EBD| Lição 10 – A manifestação do Anticristo e o Dia do Senhor
2º Trimestre de 2018
INTRODUÇÃO
I – POR QUE FALAR NOVAMENTE A RESPEITO DOS ÚLTIMOS DIAS?
II – O DIA DO SENHOR
III – O ANTICRISTO
CONCLUSÃO
Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Refletir a respeito das Últimas Coisas;
Caracterizar o Dia do Senhor;
Apresentar as principais informações a respeito do Anticristo.
Palavra-chave: Anticristo.
Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio abaixo:
A comunidade em Tessalônica convivia num contexto histórico onde a literatura apocalíptica era comum no meio religioso. O efeito dessa circunstância histórica foi a disseminação de fábulas, lendas, notícias desencontradas sobre o futuro de todas as coisas. Aquela nova igreja não ficou isenta dessa ambiência, tanto que uma série de pregadores de tragédias inquietava a paz interna daquele grupo de irmãos.
Não sendo suficiente a discussão já produzida pelo apóstolo na epístola anterior, Paulo esforça-se novamente em clarificar tais questões tão complexas àqueles novos irmãos — agora, ele assim o faz através da abordagem de outras questões ainda não discutidas, porém relevantes para aquela igreja local.
Apresentação, Descrição e Possibilidades acerca do Anticristo
O capítulo 2 da segunda carta de Paulo aos tessalonicenses encerra um conjunto de versículos envoltos em uma série de polêmicas exegético-hermenêuticas. Uma das imagens centrais apresentadas nesse capítulo é a do Anticristo. Quem ou o que seria essa figura? Quais suas características e prerrogativas? Em que contexto dar-se-á sua manifestação entre nós? Essas são algumas das inúmeras questões que este texto suscita.
A expressão anticristo não aparece literalmente em 2 Tessalonicenses; contudo, a definição de “homem da anomia” e “destinado a destruição”, que constam em 2 Ts 2.3, parecem referir-se de maneira cabível ao indivíduo/postura apresentado por João em 1 Jo 2.18,22; 4.3 e 2 Jo 7.
Como fica explícito nos textos de João, a figura do anticristo transita entre a identificação pessoal de um indivíduo que surgirá como síntese humana da maldade — numa clara tentativa de emulação de Cristo, aquEle no qual habitou corporalmente toda a divindade (Cl 1.19;2.9) — e a constatação histórica de uma mentalidade que se estabelecerá em confronto a tudo aquilo que se alinha aos valores e princípios cristãos.
A defesa da primeira hipótese estaria mais alinhada à imagem similar proposta por Daniel em Dn 11.36. Em contrapartida, a associação do texto paulino com o de Daniel poderá exigir uma leitura mais histórica da imagem descrita — assim como o indivíduo blasfemador de Dn 11 refere-se diretamente à Antíoco IV. Nesse caso, a quem se referiria Paulo ao descrever este personagem? Ao César, ao próprio Estado, ou a outro personagem político que nos foge o conhecimento?
Tomando o conceito de Anticristo como uma ideia que perpassa todo um tempo, isto é, como uma ideologia que se alastrará socialmente a ponto de defender a desconstrução de tudo aquilo que se refere a Deus e sua obra, resta também saber sobre quem Paulo falava a partir do contexto histórico dos tessalonicenses e sobre que paradigma ideológico contemporâneo caberia a pecha de anticristão, tendo em vista que a parusia de Cristo ainda não se deu.
Diante da impossibilidade prática de chegar-se a uma definição conclusiva sobre tais hipóteses interpretativas, resta-nos analisar a figura em si apresentada por Paulo e procurar, sempre que possível, contextualizá-la com o momento histórico dos tessalonicenses e com o nosso atual.
Primeiro, é importante discutir como Paulo define esse ser. “Homem da anomia” equivaleria a dizer que o Anticristo é uma pessoa ou mentalidade que se opõe a todo e qualquer tipo de regramento social. Ele contrapor-se-á a tudo o que é ordenado e que traga bem-estar social. Se este ser de 2 Tessalonicenses e das epístolas de João é o mesmo a quem este mesmo João refere-se no livro de Apocalipse, deve-se compreender que a oposição que este ser fará a tudo o que é divino, ordenado e regrado deriva de um sórdido plano de manipulação e engano da humanidade.
Nesse caso, o anômico seria aquele cujo desejo é completamente descontrolado; é o indivíduo cuja regra é não ter regra, cuja vontade é desconstruir todos os valores e tradições vigentes. O que se ganha com a multiplicação em escala social de um quadro como esse? A insegurança e o desespero dos indivíduos que, vítimas de uma sociedade sem regras ou controle, estariam fadados ao retrocesso primitivo da vida guiada exclusivamente por instintos animalescos.
“O homem sem lei”, essa é a síntese do Anticristo; um indivíduo sem escrúpulos, respeito ou qualquer tipo de dignidade. Para onde iria a sociedade seguindo este tipo de paradigma pessoal ou ideológico? Para o caos e a barbárie.
Entretanto, além de “homem da anomia”, a figura descrita por Paulo também é “Filho da perdição”, ou, mais precisamente, “aquele que é destinado à perdição”. Se Cristo Jesus veio ao mundo para encarnar o amor de Deus pela humanidade por intermédio de todo o seu ministério salvífico, a figura apresentada por Paulo seria aquele que assumiria para si o ônus de ser a síntese da perdição eterna.
Ao apresentá-lo como “filho da perdição”, Paulo utiliza-se de uma expressão idiomática que equivale dizer que tal pessoa, na verdade, nasceu para encarnar tudo aquilo que se orienta para a destruição e fim da humanidade. Ele seria o máximo exemplo da decadência que a humanidade pode atingir.
A mesma expressão é utilizada por João para descrever Judas (Jo 17.12) e mais especificamente o espírito que o mobilizava em seu covarde ato de traição. Para Paulo, esse seria o tipo de indivíduo que exemplificaria bem tudo aquilo que se volta contra Deus.
A Discussão sobre o Anticristo como Elemento Caracterizador da Parusia
Como se percebe logo no início do capítulo dois da segunda epístola aos Tessalonicenses, o objetivo de Paulo não é falar sobre o “homem da impiedade em si mesmo”, mas, antes, demonstrar que os acontecimentos referentes ao retorno triunfal do Senhor Jesus estão em íntima conexão com um conjunto maior de acontecimentos que não podem ser desconsiderados.
Paulo informa aos irmãos em Tessalônica que estes não devem deixar-se iludir por qualquer tipo de “notícia ameaçadora” que os leve ao desequilíbrio social sob a alegação de que o fim de todas as coisas já se estabeleceu de forma definitiva.
Sobre a situação de instabilidade instaurada na Igreja em Tessalônica, afirma-nos Marshall:
De um lado, parece que os leitores foram enganados ao ponto de suporem que a parusia estava mais próxima do que realmente era o caso, e que assim se tornaram vítimas de esperanças ilusórias. Do outro lado, suas expectativas podem tê-los levado a confundir um impostor com o Messias, assim como em Mc 13, e esta possibilidade é reforçada pela referência ao engano nos vv. 9,12; os leitores devem precaver-se para não serem enganados juntamente com o restante da humanidade. Paulo, portanto, tem de deixar muito clara a natureza dos eventos que antecedem a parusia verdadeira. (MARSHALL, 1984, p. 222)
O apóstolo, além da indicação da necessidade de manifestação do “homem do pecado”, informa que existe um que impede a vinda desse personagem, aquele a quem Paulo denomina de κατέχω.
A discussão entre os intérpretes sobre o que ou quem seria o katechon é extensa; ela vai desde o imperador romano, passando pelo Espírito Santo, chegando até mesmo ao próprio Paulo e sua pregação.
Sobre esse ser que impede a vinda do “filho da perdição”, Carriker (2002) apresenta-nos cinco possíveis vertentes interpretativas: a primeira, mais historicista, defende que o katechon é a figura do imperador ou mesmo do império romano; ou seja, nessa interpretação, o governante é a encarnação da lei, e o “homem da anomia” é a manifestação de tudo o que não seria lei. Todavia, contra essa interpretação, pesa o fato de um aparente elogio ao império romano, o que obviamente seria um tanto quanto contraditório diante da situação de opressão que viviam os tessalonicenses.
A segunda interpretação defende que “aquele que detém” é, a partir de uma relação com uma limitação radical do poder das trevas, similar àquilo que João cita em Apocalipse com relação à prisão de Satanás no milênio (Ap 20.2). Falta a essa hipótese uma maior fundamentação no contexto em debate na segunda carta aos tessalonicenses.
Já a terceira e quarta possibilidades referem-se ao próprio Deus ou sua vontade, uma vez que, não tendo chegado o tempo determinado para os devidos acontecimentos, Ele opõe-se a todas as forças do maligno de maneira soberana e autônoma.
A quinta e última hipótese interpretativa, a qual parece mais pertinente a Carriker é a de que:
Finalmente chegamos à quinta e última interpretação: “aquilo que detém” se refere à pregação do evangelho e “aquele que detém” ao pregador, prototipicamente o próprio apóstolo Paulo. Esta perspectiva foi defendida por Oscar Cullmann, com base numa pergunta feita na literatura apocalíptica judaica sobre a razão da demora da parousia. A resposta mais frequente é a falta de arrependimento de Israel. Esta resposta estabelece o palco para a perspectiva cristã da necessidade apocalíptica de pregar o evangelho aos gentios, uma perspectiva expressa mais claramente em Mateus 24.14 e Marcos 13.10. Estes textos destacam a ordem cronológica dos eventos que precedem o fim: “primeiro” (Marcos) de que o evangelho seja pregado a todas as nações para que “então” (Mateus) venha o fim. É importante notar que nestas passagens o aparecimento do Anticristo segue a pregação do evangelho, como ocorre em 2 Tessalonicenses. Outros possíveis paralelos incluem Apocalipse 6.1-8, 19.11ss, e 11.3, onde Cullmann interpreta o primeiro cavaleiro, como o pregador do evangelho pelo mundo, que, novamente, precede imediatamente o Fim. Atos 6.6-9 também relaciona a proclamação mundial do evangelho à questão da demora do reino, ilustrando a perspectiva cristã nascente da atividade missionária, como prelúdio e sinal apocalíptico da vinda na nova era. O contexto imediato de 2 Tessalonicenses 2.6-7 sustenta a interpretação de “aquilo que detém” como se referindo à pregação do evangelho e “aquele que detém” como se referindo ao pregador, prototipicamente o próprio apóstolo Paulo. Versos 9-12 se referem à perdição daqueles que não têm o amor à verdade. A audiência nos versos 13-15 se contrasta com aqueles que rejeitam a pregação do apóstolo. (CARRIKER, 2002, p. 52, 53).
Essa argumentação de Carriker parece pertinente e, como demonstrada, possível de ser textualmente fundamentada. Dessa maneira, Paulo insiste na ideia de que a comunidade tessalonicense não precisa temer coisa alguma enquanto a pregação sistemática da Palavra continuar a ser anunciada.
*Este subsídio foi extraído de BRAZIL, Thiago. A Igreja do Arrebatamento: O Padrão dos Tessalonicenses para Estes Últimos Dias. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
Que Deus o(a) abençoe.
Telma Bueno
Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens
Mayara Valesca
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