EBD | Classe jovem – Lição 3 – Santidade – Requisito Para a Conquista

Fonte: Portal da Escola Dominical

1º Trimestre de 2019

Introdução
I-A Repetição de Advertências
II-O Caminho da Consagração
III-Comunhão no Deserto
Conclusão

Professor(a), a lição deste domingo tem como objetivos:
Discorrer a respeito da natureza das leis repetidas pelo Senhor no deserto do Sinai;
Explicar o teor da bênção sacerdotal, o valor espiritual das ofertas e a grandeza da consagração levítica;
Demonstrar a importância da comunhão com Deus no deserto.

Palavras-chave: Peregrinação no deserto.

Para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio de autoria do pastor Reynaldo Odilo:

INTRODUÇÃO
Quando Deus tirou o seu povo do Egito, de lá também saiu uma multidão composta por pessoas que não eram descendentes de Jacó (Êx 12.38). Todos esses indivíduos viram, na verdade, os milagres do Senhor na terra dos faraós, mas não conheciam os seus santos caminhos (Sl 103.7). No Sinai, o Altíssimo entregou a Moisés e esse, por sua vez, apresentou a todo o povo um conjunto de mandamentos que ensinavam como andar com Deus — como viver em santidade.

Agora, naquele instante da jornada, depois de algumas providências administrativas (Nm 1 e 2), o Eterno repetiu várias leis. Ele estava advertindo que, para chegar a Canaã, era preciso obediência à sua Palavra, o que propiciaria àquele povo o padrão de plenitude moral exigido pelo Senhor, conduzindo-os a um estado doutrinário e cultural marcado pela pureza!

Deus, naquele momento, estava chamando a atenção dos hebreus para a santidade, virtude sobre a qual não havia nenhum referencial no Egito; porém, agora, o Senhor expedira muitas determinações comportamentais. Os filhos de Israel, assim, tinham um grande desafio pela frente, o maior: serem santos! Se eles vencessem essa guerra interior contra o pecado, a Terra Prometida seria conquistada gloriosamente.

I – REPETIÇÃO DE ADVERTÊNCIAS

1-Pureza Social 

A Bíblia não diz em lugar nenhum que Deus é bom, bom, bom; ou justo, justo, justo; porém está escrito que Ele é “Santo, Santo, Santo” (Is 6.3), fazendo emergir a presunção de que a característica que mais demonstra a essência do caráter divino é a santidade. Também não consta em nenhuma Escritura: seja bom, porque Eu sou bom; ou seja justo, porque Eu sou justo, porém o Senhor recomenda: “Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pe 1.16), demonstrando que, quando se busca a santidade, o ser humano anela cumprir o desejo primordial do Altíssimo: ser “conforme à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29). O povo de Israel, assim como a Igreja, foi predestinado (não individualmente, como pensam os calvinistas de modo equivocado) para ser santo como Cristo!

Nesse diapasão, em Hebreus 12.14 está escrito que somente quem busca ser aperfeiçoado em santidade, seguindo pelo caminho da santificação, de forma gradual e contínua, poderá ver o Senhor. Ou seja, viver em santificação é requisito indispensável para ir morar no céu! Mister lembrar, porém, que somente quando se chegar ao céu é que se alcançará a santidade integral — a estatura de varão perfeito.

Diante desse elevado padrão de separação de tudo que era contaminado, Deus estabeleceu leis bastante restritivas, com o afã de demonstrar a total pureza do seu caráter e como seus filhos deveriam agir. Em Números 5.1-10, por exemplo, o Senhor tratou sobre a pureza social. Deus, portanto, querendo proteger a saúde do povo, determinou que os contaminados pela bactéria da lepra, por fluxo corporal ou por terem tocado num morto, fossem lançados fora do arraial; bem como tratou acerca da restituição de quem causasse prejuízo a outrem. O povo de Deus tinha que ter pureza em todos os aspectos. Assim, os hebreus deveriam se livrar de “toda a aparência do mal”, de tudo o que fosse prejudicial ao espírito, à alma ou ao corpo.

Dessa forma, os que aparentavam algum tipo de “contaminação” biológica deveriam ser apartados do povo, mas não mortos, até que ficassem purificados; e os que tivessem comportamento inadequado, restituíssem devidamente aos prejudicados. Não é demais lembrar que, como diz 1 Co 10.6, “essas coisas foram-nos feitas em figura”.

2-Pureza Relacional 

O Eterno queria que os hebreus formassem famílias felizes, as quais fossem modelo para o mundo. Afinal, sobre aquele povo pendia a promessa: “em ti serão benditas todas as famílias da terra”. Ocorre que, infelizmente, “os conflitos em família não são incomuns, pelo contrário, desde os tempos primordiais eles existem. São fruto natural da desobediência do ser humano ao seu Criador”.1  Sendo assim, o Espírito do Senhor tratou de pureza relacional no casamento (Nm 5.11-31). Em uma sociedade dominada pelos homens, em que as mulheres eram tratadas como mercadoria, essa lei era muito valiosa para as famílias, pois evitava que as esposas sofressem injúrias ou difamações levianamente.

Victor P. Hamilton trata com profundidade sobre essa determinação divina:

O terceiro parágrafo do capítulo (vv. 11-31) prossegue no tema da preservação da santidade no meio do povo de Deus. A questão aqui é um suposto ou real adultério por parte de uma esposa. O marido suspeitava da infidelidade, mas não havia nenhuma testemunha, nem a mulher era pega em uma situação embaraçosa.
[…] É fascinante que mesmo a suspeita de um pecado precise ser investigada. Se a suspeita não desse nada, nenhuma providência seria tomada; mas se fatos anormais e perturbadores viessem à tona, eles deveriam ser enfrentados.
[…] Longe que aviltar a mulher, obrigando-a a atender todos os caprichos de um marido leviano, o procedimento promove exatamente o contrário. Após observar a posição muitas vezes inferior da mulher no Antigo Testamento, Brichto comenta: “O ritual […] é um estratagema em favor da esposa. Ele propõe que o marido prove o que alega ou se cale”. Ao suspeitar de sua esposa, o marido deve ter coragem suficiente para pôr em ação um mecanismo que estabelece a verdade de uma forma ou de outra. Se não tiver coragem para passar da suposição à prática, deverá abandonar as acusações e interromper quaisquer insinuações.2

Deus, em sua sabedoria, criou um mecanismo jurídico religioso que resolvia uma questão, a qual, muitas vezes, apresentava-se insolúvel. Na família de uma nação santa, os cônjuges precisavam viver em paz, sem nenhuma sombra de acusação. Em que pese o procedimento ser rudimentar, talvez esse fosse o único compatível, do ponto de vista sociojurídico, em face da “dureza de coração deles” (Mt 19.8).

3-Pureza Espiritual 

Ainda dentro do aspecto da santidade, Deus estabeleceu um padrão para aqueles que quisessem se consagrar para servi-lo: fazer o voto do nazireado (Nm 6.1-21). Não poderia ser de qualquer maneira, mas as pessoas precisavam se submeter aos paradigmas estabelecidos: abster-se de vinho e de outras bebidas fermentadas, além de qualquer coisa associada a elas; o cabelo não podia ser cortado e, também, era proibido tocar em um cadáver. “O nazireu continuava vivendo um estilo de vida normal durante o período do seu voto, mas era um protesto vivo contra aquilo que estimulava o pecado (cf. Gn 9.20; Pv 31.4,5; Is 28.7)”.3

O Altíssimo anelava que Israel fosse “uma nação sagrada, pela qual sua glória seria manifestada em toda a terra. Ele deu a essa nação um conjunto de leis e normas únicas e gloriosas para viver; princípios maravilhosos de santidade e divindade”,  a fim de manifestarem a glória daquEle que os libertou do Egito com mão forte e braço estendido. Impressionante como, no caso do nazireado, o Senhor estabeleceu diversos detalhes, para que todos compreendessem: não se pode servir a Deus sem regras, ou pior, criando suas próprias regras.

O Senhor ensinava ao seu povo que a maneira de adorar já estava definida no céu e que, por isso, o adorador deveria conhecer e adequar-se ao padrão divino. Esse modelo foi inaugurado no Sinai e transpôs os milênios até os tempos do ministério de Jesus, bem como da Igreja Primitiva, e alcançou os dias atuais. Ocorre que, nas últimas décadas, tem surgido uma “nova espiritualidade” no seio das igrejas evangélicas, que faz presumir que o indivíduo que busca ser um adorador tem autoridade para determinar o que é melhor para ele, definindo inclusive o que é espiritualidade para si mesmo.

Nessa “nova espiritualidade” não existe mais um consenso acerca do caminho da adoração cristã; todavia, há um sem número de atalhos ou combinações de atalhos para uma pessoa seguir, conforme seus próprios gostos, numa espécie de utilitarismo sentimental — a opção pelo que seja mais útil para satisfazer os sentimentos do indivíduo acerca do que é ser espiritual. Nessa concepção de espiritualidade, a verdade não é constante, absoluta, mas surge a partir do contexto histórico e cultural, uma vez acreditar-se que ela está em contínua mudança para acomodar nosso desenvolvimento. Não! O padrão da genuína adoração não muda por causa do decorrer dos anos. A Terra deve se prostrar diante do céu, de acordo com os padrões celestiais, mas nunca o contrário!

Assim, fazer “festa junina gospel” no santuário do Senhor, colocar telões na congregação para assistir a jogos de futebol, transformar, nas madrugadas, o templo em “boate gospel” são exemplos dos efeitos abomináveis práticos dessa “nova espiritualidade” que tenta dessacralizar o que foi consagrado ao Senhor. O padrão de pureza espiritual e litúrgica, como recebido dos pioneiros da fé evangélica, aqueles que fincaram os marcos antigos (Pv 22.28), não deve ser removido! Deus espera que seu povo seja nazireu dEle, seguindo as determinações de santidade. Afinal, “a falta de santidade conduz à inutilidade no Reino de Deus. Sempre foi assim, e sempre será”.

II – O CAMINHO DA CONSAGRAÇÃO 

1-A Bênção de Deus

O povo de Israel deveria ser uma bênção (Gn 12.2), mas também deveria estar apto para receber as bênçãos de Deus, pelas mãos dos seus líderes. Nesse passo, Deus instruiu que os sacerdotes deveriam abençoar os filhos de Israel. Notável é perceber que, em língua hebraica, o número de palavras de cada linha da bênção cresce em progressão aritmética — duas palavras por linha, talvez identificando um processo de causa e efeito. “Havendo obediência e compromisso com uma vida de santidade (Nm 1.1–6.21), o resultado é a presença de um Deus abençoador (6.22-27).”

Observe-se que as palavras eram sacerdotais, porém a bênção vinha do Senhor, da maneira mais ampla possível, trazendo sua proteção, presença e paz (Nm 6.24-26). Como diz Victor Hamilton, nessa passagem bíblica, “Deus, como um rei, concede de forma graciosa uma audiência a seus súditos. Ele não se mostra indiferente. […] ‘levantar seu rosto’ sobre seu povo significa aceitá-los, exibir sua face em um sorriso, dar-lhes um olhar de aprovação”.7

O Senhor os protegeu de tal modo que, tempos após, quando Balaão, o falso profeta, tentou amaldiçoar o povo de Israel, teve que pronunciar as seguintes palavras:

Não viu iniquidade em Israel, nem contemplou maldade em Jacó; o Senhor, seu Deus, é com ele e nele, e entre eles se ouve o alarido de um rei. Deus os tirou do Egito; as suas forças são como as do unicórnio. Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel; neste tempo se dirá de Jacó e de Israel: Que coisas Deus tem feito! (Nm 23.21-23)

A bênção do Senhor trouxe segurança e paz ao seu povo, mesmo diante de maldições e acusações. Com a mesma intimidade e magnanimidade, o Senhor Jesus, quando foi ensinar seus discípulos a orar, orientou-os que pedissem ao Pai que Ele santificasse o seu nome sobre eles (Mt 6.8). Como vale a pena ser fiel ao Senhor!

2-A Bem-Aventurança de Dar

Desde o último capítulo de Êxodo, até Números 6, Moisés descreveu os fatos que aconteceram desde a construção do Tabernáculo, no primeiro dia do segundo ano, até o encerramento do recenseamento, trinta dias após. Agora, nos 88 primeiros versículos de Números 7, são informadas as dádivas tribais para o altar, sendo que cada líder deu um prato de prata (pesava 1.400g), uma bacia de prata (pesava 800g) e uma colher de ouro (pesava 120g). Os pratos e as bacias estavam cheios de azeite misturado com farinha, e a colher continha incenso — elementos básicos da oferta de manjares (Lv 2). Os líderes igualmente trouxeram animais para serem ofertados ao Senhor. As contribuições eram semelhantes, mas Deus — que não se esquece do trabalho das mãos dos seus servos — fez questão de especificá-las individualmente. O Senhor estava satisfeito com a voluntariedade do povo e, por isso, registrou tudo. Talvez, como anota Gordon J. Wenhan, o Altíssimo quisesse enfatizar que todas as tribos estavam em pé de igualdade na adoração a Deus e que elas dedicavam-se inteiramente, voluntariamente, no serviço de manutenção do Tabernáculo e, também, no sustento dos sacerdotes, afinal esses produtos trazidos eram a base da fonte de rendas dos sacerdotes.8

Em Números 7.89, logo após relatar as contribuições apresentadas, está escrito: “E, quando Moisés entrava na tenda da congregação para falar com o Senhor, então, ouvia a voz que lhe falava de cima do propiciatório, que está sobre a arca do Testemunho entre os dois querubins; assim com ele falava” (Nm 7.89). Glória a Deus! O Senhor estava satisfeito, não apenas com a quantidade das ofertas, mas também com a voluntariedade e alegria com que foram trazidas. O Tabernáculo era o palácio do Deus vivo no deserto!

3-Obediência no Chamado

Está escrito em Levítico 10.3: “Serei santificado naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo”. Deus havia anunciado um tratamento especial para aqueles que estivessem sendo usados por Ele. Então, em Números 8, complementarmente, o Altíssimo demonstra que o caminho da consagração do povo era pela purificação dos levitas. Interessante que, em primeiro lugar, o Senhor determina que Arão acenda as lâmpadas; uma vez o santuário iluminado, o ritual de purificação dos levitas, por Moisés, começaria. Tudo no santuário deveria ser feito às claras, sob a orientação de Deus!

Uma das grandes verdades aprendidas por Moisés, Arão e pelos demais sacerdotes, era “que Deus esperava maior consagração e vida santificada da parte dele do que das pessoas comuns”.9 O caso de Nadabe e Abiú decerto ainda ressoava fortemente na memória dos hebreus. Da mesma forma, os sacerdotes levitas precisavam viver uma vida de santidade, para serem canais de bênçãos para um grupo de ex-escravos — a primeira geração de hebreus pós-escravidão do Egito.

Assim, uma vez efetuado tudo que Deus exigia, “vieram os levitas, para exercerem o seu ministério na tenda da congregação, perante Arão e perante os seus filhos; como o Senhor ordenara a Moisés acerca dos levitas, assim lhes fizeram” (Nm 8.22). Os levitas não podiam estar diante do povo pelas suas próprias justiças, mas somente após terem os pecados “cobertos” pelo sangue da expiação de um animal, que apontava para o sacrifício perfeito de Cristo. Com isso, eles foram aceitos diante de Deus e o povo foi abençoado.

CONCLUSÃO
O caminho da perfeição moral e da pureza era perfeitamente possível ser palmilhado e, por isso, o Eterno legou aos hebreus inúmeras regras de conduta e adoração no Sinai, algumas das quais foram repetidas ao longo da jornada. O grande problema da primeira geração de hebreus é que, embora tenham saído do Egito, o Egito não saiu deles. Se a busca pela santidade tivesse se tornado a coisa mais importante para aquela nação, o fim da história dos que atravessaram o Mar Vermelho teria sido diferente.

Diante disso tudo, vale a pena lembrar que não se deve trocar bênçãos duradouras de sua vida por experiências de curto prazo. Afinal, Deus não nos chamou para ser felizes, mas para cumprirmos o seu propósito na Terra. Ocorre que, ao cumprirmos o propósito, a missão de Deus, Ele promove a verdadeira felicidade para o seu servo. Muitos em Israel não entenderam isso — abandonaram a vida de santidade — e todos que assim procederam ficaram prostrados no deserto.

*Adquira o livro do trimestre. ODILO, Reynaldo. Rumo à Terra Prometida: A Peregrinação do Povo de Deus no Deserto no Livro de Números. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.


1 RENOVATO, Elinaldo. A família cristã e os ataques do Inimigo. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p. 56.
2 HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. Rio de Janeiro: CPAD, 2016, p. 357-359.
3 BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2008, p. 308.
4 DANIELS, Robert. Pureza sexual. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p. 41.
5 DANIELS, Robert. Pureza sexual. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p. 47.
6 HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. Rio de Janeiro: CPAD, 2016, p. 361, 362.
7 HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. Rio de Janeiro: CPAD, 2016, p. 361.
8 WENHAN, Gordon J. Números: Introdução e Comentários. São Paulo: Vida Nova, 1985, p. 100.
9 SPRECHER, Alvin. Tabernáculo no deserto. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 127.

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Lidiane Santos

Correspondente pela sede desde 2013. Formada em serviço social e especialista em gestão pública municipal. Professora da Escola Bíblica Dominical.