dois dias de Jesus para ir até Betânia (v.6). O diálogo entre o Senhor e Marta contém grandes revelações acerca do tema da vida e da morte. Para Dodd, tal diálogo oportuniza aos leitores o adensamento do tema da vida, sobretudo, tendo-se em mente o “discurso programático de 5.19-47, onde a atividade do Pai no Filho é caracterizada como consistindo em zoopoiesis e krisis”, sendo que “a obra de zoopoiesis é apresentada em duas etapas, ou em dois níveis”8.  Tais “níveis” são os seguintes: “Primeiro, ouvir e crer na palavra de Cristo é possuir a vida eterna; é passar da morte para a vida” e, neste aspecto, significa que “a hora está próxima e é agora (erxetai ora kai nyn estin) quando os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e virão à vida (5.24-25)”. O mesmo autor diz que, em “segundo lugar está próxima a hora (erxetai ora) em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão (5.28-29)”9.  Dodd defende que o diálogo didático do Mestre com Marta retoma, sobretudo nos versículos 25 e 26 do capítulo 11, a linha de pensamento exposta no capítulo 5 versículos 19 a 47 e que ambas as discussões possuem, igualmente, duas etapas ou níveis. Para ele, “todas essas passagens afirmam, primeiro que a vida eterna pode ser alcançada aqui e agora por aqueles que correspondem à palavra de Cristo; e, em segundo lugar, que o mesmo poder garante a vida eterna aos crentes durante sua existência terrena, ressuscitará, após a morte do corpo, os mortos para uma renovada existência num mundo extraterreno”10.

Para o teólogo pentecostal Benny Aker, da mesma forma que para Maggioni e Dodd, “com a morte e ressurreição de Lázaro, o leitor chega ao principal sinal que prepara para o clímax do Evangelho: a paixão e ressurreição de Jesus”11.  E mais, acrescenta o mesmo autor, neste sinal, “Morte e vida, e morte eterna e vida eterna entram em atrito”12.  Ao falar, por exemplo, que a “enfermidade” de Lázaro “não é para morte” (v.4), Aker diz que para “o verdadeiro crente inteligente e informado, ‘morte’ alude a julgamento, a separação eterna dos pecadores de Deus, condição que eles já experimentam”13.  Ao acrescentar que tal situação servirá “para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” (v.4), Aker afirma que a “ignorância [dos Doze] testemunha sua condição espiritual, mas também fala sobre a natureza da fé”, ou seja, muito embora “eles sigam Jesus e tenham uma medida de fé, fé plena não virá até que seu objetivo seja atingido ― a morte e ressurreição de Jesus, o Filho de Deus”. Em termos diretos, finaliza o mesmo autor, o referido “sinal aponta nessa direção”14.  Alinhando-se com Dodd, Benny Aker defende que a “resposta de Jesus (vv. 23,25) contém dois aspectos escatológicos: atual (ou realizado) e futuro”, isto é, o “aspecto futuro aponta para o último Dia, o dia em que ocorrerá a ressurreição (cf. o v.24)”15.  Todavia, “Jesus também assinala uma escatologia ‘realizada’ ― para si mesmo como fonte da vida eterna”, portanto, o “significado de ‘vida’ no versículo 25 transcende a percepção humana de ressurreição e distingue a vida ‘natural’ da ‘eterna’”, pois ao dizer: “Ainda que esteja morto, […] todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá”, completa Aker, Jesus “está se referindo a um tipo diferente de vida, uma vida qualitativa que caracteriza a vida que Deus tem em si mesmo”. Portanto, tal “vida transcende a vida e morte naturais; nenhuma destas destrói a vida eterna”. Em termos simples, a “lição que Jesus quer ensinar a respeito da morte de Lázaro e sua demora em ir ressuscitá-lo” é a seguinte: “A morte física não faz diferença se a pessoa tem a vida eterna”, pois “Jesus ressuscitará tal pessoa, ou seja, dará a vida eterna”16.  Assim, mesmo que a revivificação de Lázaro não seja definitiva, pois ele voltou a morrer, ela é, de certa forma, prolepticamente, uma antecipação da ressurreição eterna e um vislumbre do que será no último Dia.

O que se conclui com a revivificação de Lázaro, é que a apresentação de Jesus, durante todo o Quarto Evangelho, como doador da vida, revela-se aqui com este aspecto novo, qual seja, diz Dodd, “que o dom da vida é aqui apresentado expressamente como vitória sobre a morte”17, pois a “ressurreição é a revogação da ordem da mortalidade, na qual a vida sempre caminha rápido para a morte”.  Uma vez que a “sociedade helenística à qual este evangelho era dirigido, estava preocupada com o espetáculo da phthora 18, o processo pelo qual todas as coisas terminam no nada e que devora toda a existência humana”, a narrativa do capítulo 11 revela, por outro lado, que uma parte do crescente “interesse pelo cristianismo se prende ao fato de que ele dava certeza de um princípio divino de zoopoiesis inserido dentro do processo histórico, e oposto ao reino da phthora”. Tal certeza “fundava-se num exemplo no qual a ressurreição efetivamente teve lugar”, esclarece o mesmo autor, qual seja, de que “Cristo venceu a morte, morrendo”. Não obstante, considerando o fato de que se “o episódio da Ressurreição de Lázaro deve ser um verdadeiro semeion da ressurreição, é preciso que de certa forma ele abra o caminho para a morte de Cristo, por virtude da qual ele é revelado como a ressurreição e a vida”. E é justamente essa reflexão que evidencia “a importância do diálogo preliminar entre Jesus e seus discípulos em 11.7-16”, sobretudo pela verdade de que tal “se refere às tentativas de apedrejá-lo, relatadas em 8.59 e de novo em 10.31-33”19.  Pelo fato de tais tentativas terem se dado no território da Judeia, local onde o Senhor “manifestou a sua glória”, ironicamente, “o lugar da manifestação se tornou o lugar daquela hostilidade que causará sua morte”20, portanto, “ir para a Judéia, significa ainda ‘manifestar-se ao mundo’, como em 7.4, mas agora significa também ir para a morte”.  Em termos diretos, “os apelos para ir para a Judéia, a fim de que a glória seja manifestada num ato de zoopoiesis (11.4,40), é também um apelo para enfrentar a morte; e assim os discípulos o entendem”, conforme se pode depreender do pronunciamento de Tomé no versículo 16. Dessa forma, é perfeitamente claro que “a história que temos à nossa frente não é apenas o relato do morto Lázaro ressuscitado para a vida”, mas, para finalizar com Dodd, “é também a história de Jesus que vai enfrentar a morte a fim de vencê-la”.21

À parte de toda a profundidade teológica presente no diálogo didático de Jesus com Marta, bem como a retumbante demonstração de poder explicitada no milagre, o apóstolo do amor revela lances dos momentos que antecederam a revivificação, que caracterizam o Senhor não apenas como ser humano, mas como alguém profundamente humano (vv.32-38). E isso a tal ponto que José Castillo, retoricamente, pergunta: “pode-se dizer que aquelas pessoas viram em Jesus um homem que havia sido elevado à condição divina ou antes se deve afirmar que viram em Jesus um homem no qual Deus se havia rebaixado à condição humana?”22.  Deificação ou kenosis? Em tal “dúvida” consiste o mistério da encarnação, pois o Mestre era tanto Deus como homem, sem que uma natureza, ou condição, eclipsasse a outra e muito menos a suplantasse. Mesmo ciente de que o Pai o atenderia no pedido de revivificação (v.42), o texto do Quarto Evangelho afirma, sem qualquer subterfúgio, que “Jesus chorou” (v.35). Com a consciência de que seria ouvido, haveria motivo para chorar? Contudo, diante do que Ele presenciara ― Maria prostrada aos seus pés chorando, os conhecidos que vieram à casa dos enlutados também choravam, além do fato de Lázaro estar morto ―, João mostra um homem que se identificava de tal forma com as pessoas, ao ponto de sofrer com o sofrimento delas (vv.33,35,38). Qual era a ameaça que tal homem terno oferecia ao povo? Nenhuma, óbvio. Contudo, ao realizar prodígios que não apenas curavam as pessoas do ponto de vista físico, mas também as restaurava em sua completude e, muitas vezes, contrariando flagrantemente a classe religiosa oficial, Jesus colocou-se numa linha perigosa de atuação.23  Neste aspecto, como se poderá ver de agora em diante, não apenas o Quarto Evangelho revela que este foi um dos motivos da perseguição e morte de Jesus, mas os demais evangelistas também ressaltam tal aspecto (Mt 12.14; Mc 3.6; Lc 6.11).

*Adquira o livro do trimestre de autoria de CARVALHO, César Moisés. Milagres de Jesus: A Fé Realizando o Impossível. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

Que Deus o(a) abençoe.

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Lidiane Santos

Correspondente pela sede desde 2013. Formada em serviço social e especialista em gestão pública municipal. Professora da Escola Bíblica Dominical.