EBD | Lição 3 – O Batismo de Jesus

I – O PROFETA QUE BATIZOU JESUS
II – O BATISMO DE JESUS E OS SINAIS DIVINOS
III – O BATISMO DE JESUS E O BATISMO CRISTÃO

Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:

Apresentar o profeta que batizou Jesus, João Batista;
Explicar como se deu o batismo de Jesus e os sinais divinos que ocorreram;
Mostrar as diferenças entre o batismo de Jesus realizado por João Batista e o batismo do crente.

Palavra-chave: Batismo.

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio abaixo:

O Batismo de João

O batismo de Jesus por João Batista no Jordão é tratado por todos os quatro evangelistas, isso demonstra a importância teológica desta narrativa. Aparentemente não haveria necessidade de descrever o batismo de Jesus. Afinal, qual o impacto em relação á vida e obra de Jesus. Mas, como já foi visto anteriormente, há um impacto teológico forte em relação a identidade de Jesus como Filho de Deus, bem como pela autoridade atribuída pela previsão antecipada nas Escrituras do povo judaico.

O batismo de João era com água e para arrependimento, um batismo de purificação, que era precedido por uma confissão de seus pecados (Mt 1.4). O discurso realizado por João Batista antes do batismo era direto e firme. Uma temática profética semelhante a Moisés (Dt 30.2, 10), Oséias (Os 2.7; 3.5; 6.1; 11.15), Amós (Am 4.6,8-9), Isaías (Is 6.10; 9.13; 31.6), Jeremias (Jr 2.27; 3.10, 12, 14, 22) e Ezequiel (Ez 14.6; 18.30, 32). Ele não tinha a preocupação com a reação dos seus ouvintes, pois não tinha a pretensão de agradá-los, mas de contribuir para a mudança de comportamento e resgate dessas vidas para Deus. Não deve ter sido um trabalho fácil e possivelmente ele tinha seus próprios questionamentos sobre seu ministério. O próprio João, posteriormente envia discípulos para perguntar a Jesus se ele era mesmo o que Cristo estava esperando. Assim como João muitos cristãos estão sujeitos a se sentirem sozinhos e duvidarem em determinados momentos sobre sua missão devido ao comportamento de outras pessoas, principalmente se foram autoridades ou líderes. Contudo, apesar das dificuldades e conflitos, João manteve seu discurso e foco na sua missão.

Parece que João “incendiava” mais o seu discurso, quando era procurado pelos fariseus e saduceus, que se sentiam seguros em seu legalismo e ritualismo. Provavelmente, não procuravam a João para serem batizados, mas por serem contra seu batismo (a preposição grega epi utilizada em Mateus 3.7 pode significar contra). A mensagem de João não parece ser a mensagem que seria esperada e aclamada pelos membros de nossas igrejas atuais. Vemos cada vez mais a busca por mensagens que massageiam o ego das pessoas, “profecias” de entrega de chaves, carro importado, entre outros “agrados divinos”. A mensagem de João era para arrependimento para um batismo que realmente simbolizasse a morte do “velho homem”.

Se o batismo de João era para arrependimento e precedido de um discurso duro, por que Jesus vai ao Jordão e procura João para ser batizado? Do que teria que se arrepender? Por que ouvir tal discurso? A atitude de João, seu primo, demonstra que conhecia Jesus e não via nEle necessidade de arrependimento e muito menos de batismo.

João anuncia um batismo superior ao seu

Interessante como antes do batismo de Jesus, João anuncia que existia um batismo superior ao seu. Que seu batismo não era um fim em si, mas uma preparação para o batismo com o Espírito Santo e fogo. Esse batismo era somente possível ser ministrado por alguém superior a ele, a quem não era digno de tirar as sandálias. Interessante que Mateus, diferente dos outros evangelhos e de Atos 13.25, usa o verto “tirar” e não “desatar” as sandálias. Isso pode significar um refinamento dos costumes rabínico posterior, pois para um discípulo era permitido fazer ao seu mestre qualquer coisa que um escravo faria, a única exceção era retirar seus sapatos. Fato é, que a postura de João é digna de admiração, pois não tinha nenhum constrangimento em reconhecer a superioridade de Jesus. Desse modo, o processo do batismo de Jesus tem muito a nos ensinar, além do próprio ritual. João demonstra a humildade que é peculiar das pessoas que realmente tem um chamado genuíno de Deus para realizar sua obra. Ele não precisa menosprezar o companheiro de ministério para se sobressair, pois posteriormente Jesus vai dizer que dentre os nascidos de mulher não houve um homem maior do que João Batista.

O batismo de João era um sinal de que os seus ouvintes haviam sido tocados pela sua mensagem e tomado a decisão de mudar definitivamente de comportamento. O arrependimento não poderia ser verbal, mas que resultasse em uma conduta coerente com a profissão de fé. Um ato público de confissão de fé. Infelizmente, existem pessoas que congregam anos na igreja, se batizam, mas não mudam de comportamento, tornando o ato sem valor. Nesse caso, o batismo serve apenas como uma pertença a um grupo social e não símbolo de pertença à Igreja de Cristo.

Todavia, sem desmerecer o próprio batismo (ritual), João anuncia um batismo superior que acompanharia as pessoas que viessem a reconhecer o que viria após ele, Jesus. Este era superior, pois salva dos pecados (Mt 1.21), ele cura e perdoa (9.1-8; 8.17) e tem poder sobre a morte (Mt 26.28).

O batismo anunciado por João envolve dois elementos: Espírito Santo e fogo, o que tem causado confusões quanto à sua interpretação. Esses elementos podem ter significado positivo e negativo. Espírito como castigo de Deus (Is 4.4. Jr 4.11-16), mas também como dom da aliança e realização da vontade de Deus (Ez 36.25-28; 39.29. Is 32.15; 44.3. Jl 2.28,29; Mt 1.18-25), como poder vivificador de Deus e Rei (Is 61.1-3). Fogo que purifica e limpa (Zc 13.9; Ml 3.1-3), também significa juízo (3.18—4.1) e castigo (Mt 3.10; 13.4-43; 25.41). A missão de Jesus é dupla abençoar e purificar os que aceitam seu Evangelho e julgamento sobre o que rejeitam. Ele “limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará” (Mt 1.12)

Jesus foi Batizado para que se Cumprissem as Escrituras

Por que procurar João para ser batizado, se o batismo era para arrependimento e precedido de um discurso duro? Do que Jesus se arrependeria? Por que ouvir tal discurso? Jesus já surge indo até João, nada se fala de sua infância. A atitude de João, seu primo, ao recebê-lo demonstra que os dois se conheciam. Carter apresenta três fatores que explicam que Jesus não foi batizado por arrependimento:

No contexto de 3,1-12, poderíamos esperar a cena que mostre o batismo de Jesus acompanhando seu arrependimento do pecado. Mas três fatores indicam que a ênfase está em outro lugar. (1) A cena cala sobre o pecado de Jesus ou arrependimento. (2) A autoridade de Jesus e o papel subserviente de João são mantidos quando Jesus dá instruções a João para batizá-lo. (3,15b). Os protestos de João em batizar o mais poderoso com batismo superior são superados pela declaração de Jesus de que por ‘ora’, essa mudança de sentido é apropriada para promulgar a vontade salvífica de Deus previamente manifestada (‘cumprir toda justiça’, 3,14-15). (3) Depois do batismo (3.16-17), um acontecimento revelador ocorre. Uma visão dos céus abertos e uma voz celestial revelam Jesus como agente de Deus, ungido e acreditado por Deus para realizar os propósitos de Deus. (CARTER, 2002, p. 141-142)

No início da narrativa sobre o batismo de João, Mateus faz questão de dar autoridade ao ministério de João. Ele reconhece seu ministério como cumprimento profético ao citar Isaías 40.3: “Voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai no ermo vereda a nosso Deus”. Outra informação que complementa essa sua intenção é a comparação entre João Batista e Elias, como já visto anteriormente. Mateus é o único evangelista que registra que de início João se recusa a batizar Jesus. Sua recusa é consistente com sua humildade e indignidade reconhecida em Mateus 3.11. No entanto, quando Jesus menciona que é para cumprimento de “toda a justiça”, o Batista se rende e o batiza. O Verbo cumprir o que aparece também em textos de Mateus (Mt 1.22; 2.15, 17; 4.14; 5.17; 8.17; 12.17; 13.35; 21.4; 26.54, 56; 27, 9) significa concordância da vontade de Deus com o que está acontecendo no ministério de Jesus, que fora previamente declarada nas Escrituras.

Mateus é meticuloso ao fazer vínculo de Jesus com a nação e a Escritura judaica. Ele pretendia demonstrar que Cristo era o Rei-Messias tão esperado pelo povo judeu. Quando Jesus se submeteu ao batismo de João estava aceitando seu destino para que se cumprisse o que estava escrito a respeito dEle (releitura do Antigo Testamento pelo Novo Testamento).

   a) Primeiro sinal: a descida do Espírito de Deus como pomba (Mt 3.16)

Mateus narra que logo após a subida de Jesus da água os céus se abrem para Ele. Esse era um artifício da literatura judaica: a abertura dos céus para revelar conhecimento celestial a determinada pessoa que estava em consonância com Deus (Ez 1.1; At 7.56; 10.11; Ap 19.11). A voz passiva “e eis que se lhe abriram os céus” indica uma ação direta de Deus, semelhante ao que acontece com Ezequiel, que também estava junto ao rio (Ez 1.1). Para Ezequiel a revelação era da libertação por parte de Deus, do povo judeu que estava no exílio babilônico. Em Jesus anuncia a chegada de um novo império para substituir o império tirano dos romanos. O Reino a ser estabelecido por Jesus de justiça e de misericórdia.

O evangelista afirma que Jesus “viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele”. O Espírito que já estava ativo no nascimento de Jesus (Mt 1.18-20) continua presente no início de seu ministério terreno. Viviano (2011, p. 144) garante que o “Espírito descendo sobre Ele significa que Jesus foi ungido como Messias (At 10.37, 38), isto é, que Ele recebeu poder, sabedoria e santidade para esse papel”. Jesus é ungido para proclamar e libertar o oprimido, conforme releitura que Ele mesmo faz de Isaías 61.1. Sinal do começo de um mundo novo, diferente daquele que era controlado pelo império de Roma. Os romanos tinham como aliados a elite política e religiosa de Israel, nesse reinado o enfraquecido e menos favorecido não tinha quem os representasse. Jesus vem para ocupar esse espaço, ou seja, ser a voz de quem não tinha.

   b) Segundo sinal: uma voz dos céus (Mt 3.17)

Logo após o batismo e a descida do Espírito de Deus como pomba sobre Jesus, Mateus afirma que “E eis que uma voz dos céus dizia: este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17). O que os rabinos chamariam de bat-qôl, que significa “a filha da voz”, ou melhor, uma pequena voz ou sussurro como agente da revelação. Mais uma vez Mateus recorre ao Antigo Testamento, a frase “este é meu Filho amado” é uma alusão a Sl 2.7 e Is 42.1.

A referência ao Salmo 2.7 “[…] Tu és meu Filho; eu hoje te gerei.”, que faz parte de um contexto de coroação de um filho de Davi como Messias, levou alguns mestres heréticos da Igreja Primitiva afirmar que Jesus se tornou Filho de Deus somente em seu batismo. Mateus utiliza o texto dos Salmos para demonstrar que o evento já estava previsto. Todavia, na releitura de Mateus ele faz uma mudança importante na frase, pois em vez de dizer “tu és” como o salmista, ele diz “este é”. Além disso, ele substitui a última metade do verso por palavras da passagem de Isaias (Is 42.1). Nessa perícope, o profeta veterotestamentário refere-se à figura de servo ideal de Deus, que toma o caminho da obediência e do serviço, fazendo perfeitamente a vontade do Senhor. Mateus pretende apresentar Jesus como o Servo Sofredor de Deus. Viviano (2011, p. 145) afirma que o servo “é uma figura misteriosa que, embora inocente, sofre por seu povo. É o tema de quatro cânticos em Deutero-Isaías (42,1-4; 49,1-7; 50,4-11; 52,13; 53,12)”.

A alternância entre filho e servo pode parecer uma contradição. No entanto, demonstra que mesmo sendo Filho de Deus, Jesus tinha a humildade de servir sem constrangimento, diferente da tendência do ser humano. Jesus se transforma num imã de títulos salvíficos. Na tradição cristã posterior, o batismo é considerado a primeira revelação neotestamentária da trindade econômica, posto que o Pai, o Filho e o Espírito Santo aparecem conjuntamente nesta cena. Outro aparente paradoxo é a mudança da figura do Messias, que devia batizar com Espírito e com fogo e a descida do Espírito em forma de pomba, um símbolo de suavidade e mansidão. Todavia, dependendo da atitude do ser humano em relação à vontade de Deus, Jesus pode ser a verdadeira benignidade como também a severidade, conforme prescreve o apóstolo dos gentios (Paulo) em Romanos 11.22. Como exercício, Tasker (2006, p. 40) propõe contrastar Mateus 11.29 com Mateus 25.41.

Barros (1999, p. 33) traz um bom resumo que define tudo: “Jesus descobriu que o seu modo de ser anunciador do Reino não era como um Messias poderoso, ou como Rei de Israel (Filho de Davi), e sim sendo o Servo Sofredor de Deus (Is 42)”. Jesus, o Filho de Deus, que se fez servo e sofreu para servir, mas que recebeu toda autoridade nos céus e na terra do próprio Pai, que da vida e obra dEle se agradou.

*Este subsídio foi adaptado de NEVES, Natalino. Seu Reino Não Terá Fim: Vida e obra de Jesus segundo o Evangelho de Mateus.  1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017,   pp. 34-40.

Que Deus o(a) abençoe.

Telma Bueno
Editora Responsável pela Revista Lições Bíblicas Jovens

 

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Lidiane Santos

Correspondente pela sede desde 2013. Formada em serviço social e especialista em gestão pública municipal. Professora da Escola Bíblica Dominical.