EBD | Classe Jovens – Lição 3 – Moisés: um líder de oração

Fonte: Portal da Escola Dominical

1º Trimestre de 2021

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor Marcos Tedesco, comentarista do trimestre:

INTRODUÇÃO
Moisés é considerado, até os dias atuais, um dos líderes mais conhecidos da história da humanidade. Milênios se passaram e suas experiências ainda nos influenciam de forma vívida. Desde sua formação inicial em solo egípcio, passando pelas experiências durante os anos de solidão como um pastor do deserto e as magníficas histórias protagonizadas à frente do povo israelita no êxodo, a vida de Moisés foi marcada por uma condicionante decisiva: um relacionamento de grande intimidade com Deus. Nosso interesse maior nesse momento é justamente esse relacionamento tido pelo líder hebreu com Jeová. Desde menino, Moisés viveu momentos marcantes: de salvo das águas foi ao palácio viver como um príncipe; do luxo de uma monarquia escolheu abrandar o sofrimento do seu povo; da simplicidade do pastoreio de ovelhas tornou-se um grande líder; e, permitiu que o povo de Israel visse, de forma impressionante e pessoal, o agir do grande Eu Sou!

Moisés Fala com Deus 

Muitos fatos podem ser destacados quando analisamos a história de vida de Moisés, porém uma das faces mais impressionantes da vida desse homem era justamente a dimensão de seu relacionamento com Deus. A Bíblia nos revela o fato de ele falar com o Senhor de um modo muito direto e íntimo, ou seja, face a face (Êx 33.11; Nm 12.8; Dt 34.10). O relacionamento existente entre Moisés e o Senhor nos serve de inspiração de como devemos conduzir nossas vidas em todas as áreas do nosso cotidiano. As orientações divinas eram prontamente obedecidas (Êx 3; 4.19-20; 6.2; 14.21), embora uma exceção seja bem conhecida (Nm 20.11), e o poder de Deus se manifestava no meio do povo. Temos, nesse grande líder, um referencial para nós. Sigamos com ardor o exemplo de Moisés e busquemos, com entusiasmo, a presença divina em nossas vidas.

Um homem experimentado

Moisés era um homem com muitas habilidades e tinha plenas condições para se destacar no meio da multidão. Mas ele era diferente. Não se deixava confundir por sua história, seu prestígio ou sua experiência. Moisés tinha uma prioridade bem definida, ele queria Deus! Era alguém que não se deixava enganar pelas armadilhas e ciladas do dia a dia, pois sua visão focava o espiritual. Durante toda a sua trajetória à frente do povo hebreu, não foi diferente: em diversas ocasiões, sua vida de oração ganhou destaque, permitindo-nos ver, com nitidez, o quão precioso é levar todos os nossos sentimentos e pensamentos ao Deus Todo-Poderoso! Nascido escravo (Êx 2.2), foi adotado por uma princesa egípcia (Êx 2.10) e morou no palácio por muitos anos como um membro da realeza. Estudou com os maiores mestres da antiguidade e, ainda jovem, já era um erudito e muito talentoso. Vivendo no palácio, sentiu o coração apertar ao constatar o sofrimento do seu verdadeiro povo. Após um triste episódio (Êx 2.12), retirou-se para o deserto e, com as ovelhas e as cabras (Êx 3.1), aprendeu sobre cuidado, mansidão, paciência e simplicidade. Achava que sua vida tinha chegado ao período de estabilidade, um grande equívoco. Do meio da sarça ardente (Êx 3.4), o grande Eu Sou o chamou para uma missão de notável relevância: conduzir o povo de Israel, em liberdade e segurança, até a Terra Prometida (Êx 3.10). O início da grande história começa entre as pragas no Egito (Êx 7.20) e as constantes negativas do Faraó (Êx 8.15). Ele vivencia, com temor, o Mar Vermelho se abrir (Êx 14.21), a água brotar da rocha (Êx 17.5), as vitórias bélicas de um povo fraco sobre experimentados guerreiros do deserto (Êx 17.13), o pão que caía do céu (Êx 16.4), e a coluna de nuvem e de fogo que os cobria dia e noite pelo desafiador deserto (Êx 13.21). Esse foi Moisés, um homem, mesmo vivendo tantas histórias, teve a ousadia e o privilégio de falar com Deus, frente a frente (Êx 33.11). Ele conhecia o poder da oração.

Durante o evento narrado em Êxodo 33, Deus faz uma revelação que traria grande surpresa a Moisés: “… porque eu não subirei no meio de ti, porquanto és povo obstinado, para que te não consuma eu no caminho” (v. 3). O líder sabia que o povo era difícil, contudo não imaginava o quanto essa dificuldade criaria obstáculos para a trajetória. Deus deixara bem clara uma condição muito peculiar a respeito do povo: eram obstinados. Qual o sentido da palavra “obstinado” usada no texto? A palavra pode levar a duas interpretações, todavia, mediante o conhecimento desses significados, identificamos facilmente qual o significado da palavra no contexto do texto lido. Primeiramente, obstinado pode significar alguém perseverante e determinado. Uma segunda interpretação indica alguém porfiador, inflexível, intolerante, teimoso e relutante. Essa segunda definição é a que descreve com clareza o povo hebreu no contexto apresentado. Assim que saíram do Egito, os recém-libertos já iniciaram suas rotinas de reclamações (Êx 14.11) e murmurações relacionadas às maravilhas experimentadas de forma miraculosa. Os israelitas formavam um povo que, mesmo em meio a tantas bênçãos literalmente caídas dos céus (Êx 16.3), apenas viam o lado negativo da vida, muitas vezes inexistente, valorizando-o de modo exagerado e de forma injusta (Êx 15,24). Esse era o povo conduzido por Moisés. Movido por um amor só encontrado naqueles que verdadeiramente servem a Deus, Moisés queria algo mais do que apenas a sobrevivência física do povo hebreu. Ele queria o perdão e a restauração do povo, almejava a presença do Pai celeste à frente de um povo arrependido e confiante em marcha triunfante. Nesse sentido, ele intercedeu.

Essa é a marca de um verdadeiro servo de Deus, movido pelo amor. Diante da queda do povo e consequente juízo, Moisés intercedeu a fim de que Jeová os perdoasse e renovasse a sua aliança com o povo. A oração de um justo é um instrumento poderoso na intercessão pelos que estão sem esperança e caminham para a destruição.

Um líder de oração

A missão dada por Jeová a Moisés possuía um grau de dificuldade muito elevado. Não bastava o preparo recebido na corte egípcia ou no deserto; a vitória apenas seria possível se o líder buscasse as suas forças em Deus. Esse princípio também pode ser aplicado em nossas vidas: diante das dificuldades levantadas, a oração é o caminho para buscarmos no Pai as condições para uma trajetória vitoriosa. Os momentos em que Moisés buscava a Deus representavam um verdadeiro refúgio frente ao clima escaldante das insatisfações do povo mal-agradecido e murmurador. Nesses momentos, Deus o consolava, fortalecia, direcionava e apresentava as soluções para as mais diversas dificuldades. A oração feita com devoção nos permite abrir o coração e levar todos os nossos medos, anseios, dúvidas e sentimentos ao Senhor e, mediante a fé, experimentar a sensação de ser acolhido e respondido por Deus. A presença divina toma o nosso coração e permite uma quietude restauradora. Aos poucos, as dúvidas se desfazem, o medo se dissipa e o que sobra é a certeza de que somos cuidados pelo Pai amado.   A oração tem esse maravilhoso papel: é no diálogo diário que Deus nos ouve e traz paz para nossa alma aflita. Desafios colossais não resistem aos efeitos de uma vida de oração aos pés do nosso amado Pai.

Deus Fala com Moisés Face a Face (Êx 33.11) 

A experiência narrada em Êxodo 33 nos leva a um entendimento muito peculiar sobre a relação existente entre Moisés e Jeová: uma amizade construída solidamente. Vejamos as expressões: “face a face” (v.11), “amigo” (v.11), “conheço-te por teu nome” (v.12), “graça aos meus olhos” (vv.12,13,16,17). Também, observemos a argumentação de Moisés em relação ao povo (vv.12-17) e o inusitado pedido para que pudesse ver a glória de Deus (vv.18-23). Todas essas palavras expressam um grau de relacionamento que não é comum em nenhum relato antigo e tampouco atual. Como era possível tal proximidade entre Criador e criatura? Qual o segredo da união entre o Deus soberano e o homem pequenino chamado Moisés? A resposta por completo é um mistério, entretanto boa parte dessa relação era impulsionada mediante uma maravilhosa vida de oração.

Se desejamos ser amigos de Deus, precisamos buscar um relacionamento contínuo, abrindo nosso coração com total sinceridade e com a certeza de sermos ouvidos e acolhidos. A comunhão com Deus não é estática e inerte, ela requer um movimento dinâmico e progressivo em busca de um crescimento constante. A nossa direção deve ser na busca incessante por uma comunhão profunda com Deus e com os seus propósitos. Um grande impeditivo para isso ocorrer é o fato de formalizarmos em excesso os momentos em que nos dirigimos a Deus em oração. Tentamos criar rituais e usamos palavras difíceis e mecânicas, que, com pouca clareza, expressam o que desejamos falar. Também criamos momentos fixos e predeterminados para as orações, tirando assim a espontaneidade que poderíamos ter. Oramos formalmente em alguns horários e, dessa maneira, corremos o risco de nos esquecer de que devemos “orar sem cessar” (1 Ts 5.17). Não podemos deixar de lado os momentos fixos de oração, como, por exemplo, no amanhecer, antes das refeições, nos horários de culto e devocionais, bem como antes de dormirmos, no entanto enfatizamos a necessidade de orarmos a todo tempo e amarmos a Deus com todas as nossas forças (Dt 6.5). O mesmo princípio se aplica também para com a linguagem utilizada. Não há problema em usarmos palavras rebuscadas e cultas, porém devemos cuidar para que elas não nos deixem tão distantes do real sentido de nossos sentimentos. Use as palavras que melhor expressam o que sente a sua alma.

Poucas coisas trazem mais segurança e alegria do que quando nos sentimos conhecidos e compreendidos por quem nos ama. Quando vemos uma criança sozinha ou rodeada de pessoas estranhas, a insegurança a leva às lágrimas facilmente. É confortante quando ouvimos o som do nosso nome pronunciado junto com palavras de direcionamento, apoio, cuidado e incentivo. Provavelmente, esse foi o efeito alcançado quando o Senhor se dirigiu a Moisés e disse: “Conheço-te por teu nome”. Nessa hora, o grande líder hebreu sentiu-se seguro e acolhido pelo grande Eu Sou. Era a hora de interceder pelo povo, estava aberto o caminho. É importante destacar que em várias passagens bíblicas esse princípio é adotado (Gn 18.19; Jr 1.5; Jo 10.14; 2 Tm 2.19) e sempre com a prerrogativa de destacar o fato do conhecimento que Deus tem a respeito dos seus, preparando-os para uma grande responsabilidade a ser assumida. O termo “conheço-te”, utilizado nessa passagem bíblica, tem um significado diferente do verbo “conhecer”. Enquanto o verbo nos remete ao ato de perceber ou identificar a existência de algo, o texto bíblico citado nos impele a uma compreensão mais profunda sobre alguém. “Conhecer”, no contexto estudado, traz conforto e, ao mesmo tempo, um incentivo a seguir em frente. O texto bíblico nos permite visualizar um processo contínuo de conhecimento em que Deus se inclina e percebe na vida de alguém sentidos, intenções, práticas, desejos e comprometimentos. No Evangelho de João, há um texto que ilustra bem esse entendimento: “Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido” (Jo 10.14). Jesus, nessa passagem, deixa claro que o “conhecimento” se dá através de um processo, envolvendo “relacionamento” e “troca” entre aquele que conhece e o que é conhecido. Devemos sempre buscar um relacionamento de fé e confiança em Deus levando a Ele todos os nossos sentimentos, sonhos, ansiedades e objetivos para que o Pai perceba em nós o profundo desejo de estar, sempre, no centro da sua vontade.

Nos inspira ou nos constrange? 

O texto estudado apresenta um Moisés vivendo um momento extremamente delicado em sua vida (Êx 19-34). Depois de passar um longo período, 40 dias e 40 noites, em jejum e oração, levou para o povo de Israel as tábuas da Lei. Era para ser tempo de renovo e confirmação de que estavam no caminho certo em direção à Terra Prometida. Mas não foi isso que aconteceu. O povo se desviou do que era certo e abandonou o culto a Jeová, entregando-se a um ídolo feito por mãos humanas. A decepção foi grande e as tábuas foram quebradas em um ato de grande indignação. De volta ao monte, era o momento do diálogo tão impressionante que estamos estudando (Êx 33.12-17). Moisés tem a oportunidade de ser o pai de uma grande nação, contudo ele sabia que esse não era o caminho a ser seguido. Deus diz: “[…] farei de ti uma grande nação” (Êx 32.10). Todavia, o grande líder, com ousadia, exclama: “[…] esta nação é o teu povo” (Êx 33.13). Aparentemente, Moisés seria alvo de uma grande bênção ao aceitar a proposta, entretanto ele era um amigo muito chegado de Deus. E o Pai conhecia o coração do seu servo. Ele não queria apenas a bênção, e sim, seu desejo ardente era pela presença real e contagiante do “Deus da bênção” (v.15). O próximo momento mostrou um homem falível, no entanto sincero e sedento, almejando uma intimidade inédita para com o Deus Todo-Poderoso, rogando para que o Senhor lhe mostrasse a sua glória. Que exemplo de visão espiritual! Todo cristão deve almejar tal relacionamento e buscar insistentemente essa condição. Essa é a vontade de Deus: também foi assim com Adão (Gn 3.8), com Abraão (Gn 12.1), com Josué (Js 1.1-9), com Samuel (1 Sm 3.10) e tantos personagens encontrados nas páginas da Bíblia. Esse relacionamento nos inspira ou nos constrange? Alegra-nos e motiva-nos a orar e buscar ainda mais a presença de Deus? Ou deixa-nos constrangidos pelo pouco que fazemos em nosso dia a dia para alcançarmos um relacionamento mais íntimo com Deus? Desejamos ardentemente que a resposta dada por cada um de nós seja sempre: inspira e constrange, ao mesmo tempo.

Moisés Roga a Deus a sua Presença (Êx 33.12-17)  

O grande líder do povo hebreu nos ensina uma grande lição no que tange ao estabelecimento de prioridades. Diante da possibilidade em seguir adiante sem a presença de Jeová, Moisés reage e abre o coração, manifestando onde estava o seu foco: ele queria mais de Deus. Inúmeras são as histórias de pessoas que se deixaram iludir por aparências e falsas sensações de poder e os encantos da ambição. Tanto nas narrativas bíblicas (Gn 3.1-6; 11.1-9; Js 7; Jz 16; 1 Sm 2.12-17; 1 Sm 13.8-23) quanto ao longo de toda a história da humanidade, podemos encontrar muitos casos de pessoas distanciadas de Deus e que começaram a depender apenas de suas próprias potencialidades a fim de alcançarem seus objetivos. Os resultados foram aqueles já esperados por nós: o esfriamento do amor, a destruição da vida e a perdição diante do engano. Porém, na história de Moisés, temos um bom exemplo a seguir, não é mesmo?

Sede por Deus: uma prioridade 

Não sentimos sede de algo que não é prioritário, sendo assim, devemos cuidar para não confundir “sede” com “desejo”. A “sede” apenas acontece quando dependemos extremamente de algo em falta no nosso organismo. O exemplo mais conhecido é a água. Quando sentimos sede de água, o nosso organismo já está desidratado. Já o “desejo” implica a vontade de fazer algo prazeroso ou necessário, contudo jamais imprescindível. Podemos desejar um copo de suco, todavia jamais morreremos se não o tomarmos. Já a água, se não for constantemente ingerida, fatalmente nos levará a perecer. Quando Moisés se referiu à “presença de Deus”, estava apontando algo vital para a sua existência. O grande líder compreendia perfeitamente que suas forças vinham de Deus, logo o que sentia era “sede”.

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Lidiane Santos

Correspondente pela sede desde 2013. Formada em serviço social e especialista em gestão pública municipal. Professora da Escola Bíblica Dominical.