EBD | Lição Jovem – Lição 13- O Milagre da Mulher Grega e Siro-fenícia

Fonte: Portal da Escola Dominical

Introdução
I – Jesus Entra em Território Pagão
II – A Reação de Jesus Diante do Pedido da Mulher
III – Uma Resposta Sábia e o Recebimento do Milagre
Conclusão

Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Demonstrar o que significava a atitude do Mestre em aproximar-se de território pagão;
Analisar a reação de Jesus ante o desesperado pedido da mulher;
Valorizar a resposta da mulher e a humildade do Senhor em atendê-la.

Palavras-chave: Milagre.

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor César Moisés Carvalho:

A narrativa do último milagre a ser comentado indica a verdade de que a fama de Jesus havia extrapolado a Judeia e a Galileia (Mt 4.24; Jo 12.20-22), e atingido regiões gentílicas, inclusive, as mais improváveis, posto que, a referida área, Tiro e Sidom (v.24), é prototípica, sobretudo no Antigo Testamento e, vale a pena pontuar, no aspecto negativo (Is 23.1-12; Jr 25.22; 27.1-11; Ez 26.1-21; Jl 3.4-8; Am 1.9,10), pois da “mesma região era a rainha Jezabel, símbolo da grave crise do século IX aC, em que se viu envolvido o profeta Elias, estrela de primeira grandeza na tradição popular”1.  O referido milagre do Senhor Jesus Cristo chama a atenção pelo que o texto deixa entrever, isto é, que entrara em uma “casa” e “queria que ninguém o soubesse” (v.24). A humanidade do Senhor aqui é destacada como se fala de qualquer outra pessoa, pois muito provavelmente Jesus queria descansar. Todavia, o evangelista notifica que Jesus “não pôde esconder-se”, pois como já foi dito, a fama do Senhor havia se alastrado. O texto marcano informa que “uma mulher cuja filha tinha um espírito imundo, ouvindo falar dele, foi e lançou-se aos seus pés” (v.25). Assim como o anterior, o milagre informado pelo texto envolve duas mulheres, mãe e filha (v.26). O conhecimento dos costumes sociais do Antigo Oriente indica que a forma como Jesus tratava a mulher, naquele momento histórico, estava muito à frente de seu tempo. Na verdade, até mesmo para os padrões atuais, a maneira como o Senhor valorizava a mulher é algo extremamente instrutivo. Neste caso, a questão merece ainda mais destaque, pois além de mulher ser estrangeira, isto é, gentia, era também pagã. Ao atendê-la, porém, afirma Gottfried Brakemeier, “Já se prenuncia nesses casos o surgimento de uma nova comunidade, que se constitui de judeus e pagãos, com base na fé em Jesus Cristo”2.
O milagre é conhecido pela sua epígrafe editorial que diz ser a mulher uma “cananeia” (Mc 7.24-30). Tal epígrafe consta da ARC enquanto que na ARA a epígrafe diz “A mulher siro-fenícia”. É possível que a epígrafe da ARC se dê pelo fato de que, no Antigo Testamento, a civilização fenícia estava situada ao norte da antiga Canaã e, portanto, os habitantes da região eram os cananeus. Contudo, no período intertestamentário, devido ao domínio grego que outrora havia prevalecido na região, Marcos informa que a mulher era “grega”, isto é, uma legítima gentia nos costumes incluindo a religião que não era o judaísmo, e siro-fenícia de nação, ou seja, aqui sim o aspecto de sua naturalidade que, pela localização, também podia ser chamada de cananeia, posto que seus habitantes eram os antigos cananeus (v.26). Tal informação vem a calhar com os propósitos e os destinatários do Evangelho de Marcos que, como tradicionalmente tem sido defendido, são os romanos, ou seja, cristãos de origem pagã. A narrativa neste caso seria, dentro do contexto do que anteriormente havia sido discutido (Mc 7.1-23), a demonstração concreta de que realmente não havia diferença entre judeu e gentio, pois não é o ritual que define a pessoa e sim o coração. Dessa forma, os ouvintes e leitores de Marcos deveriam ficar em paz, pois eram tão alvo do amor divino quanto os judeus. Uma vez que o pedido da mulher dizia respeito à libertação de sua filha da possessão demoníaca (v.26), de acordo com Gottfried Brakemeier, não é tão surpreendente que tenha sido atendida, visto que o “tema do exorcismo, pois, conduz ao centro do evangelho”.3  Em outras palavras, o Evangelho é primordialmente, antes de qualquer coisa, libertação.
A questão toda gira em torno desse assunto, pois a “ótica da narração está exatamente no encontro e diálogo de Jesus com a mulher, que o evangelista tem urgência de apresentar”, diz Rinaldo Fabris, pois “é uma grega, isto é, pagã de religião; é siro-fenícia de nacionalidade (7,26)”, justamente por isso, “emerge logo o tom escandaloso e duro da resposta de Jesus ao pedido da mulher”, cuja paráfrase pode ser a seguinte: “O pão dos filhos, isto é, reservado aos fiéis judeus, não pode ser atirado aos cachorrinhos, isto é, aos infiéis pagãos (7,27b)”.4  De acordo com o mesmo autor, com “o epíteto cão indicava-se, no ambiente judaico, o ímpio ou o pagão idólatra”, pois diz “uma sentença conservada numa tradicional coleção de ditados judaicos: ‘Quem come com um idólatra é como quem come com um cão’”. Assim, mesmo que pareça que a “dureza da reposta de Jesus”, esclarece Fabris, seja “em parte atenuada pela introdução: Deixa que primeiro se saciem os filhos e também pelo diminutivo de Marcos: os cachorrinhos”; é inevitável não concluir, que “a imagem usada por Jesus [passa] a impressão de racismo religioso”.5  Craig Keener diverge ligeiramente de tal interpretação e diz não ser “costume entre os judeus chamar os gentios de ‘cães’, como afirmaram certos comentaristas”, pois na realidade, “Jesus está ensinando por meio de uma ilustração, como os mestres faziam”.6  O referido autor explica que toda “comida sem valor era lançada aos cães (cf. Êx 22.31)”. Todavia, emenda dizendo que “Independentemente do gênero a que fosse aplicado, o termo ‘cão’ era um dos insultos mais pesados e comuns na Antiguidade, embora aqui funcione como analogia”. Observa também que no “judaísmo palestino, os cães eram considerados animais que se alimentavam de carniça, mas nas casas das famílias abastadas, influenciadas pelos costumes gregos (com os quais a mulher fenícia estaria mais familiarizada), havia, às vezes, cães como animais de estimação”. De qualquer forma, Keener, concorda que ainda “assim, a afirmação soaria ofensiva”.7
Interpretação completamente distinta oferece o teólogo pentecostal, Jerry Camery-Hoggatt, ao afirmar “que o versículo 27 é irônico”, pois, para ele, ler “apenas o que está na superfície da narrativa é interpretá-la mal”, ou seja, a perícope deve “ser lida como um pouco de atrevimento”.8 O mesmo autor diz que a “ironia” em questão é de um “tipo especial, às vezes chamada ‘ironia peirástica’ (derivada do termo grego peirazo, ‘pôr em prova’)”, e explica que tal “tipo de ironia é um desafio verbal tencionado a provar a resposta da pessoa”, pois na realidade pode “declarar o oposto da verdadeira intenção de quem fala”. Como um exemplo perfeito de tal “ironia”, Camery-Hoggatt cita “Gênesis 19.2, onde os anjos do Senhor provam a seriedade da oferta de hospitalidade feita por Ló declarando o oposto de suas verdadeiras intenções: ‘Não! Antes, na rua passaremos a noite’”. Em outras palavras, a resposta dos anjos não significava exatamente o que foi dito. Portanto, para o autor pentecostal, há fortes “indícios de que é exatamente assim que Marcos entende esta declaração”. Por isso, apresenta duas observações para reforçar seu pensamento: “A primeira”, diz ele, “e, na minha opinião, […] suficiente”, refere-se à “localização da história nesta série de afirmações da missão gentia”, pois se “Marcos pensa[sse] que a declaração indicava obstáculo de Jesus para aquela missão, ele poderia muito bem ter omitido o episódio inteiro”. A segunda “evidência é a sagacidade na construção da própria declaração”, posto que encerra “um conjunto de metáforas e uma alusão”. Falando primeiramente das metáforas ele diz que a primeira delas “são os ‘filhos’ (denotando, com certeza, os judeus) e os ‘cachorrinhos’ (epíteto judaico comum para referir-se aos gentios)”, portanto, ao inquirir a respeito do “‘pão’ (artos)”, Jesus “traz à consciência todo o complexo de significados desta palavra que foram levantados anteriormente em Marcos 6.1 a 8.30”, pois os referidos textos dizem “respeito indiretamente às bênçãos de salvação, mas neste contexto alude também à Ceia do Senhor”.9 Desta forma, o “empuxo da ironia peirástica é este: ‘Os cachorros ― os gentios ― receberão o que lhes pertence em breve, mas só mais tarde, quando as migalhas forem jogadas fora como lixo. Os judeus primeiro. Os gentios depois. Certo?’”. Portanto, o autor conclui que “a declaração de Jesus é lançada como desafio, um enigma a ser resolvido, um dito espirituoso que requer reposta mais engenhosa”.10
Se esta for, de fato, a questão, a mulher não apenas “decifra” o que Jesus diz, mas ainda acrescenta que entende perfeitamente como funciona a lógica apresentada pelo Mestre, pois a resposta dela é inequívoca: “Sim, Senhor; mas também os cachorrinhos comem, debaixo da mesa, as migalhas dos filhos” (v.28b). Como mãe, ela sabe que é insensato pegar o prato principal do domingo e, em vez de colocar sobre a mesa para ser degustado pelos filhos, postá-lo abaixo desta para que os cãezinhos de estimação se deliciem. Conquanto tal atitude mostrasse carinho para com os animais, seria completamente deselegante para com a família. Por isso, a questão não diz respeito à exclusão dos “cachorrinhos”, mas destaca a precedência da família, representada no diálogo pela figura dos “filhos”, ou seja, como afirma Daniel Harrington, a “espirituosa resposta da mulher usa o pronunciamento de Jesus para dar a vantagem a ela”.11  Em outras palavras, sem “negar a precedência histórico-salvífica de Israel e o foco do ministério de Jesus, ela rejeita a ideia de exclusividade para o poder de Jesus”.12 De um ponto de vista estritamente humano, e refém que sou da linguagem, abusando de um antropopatismo, é possível dizer que Jesus, nesse dia, “aprendeu” com a mulher siro-fenícia que “toda regra tem exceção”, pois Marcos é categórico em observar que no mesmo instante em que a mulher respondeu ao questionamento do Mestre, o Senhor exclamou: “Por essa palavra, vai; o demônio  saiu de tua filha” (v.29b; sem grifos no original). Fica evidente, tanto aqui quanto no texto paralelo (Mt 15.21-28), que o que demoveu o Senhor de sua firme decisão em não atendê-la, foi a surpreendente resposta da mulher pagã. O resultado do exercício da fé daquela mãe desesperada não poderia ter sido outro, registra Marcos — “E, indo ela para sua casa, achou a filha deitada sobre a cama, pois o demônio já tinha saído” (v.30) —, isto é, a fé, uma vez mais realizando o impossível e promovendo o inaudito. Tal é assim desde sempre, pois, como afirma o conhecidíssimo e clássico texto de Hebreus 1.1, “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem”.

*Adquira o livro do trimestre de autoria de CARVALHO, César Moisés. Milagres de Jesus: A Fé Realizando o Impossível. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

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Lidiane Santos

Correspondente pela sede desde 2013. Formada em serviço social e especialista em gestão pública municipal. Professora da Escola Bíblica Dominical.